sábado, 18 de junho de 2011

Maranatha (73)

VIII. RELIGIÃO

7. COMUNHÃO

"O pedinte da Sé entra para a missa e comunga ao lado de quem lhe deu esmola. Agora, são todos irmãos.
A quarentona ruiva é do campo, vê-se logo pelos trejeitos ao dialogar com a colega catequista, que é muito fina, muito da cidade.
Levam a cega pelo braço à comunhão. O neto brinca com a bengala da avó, ainda não tem idade para receber a hóstia. Olha para o estrangeiro, que faz hoje a sua profissão de Fé.
Do ponto de vista político, este cenário, que se repete todos os dias, permite duas leituras ambivalentes.
Primeira, e de algum modo invisível para nós, a Igreja surge como inimiga rebelde do status quo.
Foi desta forma que ela foi recebida em Roma. Os cristãos foram para os leões por afirmarem que os escravos eram irmãos dos patrícios, que as mulheres eram seres humanos de igual direito, etc.
Revolucionários, mesmo, só Cristo e S. Francisco.
De facto, só a Igreja se interessa verdadeiramente com a sorte dos mais pobres e do povo, em geral. Ela tem um mandato superior, ao qual não pode escapar.
Os partidos que lhe copiam o discurso são cínicos, quase sempre, mesmo no regime democrático, que defende os interesses da burguesia.
A segunda leitura é feita pelo político inteligente, conhecedor de Maquiavel. Interessa-lhe uma sociedade unida, que não sangre por isto e por aquilo; ele vê num cristão autêntico um glóbulo branco.
Onde é que há um cimento igual a este?
Não há.
O pedinte voltará a ser pedinte, à saída da missa. Porém, um rico católico tem gravadas na alma parábolas que o impedem da sangria anti-social.
Maranatha é uma sociedade hierarquizada porque é cristã; se não fosse, seria abominável, como o são as sociedades capitalistas, sem coração.
A Fé aduba, poda e tempera." - Mário Cabral in Diário Insular

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Uma ilusão chamada SCUT (1)

Modelo prova que SCUT´s não dão resultado positivo

Um modelo desenvolvido por si conclui que as SCUT de S. Miguel são negativas em termos económicos num cenário de médio/longo prazo. Pode explicar, em síntese, como chega a essa conclusão?

A questão deve ser recentrada de outra forma. Foi desenvolvida uma plataforma de modelização da economia dos Açores que permite realizar diversas simulações. Com base nesta plataforma foi realizada uma simulação do impacto do projecto SCUT em que se ponderam os impactos positivos resultantes da fase de construção como da fase operação contra os impactos que resultarão do reembolso do projecto que terá de ser feito através da redução de programas governamentais já existentes, com prejuízo para quem deles beneficia, ou através do aumento de impostos. Da criação deste cenário não resulta um impacto positivo líquido no horizonte estudado.

Que alternativas haveria para melhorar a rede de estradas de S. Miguel sem produzir efeitos económicos negativos, pelo contrário, induzindo efeitos económicos positivos?

Uma hipótese teria sido a análise de cada troço lógico, em função do tráfego esperado, ponderando os gastos com os proveitos potenciais, mesmo considerando as externalidades positivas e negativas. Uma obra mais modesta e dilatada no tempo poderia produzir efeitos mais vantajosos particularmente na fase de construção, evitando um cenário de abafamento dos sectores associados à construção de vias e evitando a criação de infraestruturas que terão uma utilização muito abaixo da intensidade adequada para equilibrar os custos aos benefícios.
A decisão final encerra sempre com a opção política, mas é indispensável saber-se qual o impacto do que se irá provocar.

Tendo em conta os cenários de actuação da chamada troika que já se conhecem, é de esperar que as SCUT venham a ser contabilizadas no orçamento regional? Se sim, quais serão as consequências?

A contabilização das SCUT e outras formas de compromisso público será feita em função de novos critérios de delimitação do perímetro do orçamento público. Este perímetro será aplicado às actividades do governo central, dos governos regionais e das autarquias. Na medida em que os projectos constituírem responsabilidade contingencial do Estado, terão de ser incluídos no orçamento. É uma questão que só será clarificada com as novas definições que serão adoptadas, em linha com o que já foi feito na correcção da conta do Estado de 2010.

Há mais parcerias público-privadas nos Açores, além das SCUT. Esses modelos são de incentivar nas ilhas por alguma forma (atendendo às nossas características específicas) ou devem ser descartados?

O modelo SCUT não deve ser descartado porque, em certas circunstâncias, traz benefícios. Deve antes ser analisado muito criteriosamente, caso a caso, pelo seu mérito específico e pelo impacto que terá na responsabilidade pública a prazo. Este exercício será melhor assegurado com os novos métodos de orçamentação e de controlo que serão introduzidos em Portugal a todos os níveis de governo.

Mário Fortuna in Diário Insular

Como já publiquei aqui, os números são estes: 325 milhões de euros, num período de 30 anos, com uma prestação média anual de cerca de 13 milhões de euros.
Veremos como vai ser quando chegar a primeira factura.

Maranatha (72)

VIII. RELIGIÃO

6. DEMONSTRAÇÃO, PERSUASÃO E COACÇÃO

"Os argumentos devem ser válidos, verdadeiros e bons.
A fé católica, entendida como um sistema, é demonstrável, ou seja, não tem contradições internas. Isto mesmo sempre foi confirmado pelos melhores filósofos de todos os tempos, incluindo o nosso.
Um sistema lógico não tem de ser verdadeiro, bastando-lhe ser válido. Certos lógicos divertem-se a inventar mundos perfeitos... mas que não existem, na realidade.
É fácil de ver que um sistema válido, mas de fantasia (ex. "Alice no País das Maravilhas"), é menos sólido que outro, válido e que é corroborado pela realidade. O Cristianismo tem um fundo histórico irrecusável.
Não há um sistema mais completo do que o católico; portanto, ele é o melhor.
Mesmo assim, não interessa à Igreja Católica ser apenas demonstrativa. Há uma espécie de coacção na prova lógica e matemática e no pensamento bem ordenado, em geral. Ora, o Cristianismo requer a liberdade e o amor, e obrigar alguém a amar é uma dupla contradição nos termos.
O discurso argumentativo não aquece nem arrefece: é aquilo que é, e pronto. Está certo ou errado, e mais nada.
A vida verdadeira é mais do que isto.
É a diferença que vai da filosofia à religião.
O discurso e a prática religiosa devem ser retóricos, persuadir e encantar pelo exemplo, cientes de que o homem, se quiser, teima que o branco é preto. A religião joga bastante no campo das artes - não é por acaso que sempre se deu bem com elas.
Daqui não se conclui que cada qual vai rezar o Credo à sua maneira. Quem é cativado, entende a lei da Cruz como redenção.
Em resumo:
(1) A fé católica é a Verdade.
(2) A Verdade deve ser vivida.
(3) Para ser vivida, a Verdade tem de ser amada.
(4) Amar é obedecer de livre e espontânea vontade." - Mário Cabral in Diário Insular

sábado, 4 de junho de 2011

Dia de reflexão

Hoje, mais que um dia de reflexão é um dia de trabalho.
Amanhã é dia de ir votar. O número de eleitor já está confirmado.
A reflexão já deu os seus resultados: aquela garrafa de espumante Bruto de Óbidos que esperava desde 2006 por um dia à altura para ser aberta, já está no frio.
Parafraseando Obama: yes, we can!

Maranatha (71)

VIII. RELIGIÃO

5. CATEQUESE

"A religião não é um faz-de-conta para crianças. É a rubrica mais séria de todas. Os modernos tentaram ridicularizar a supremacia dos assuntos sagrados - e conseguiram envergonhar muitos crentes.
Nada mais confrangedor do que ver os herdeiros da aristocracia espiritual atemorizados face à suposta ciência actual, ideologia burguesa e proletária, sem horizonte.
Há pouco tempo, ainda havia respeitáveis pais de família que, depois de um dia de trabalho árduo nos campos, se ajoelhavam atrás dos filhos para os ensinar a rezar o Terço.
É gente desta que desejamos em Maranatha: aliam natureza, trabalho e espírito numa espécie de cesto de vimes entrelaçado com finuras de arte.
A catequese é pilar indispensável na estrutura desta ambição. Não poderá estar entregue a raparigas acabadas de crismar e que baralham os fundamentos do Cristianismo com a vulgata "New Age" aprendida na televisão.
Os padres serão os catequistas preferenciais; assessorados pelos frades e pelas freiras e por velhos de vida beata reconhecida.
Turmas de sete, no máximo. Não copiem as pedagogices da escola pública! Aprenderão a "basezinha", sem complexos: a usar a água benta, a sussurrar na igreja, a ajoelhar-se em silêncio diante do Santíssimo, a saber de cor o Credo, etc.
E hão-de confessar-se.
E ficarão na missa, sem compromisso superior a este.
Nenhum licenciado de Biologia ou de História assustará a nossa excelência: saberemos explicar com lucidez os milagres, a virgindade de Nossa Senhora e as provas para a existência de Deus e da imortalidade da alma; relembraremos que, nas Cruzadas, estávamos a defender aquilo que era nosso, etc.
Não teremos medo da razão, nem mesmo quando ela assustar a fé com a dúvida." - Mário cabral in Diário Insular