VIII. RELIGIÃO
7. COMUNHÃO
"O pedinte da Sé entra para a missa e comunga ao lado de quem lhe deu esmola. Agora, são todos irmãos.
A quarentona ruiva é do campo, vê-se logo pelos trejeitos ao dialogar com a colega catequista, que é muito fina, muito da cidade.
Levam a cega pelo braço à comunhão. O neto brinca com a bengala da avó, ainda não tem idade para receber a hóstia. Olha para o estrangeiro, que faz hoje a sua profissão de Fé.
Do ponto de vista político, este cenário, que se repete todos os dias, permite duas leituras ambivalentes.
Primeira, e de algum modo invisível para nós, a Igreja surge como inimiga rebelde do status quo.
Foi desta forma que ela foi recebida em Roma. Os cristãos foram para os leões por afirmarem que os escravos eram irmãos dos patrícios, que as mulheres eram seres humanos de igual direito, etc.
Revolucionários, mesmo, só Cristo e S. Francisco.
De facto, só a Igreja se interessa verdadeiramente com a sorte dos mais pobres e do povo, em geral. Ela tem um mandato superior, ao qual não pode escapar.
Os partidos que lhe copiam o discurso são cínicos, quase sempre, mesmo no regime democrático, que defende os interesses da burguesia.
A segunda leitura é feita pelo político inteligente, conhecedor de Maquiavel. Interessa-lhe uma sociedade unida, que não sangre por isto e por aquilo; ele vê num cristão autêntico um glóbulo branco.
Onde é que há um cimento igual a este?
Não há.
O pedinte voltará a ser pedinte, à saída da missa. Porém, um rico católico tem gravadas na alma parábolas que o impedem da sangria anti-social.
Maranatha é uma sociedade hierarquizada porque é cristã; se não fosse, seria abominável, como o são as sociedades capitalistas, sem coração.
A Fé aduba, poda e tempera." - Mário Cabral in Diário Insular
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