domingo, 7 de agosto de 2011

Maranatha (79)

IX. CONCLUSÃO

3. O CONGELADOR

"E se a música tivesse parado na Idade Média, nos esplendores do gregoriano? "Una Furtiva Lagrima" não existiria.
E se diante da magnificência da escultura grega Miguel Ângelo se tivesse recusado a esculpir David?
E se depois de Leonardo não se imaginasse a poesia de Chagall?
Conclusão: tudo está por fazer. Há aqueles que gostam de afirmar que tudo já está feito - mas, por incrível que possa parecer são, com frequência, modernos. Olhando com atenção, faz sentido que assim pensem: primeiro, porque se viciam em combater, desfazer, desconstruir, destruir; depois, porque não acreditam na eternidade, ou seja, no futuro.
Ao contrário, para um conservador, o tesouro guardado no futuro vale tanto como o que já foi concretizado. Esperemos que em Maranatha não se confunda "conservador" e "congelador". Conservar as raízes serve apenas para procurar florescer bem para o alto, no azul das aves.
O congelador é um bom exemplo da excelência técnica moderna, contra a qual não teremos nada, por princípio. Quando uma alma contemplativa pensa em retirar-se do bulício das cidades contemporâneas, a custo imagina a sua cabana sem electricidade, por causa do frigorífico.
Desde sempre os homens procuraram o que está para além do horizonte. O velho do Restelo não é conservador... é velho. Ser moderno não é ser novo, que até o iluminismo é chão que já deu uvas. Em Maranatha vamos embarcar com o velho do Restelo a bordo; precisamos de ouvi-lo antes de toda e qualquer decisão séria.
O problema não está em avançar; aliás, o problema está em não partir. O busílis reside na imperiosa proibição de descermos um milímetro que seja da nossa condição de pessoas livres, trocada por um prato de lentilhas." - Mário Cabral in Diário Insular

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