domingo, 19 de julho de 2009

PECADOS CAPITAIS (24)

4. A INVEJA

4.7. JÓNATAS E SAÚL

"Há uma página da nossa cultura que é paradigmática no concernente ao vício da inveja e seu antídoto. É a história do rei Saúl e de seu filho Jónatas, em relação à unção de David. Saúl não tolera ser preterido pelo jovem David e tudo intenta para conseguir a sua ruína.
Ao invés, Jónatas, o herdeiro natural do trono, logo reconhece em David o novo monarca de Israel. Confessa-lhe a sua admiração e a vontade de o ver à frente dos destinos da pátria.
Os pais costumam sacrificar-se pelos seus filhos, os treinadores entregam-se por completo aos seus atletas e habitualmente dizia-se que «Atrás de um grande homem está uma grande mulher». Pôr-se ao serviço é uma característica de quem ama e o amor é o sentimento primordial do ser humano.
Mas Jónatas não tinha nenhum laço de sangue com David, que era, de forma óbvia, o seu adversário. Quantos de nós se sacrificam pelos filhos dos outros? No caso dos treinadores, poderá ver-se uma projecção egoísta. Jónatas abdica e desaparece atrás da sombra de David. Mais tarde, São João Baptista fará o mesmo, face a Jesus Cristo.
A abdicação do Eu por outrem é um movimento de alma tão raro que, só por si, aponta para a virtude contrária à inveja. Ser capaz de reconhecer um dom noutra pessoa já é admirável; mas tudo fazer para que esta qualidade, reconhecida, se fortifique e cintile, é sublime. A pessoa que assim age revela uma lucidez racional que prova estar acima de si própria, no patamar do herói e do santo.
Portanto, pôr os outros a brilhar nunca é sinal nem de fraqueza nem de mediocridade. A pessoa que serve os outros pode muito bem ter, para além destas qualidades excepcionais da doação, outros dons específicos que se esforça por desenvolver.
" - Mário Cabral in Diário Insular

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