V. EDUCAÇÃO
1. IDEOLOGIA E EDUCAÇÃO
"A educação é um dos piores mitos do sistema político saído da Revolução Francesa. Mito e tabu: quase não se fala do que é mesmo importante. Contudo, os filósofos pós-modernos colocaram o dedo em algumas das feridas.
Os iluministas acreditam que a educação vai libertar o ser humano das trevas da ignorância e permitir o progresso da Humanidade, através do desenvolvimento da razão. Há três equívocos aqui:
(1) - Não é óbvio que antes da Revolução Francesa só haja ignorantes;
(2) - Não é óbvio que as habilitações académicas façam uma pessoa melhor;
(3) - Já passaram duzentos anos e não é óbvio que os modernos tenham sido bem sucedidos.
Fizeram uma baralhação mais grave: para os antigos, o verdadeiro Conhecimento vai libertando a pessoa das preocupações imediatas da vida, abrindo-lhe a visão para campos cada vez mais amplos, até ao infinito, onde o ego vai desaparecendo, na lição de humildade que a autêntica Sabedoria promove. É o que Sócrates quer significar quando afirma: "Filosofar é aprender a morrer".
Esta concepção começou a mudar no Renascimento e está muito bem simbolizada na máxima de Francis Bacon: "Knowledge is power". Os modernos não procuram ser mais sábios; visam dominar melhor.
Quem é que acredita que a maioria vai para a universidade para se aperfeiçoar como pessoa?
O que leva as pessoas a este ou àquele curso é a ascensão social, pois a burguesia tem vergonha do trabalho manual.
Primeira conclusão: obriga-se todos a estudar, violando a liberdade.
Segunda: só se estuda o que tem utilidade; morte às Humanidades (cheiram a sacristia).
Terceira: temos doutores e engenheiros que não sabem nem ler, nem escrever, nem contar, nem pensar - pior: não são pessoas bem formadas." - Mário Cabral in Diário Insular
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