sábado, 8 de janeiro de 2011

Maranatha (51)

VI. JUSTIÇA E DEFESA

5. MINORIAS. TOLERÂNCIAS.

"Suponhamos que os canhotos decidem reivindicar um código de estrada que os permita conduzir pela esquerda. Admitamos que provam cientificamente a desvantagem que levam em relação aos dextros, protegidos pela lei. Daqui não se pode concluir da legitimidade da sua exigência.
Não pode haver dois códigos de estrada antagónicos. Ou se mantém a tradicional maneira de andar de carro, ou se mudam as regras para atender à minoria de esquerdinos; pois que interessa saber que estes são apenas 10% da população.
Nada garante que as maiorias tenham razão; mas também nada implica que as minorias estejam certas. Não é sensato pressupor que a maioria está errada, ou que pertencer à minoria é uma infelicidade.
Contudo, as provas a favor duma ideia ou dum comportamento social são lógicas, não matemáticas, por outras palavras, são qualitativas, não quantitativas. Ganha o argumento mais forte, com mais sentido, que leva mais longe. Deveria ser assim, em democracia.
Há sempre alguém que está descontente com uma lei. Isto não significa que a lei seja injusta. Mesmo a pessoa que não é favorecida pela lei pode entender os motivos racionais que subjazem à dita. Fumando ao frio, muitos fumadores compreendem a nova lei do tabaco.
Agora vamos imaginar que se proibiam as pessoas de escrever com a mão esquerda e que, nas salas de aulas, não havia daquelas cadeiras com tabuletas basculantes do lado esquerdo. Estaríamos diante de uma intromissão na privacidade, tanto mais grave quanto nenhum mal vem ao mundo por haver canhotos.
Muitas coisas podem tolerar-se, outras não. Não se pode tolerar a intolerância, por exemplo - é contraditório. A tolerância não é um direito; é, antes, a ausência pacífica dele." - Mário cabral in Diário Insular

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