terça-feira, 5 de abril de 2011

Maranatha (63)

VII. CULTURA

7. AS CASAS DE MARANATHA

"Não haverá apartamentos em Maranatha. As megacidades são insultos à dignidade humana, tabuleiros de colmeias que massificam e despersonalizam.
Não haverá ruas numeradas, de maneira descarnada. Os nomes das ruas serão significativos, a beirar a metáfora: "Ribeira do Mouro", "Canada da Arruda", "À Cruz", etc.
Cada família será proprietária da sua própria casa. As casas em ruínas serão restauradas para os pobres, acabando-se com as zonas de leprosos.
As casas terão, no máximo, três andares, com jardim à frente e cerca de um alqueire de terra atrás, para horta, pomar, criação de animais e afins.
É indispensável que todo o cidadão tenha o conhecimento concreto do bem natural, base da saúde política. A decadência está associada ao distanciamento da mãe Terra.
Nada como cuidar de um jardim ou de uma horta para perceber como as ervas daninhas não param de incomodar os arbustos e as rosas; e como temos de optar entre caracóis ou couves. Aprendemos os ritmos da vida, a saber esperar pelos tempos certos e o que significa enamoramento e vida de casal, observe-se os pássaros.
Haja em cada lar animais de estimação, daqueles que manifestam sentimentos de modo inequívoco - como os cães - para que fique provado à evidência que os valores não são invenção humana.
Nada de janelas grandes demais viradas para a rua, sem cortinas e portadas, porque uma casa guarda segredos. Caves e sótãos organizam a psique. Haja telhas, e não placas de betão. Cada qual individualize a sua fachada ora com barras coloridas, ora com cornijas, colunatas ou pérgolas.
Cuidado com os arquitectos; podem matar a cultura dum povo. Quem desenhou as nossas freguesias? E, no entanto, é difícil resistir à sua beleza primaveril." - Mário Cabral in Diário Insular

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