VII. CULTURA
9. LITURGIA
"Mesmo com as aberrações actuais, ainda nada consegue suplantar o sublime da liturgia católica... a não ser, talvez, a liturgia ortodoxa.
Nenhum sentido fica de fora, todo o corpo orientado para a transcendência do Mistério.
Desde logo, há as catedrais; só um bárbaro não estremece ao entrar num templo gótico, ou na Sagrada Família. A arquitectura das igrejas tem de abrir uma clareira para a alma sorrir, lembrada do Infinito.
Depois, a história da pintura e da escultura não passa sem os adros e os altares. Para honrar o Divino com música análoga à dos anjos, se desenvolveu a acústica, a ciência dos órgãos e do canto; e a música, de forma exponencial.
Nem é preciso acreditar ou provar a existência de Deus; basta pensar no que seria da arte e da cultura, em geral, sem o Cristianismo.
Quanto mais alto se coloca a fasquia, mais elevado é o salto. A Perfeição exige a desmesura do Sagrado.
Wagner, outro Fausto, tentou a Beleza Absoluta no paganismo de Bayreuth, que é o símbolo acabado do atrevimento moderno de separar a cultura de Deus. Na verdade, o teatro aproxima-se da liturgia... mas não se come!
Não é possível criar quando não se acredita nem sequer naquilo que se quer acreditar; e não se pode acreditar numa ideia, pois só o Mistério provoca a inteligência e a genialidade.
Um traço moderno característico é o riso diabólico que tudo corrói; de tudo se faz uma graçola. Bem decidiu Aristóteles em não escrever sobre a comédia, que trata da vulgaridade humana.
Uma pessoa habitua-se ao Mistério como a uma peça íntima de vestuário. Ele é indispensável à Sabedoria e à Arte. Não há pessoa completa onde não há adesão ao Mistério.
Em Maranatha, a liturgia voltará a ser o zénite cultural." - Mário Cabral in Diário Insular
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