VII. CULTURA
8. VARIAÇÕES
"A variação sobre um tema é quase inevitável, em arte, como, aliás, na Natureza, seja em termos materiais, formais ou de conteúdo.
Isto está relacionado com associar-se a originalidade ao maximamente novo ou à busca da fonte.
É frequente, na modernidade, o candidato a artista esbracejar na direcção do futuro aberto, como quem brinca à cabra-cega... mas o artista maduro vira-se para modelos tradicionais, procurando interpretar assuntos clássicos dentro da sua disciplina.
Há quem conclua que o velho artista perdeu a força criativa...talvez...; mas também é evidente que o jovem artista não é culto.
Na verdade, ser culto é integrar-se no húmus da Tradição, processo demorado e ininterrupto na senda das raízes. Estas devem estar mergulhadas numa terra específica, embora tal não signifique uma pátria, com o risco das obras ficarem marcadas pelo regionalismo, no sentido negativo.
Há poucas culturas de base: a hindu, a chinesa, a cristã... No caso da cultura ocidental, a grande maioria das obras-primas são variações sobre temas do Cristianismo.
Tome-se o exemplo de Manoel de Oliveira, um dos maiores realizadores de todo o sempre. Onde é que há, neste mundo, criador tão velho que seja tão novo? Portugal está entretido a consumir a decadência de Hollywood, quando tem dentro de portas a vanguarda mais primorosa.
Compare-se este exemplo com o pechisbeque do romance histórico, que nada tem a ver com a variação artística; na maior parte dos casos trata-se de subprodutos sem compreensão e respeito pelo passado.
A variação procura a essência cultural e, deste modo, é de altíssimo valor social. O político precisa sabê-lo, para justificar o subsídio a este ou àquele artista, a esta ou àquela obra." - Mário Cabral in Diário Insular
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