VIII. RELIGIÃO
2. BEM-ESTAR, FELICIDADE E VIRTUDE
"As sociedades modernas prometem bem-estar, convencidas de ser este o ideal do Homem. É fácil de ver que o bem-estar é um critério físico e material, que está longe de corresponder às exigências mais nobres da nossa condição.
Uma pessoa pode ter bem-estar e não ser feliz e, muito menos, virtuosa. Uma pessoa com "mal-estar" pode ser virtuosa e, inclusive, feliz. Como é evidente, não é preciso procurar o mal-estar para ser boa alma.
Certo é que se pode viciar os cidadãos no bem-estar, como o faz a segurança social, conduzindo-os à preguiça de não procurar um ideal mais aberto. Na actualidade, a coisa piorou, com a associação dum conceito recente e de alto risco fascista: o de "qualidade de vida".
Os americanos têm "qualidade de vida" e morrem de ataque cardíaco, a comer pipocas e a beber Coca-Cola em frente à televisão.
Um político arguto também não afirma que o que interessa é ser feliz. A felicidade, como é hoje entendida, é um desejo psicológico que tresanda a egoísmo. Para ser feliz, o José larga a Maria e os dois filhos e foge com a brasileira. Ou seja, a felicidade não leva sempre à virtude.
As religiões costumam promover a virtude e, por isso, são grandes aliadas da política. Censuram e proíbem o adultério, o álcool e as drogas, etc. Identificam o Bem com a comunidade e o mal com o egoísmo. Ensinam uma pessoa a controlar os seus instintos mais básicos e a treinar-se sem tréguas no sentido de identificar a felicidade com a virtude, e não com o egocentrismo.
Que mais pode desejar o político perspicaz? Ele teria de educar o povo neste sentido, se o povo já não estivesse ensinado pela religião.
Portanto, o político tem interesse em promover a religião, e não o bem-estar." - Mário Cabral in Diário Insular
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