IX. CONCLUSÃO
6. TEOCRACIA
"A nossa maior tentação será fazer de Maranatha uma teocracia; e, de forma enviesada, de temer a acusação de o sermos, como Pedro ao negar Jesus.
O conceito de teocracia é um pau de dois bicos; e os regimes teocráticos conhecidos não abonam a favor deste nome. À boleia de Deus praticam-se atrocidades diabólicas. Aliás, evitaremos todas as ideologias, máscaras hipócritas para conveniências animalescas. É a Justiça, fundamentada na Verdade, que devemos procurar.
Numa teocracia, as leis civis são as leis de Deus. Tal nunca aconteceu na Cristandade, ao invés do apregoado. Cristianismo que fosse teocrático proibiria o trabalho ao Domingo e teria de obrigar ao culto neste dia, e a pelo menos uma confissão por ano; à contribuição para as despesas do culto, etc.
Cristo foi claríssimo neste ponto: a César o que é de César, a Deus o que é de Deus. O Reino de Deus não é deste mundo e, em grande parte, entra em choque com ele. A norma que preside à vida cristã - a santidade - não é a norma da organização social: poucos procuram ser santos e esta busca tem de ser feita com uma liberdade que seria coarctada caso se tratasse duma norma civil.
A teocracia nunca interessou à Cristandade. O caso actual da China exemplifica bem porquê; foi sempre assim, com reis e imperadores a procurar interferir na eleição de bispos e papas, e a usarem os valores cristãos para camuflar interesses de classe.
Dito isto, uma sociedade justa, boa, inteligente e culta não pode evitar esta evidência: que a organização humana deve seguir a lei natural. Ora, a lei natural obriga, metafisicamente, à Transcendência.
O ideal seria uma "teocracia livre", ao estilo da Santa Madre Igreja... que não é um país, mas um povo." - Mário Cabral in Diário Insular