sábado, 4 de julho de 2009

PECADOS CAPITAIS (22)

4. A INVEJA

4.5. A ÁRVORE DA SABEDORIA

"A cultura ocidental abre – do lado judaico-cristão e do greco-latino – com actos de inveja referidos ao conhecimento. Adão e Prometeu avisam para o sofrimento maior derivado daí.
Roma amou a herança grega, que engrandeceu com o seu próprio talento prático; e a Cristandade aproveitou tudo o que havia de melhor no mundo antigo, insuflando-lhe espiritualidade. Mas o Renascimento virou-se contra si próprio, ao recusar a pujança ímpar da Tradição.
A modernidade é um erro, declarado pela pós-modernidade. Em traços largos, este erro define-se pela luta entre a metafísica e aquilo a que hoje denominamos ciência, e que não passa de pura técnica. A metafísica foi, até ao séc. XVIII, intitulada de ciência primeira, por garantir fundamento ao conhecimento. Kant tentou matá-la. O séc. XXI procura salvar o Ocidente com a ajuda dela.
Nunca houve mal nenhum na técnica, até esta decidir impor-se como alicerce da casa do Saber, o que é tontaria e perigo de morte. As mãos são uma benesse natural, quando assistidas pelo espírito; sem a cabeça, tornam-se facilmente assassinas. É o que está a acontecer.
Chama-se “positivismo” à inveja das Humanidades pelas ciências. Nasceu na altura da revolução industrial e passou pela ganância. Os seminários foram provocados pelos antigos liceus, que deram lugar às macaqueações de escolas, que hoje temos.
Primeiro, foi-se o Grego. Depois o Latim. A História é optativa. A Filosofia e a Literatura estão reduzidas a um pasquim esquerdista.
O iluminista só o é com base na sua ignorância da luz antiga. Ele sabe-o, na inveja íntima que tem do refinamento aristocrático… pelo menos nas conversas à hora do chá, onde gagueja.
Ao nosso tempo falta nobreza, altura, visão.
" - Mário Cabral in Diário Insular

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