sábado, 17 de outubro de 2009

PECADOS CAPITAIS (37)

6. A IRA

6.6. ARTE VIOLENTA

"A maioria da arte contemporânea está viciada na violência. O processo começou no séc. XIX e é autofágico, pelo que é lógico esperar, mais cedo ou mais tarde, por uma inversão de marcha.
Os artistas decidiram afirmar a arte pela arte, separando-se da cultura e da Tradição. Toda a cultura saudável identifica o Belo com o Bem e com o Justo. A Tradição sempre irmanou a obra de arte com a excelência técnica dentro dum determinado campo de actividade humana.
Mas os artistas caíram numa espécie de tentação adâmica e revoltaram-se contra este estatuto comunitário. Enjeitaram os cânones, entendidos como obstáculos à capacidade individual. Entenderam a originalidade como acto individual exclusivo, o que é descarada mentira.
Tornaram-se, pouco a pouco, espíritos de contradição. Deleitaram-se em desfazer as convicções do bom-senso, indo ao paroxismo de negar a obra bem feita, bela e tendente à eternidade.
O mal feito tornou-se moda. Nas escolas de Belas-Artes, ridiculariza-se quem tem jeitinho para o desenho. A mensagem está proibida; ou, quando presente, deve atacar os preceitos morais vigentes.
Ser criativo passou a significar ser destrutivo. Não vale apontar a indecência evidente desta prática, pois logo dirão os sábios da escritura que o artista é um rebelde na sua essência.
Mas vale apontar a contradição: já é possível afirmar que, com base nestes pressupostos, o artista de vanguarda será… conservador, revivalista, construtor técnico exímio, obediente a formas definidas e explicadas previamente.
Há grande infantilidade nesta arte: infantis os artistas que fazem o mal sem se darem conta, tolos os artistas que ficam sem critério de avaliação, permitindo o relativismo do vale tudo.
" - Mário Cabral in Diário Insular

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