sábado, 24 de outubro de 2009

PECADOS CAPITAIS (38)

6. A IRA

6.7. PACIÊNCIA

"A virtude correspondente ao pecado da ira é a paciência e a “paciência” é a ciência da paz.
Quem está com a razão não precisa de gritar e esbracejar, nem carece de usar palavras ou de se mexer para além do necessário. Basta esperar que passe a tormenta.
É fácil de compreender. A vida ensina que tal prática alcança a justiça. Porém, é dos comportamentos mais difíceis de praticar.
Por quê?
Em grande parte, a ira está ligada ao egocentrismo. Temos o rei na barriga, viciamo-nos no “Eu” particular, colocado no centro do mundo: em vez de reconhecermos que “estamos com a razão”, pensamos que “temos razão”.
Só uma pessoa assaz superior é capaz de se “des-centrar”. O tempo traz a prova. Nem os mais irascíveis se dão ao trabalho de brigar, passados anos sobre o motivo que os fez perder a cabeça.
À distância, é nítido que a fúria nos aproxima da inconsciência das bestas, que não são capazes de perspectivar para além da sua circunstância.
Por outro lado, a ira revela falta de esperança e, pois, medo. Tem medo quem não “com-fia”. Pensa ser único; logo, acarta com todas as responsabilidades. O egoísta tem uma carga injusta sobre os ombros; terá menos ataques do coração quando compreender que há mais mundo para além do seu corpo.
A esperança abre a paisagem até ao infinito. Tudo o que é humano fica pequeníssimo quando visto das estrelas, até a morte. Um astronauta que olhe para a Terra não compreenderá a guerra. A esperança reconhece a harmonia pré-estabelecida de tudo com tudo. É o contrário do egocentrismo. Por isso, quem tem esperança é leve, sorri, sabe que não tem grande importância no contexto… não perde a cabeça, não fala alto, não esbraceja.
À distância, o irado inveja o paciente.
" - Mário Cabral in Diário Insular

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