sábado, 5 de dezembro de 2009

PECADOS CAPITAIS (44)

7. ORGULHO

7.6. XADREZ

"Pedir ajuda, dizer sou fraco, estou em baixo, não sei fazer isto, estou cansado, não tenho esta qualidade, sou limitado… pedir ajuda, implorar auxílio – eis o que o orgulho impede uma pessoa de fazer.
E, no entanto, quem não precisa de auxílio, de ajuda, quem não tem limites ou possui todas as qualidades e sabe fazer tudo e nunca está em baixo e é sempre forte?
O orgulho é o pai da mentira.
Quem não gosta de pedir um favor liberta-se de fazer um favor. O orgulhoso não lança pontes de amor e, por isso, é gelado, mortífero. Usava-se a expressão: «Dever favores». Pelos vistos, agora ninguém deve favores.
Se o orgulho é a mão direita, o egoísmo é a mão esquerda. A cultura ocidental já teve ordens mendicantes, multidões de pessoas que optavam por viver da esmola. Hoje em dia custa a perceber que a rainha Santa Isabel da Hungria tenha abdicado do trono e implorado para ser pedinte.
Em Portugal, a sobrinha-neta – Santa Isabel de Portugal – impressionou a nobreza do tempo ao servir à mesa do bodo, como criada. O dia dos Açores ainda é a Segunda-feira do Espírito-Santo, o que já não faz sentido, pois nos Açores, e em Portugal, em geral, já ninguém precisa de ajuda, já ninguém é fraco, nem está em baixo; e todos sabem fazer tudo e têm todas as qualidades e, portanto, não têm limites e, portanto, não precisam de auxílio.
O progresso fez com que exijamos do governo os nossos direitos.
Sobraram as criancinhas que no primeiro de Novembro saem a pedir uma esmola, em nome de Deus. E, mesmo estas, um destes dias deixarão de sair com saquinhas de trapos nas mãos, pois é mais “in” acender velas dentro de abóboras e acreditar em vampiros e fantasmas, e não em Deus.
O xadrez deu lugar ao futebol.
" - Mário Cabral in Diário Insular

Sem comentários:

Enviar um comentário