sábado, 12 de dezembro de 2009

PECADOS CAPITAIS (45)

7. ORGULHO

7.7. PERDÃO

"Desculpa e perdão não são o mesmo. Se custa encontrar quem peça desculpa, de livre e espontânea vontade, ainda mais rara é a virtude do perdão, seja o de o pedir, seja o de o dar.
De certa forma, pedir desculpa é um acto ainda mais orgulhoso do que esquivar-se a fazê-lo. Na maior parte das vezes, teimar em não pedir desculpa é sinal de que a pessoa sabe, no seu íntimo, que foi responsável por uma ofensa a outrem. Este sentimento aponta para uma consciência moral viva e eficaz.
O tempo não volta atrás, e o que aconteceu não pode ser desfeito, como está implícito no acto de des-culpar-se. Pedir desculpa não treina a pessoa na humildade, como acontece com o perdão.
O perdão não é uma esponja que procure apagar o erro. Quem o pede declara ter sempre diante de si as suas faltas, pelas quais é responsável. Ser capaz de implorar perdão é o maior exercício de des-centramento.
Deste modo, pedir perdão é um acto revelador de maturidade – com efeito, as crianças não pecam. Um adulto que supõe não ter pecados é acriançado. Não tem consciência moral e, portanto, vira costas à liberdade.
Perdoar não é esquecer. Ser capaz de perdoar alguém significa ver-se ao espelho, reconhecer que é muito difícil a condição humana e que, por um motivo ou por outro, todos nós caímos várias vezes ao dia. É ser misericordioso. Pedir perdão e perdoar é não esquecer a Perfeição, ter sempre diante dos olhos a virtude absoluta, da qual não desiste, fingindo ser mais do que é.
O perdão é a luz racional mais forte de todas. E o perdão excelso é aquele que alguém é capaz de pedir na convicção cabal de não ter feito mal algum. Só o Amor é capaz de tal gesto sublime.
" Mário Cabral in Diário Insular

Sem comentários:

Enviar um comentário