sábado, 6 de fevereiro de 2010

Maranatha (3)

I. INTRODUÇÃO

3. AS DUAS CIDADES

"Uma é a cidade que temos, a outra a que devemos alcançar. É importantíssimo distingui-las e não excluir nenhuma delas. Os modernos cometeram os dois erros.
À primeira vista, parece que a cidade que devemos alcançar é o contrário da cidade que temos. Ilusão. O corpo e o pensamento também parecem opostos e são indissociáveis.
Uma comparação ajuda: imagine-se aquele jogo de força com base numa corda, cada equipa a puxar para o seu lado. A cidade que temos tende para a decadência natural, onde a pessoa humana deixa de o ser. A cidade que devemos alcançar serve de estímulo ao aperfeiçoamento, que nunca será completo neste mundo.
Maranatha é a cidade que temos, consciente da ambiguidade da natureza humana.
Os dois erros modernos foram: um, afirmar que as duas cidades eram lugares com naturezas distintas; outro, querer concretizar aqui e agora a cidade que está no infinito.
Locke, filósofo inglês muito lido pelos americanos, advogou a separação radical entre a política – a cidade que temos – e a moral – a cidade que devemos alcançar. Contratualista, é um dos pais do liberalismo e do capitalismo. Estas concepções descaracterizam a pessoa humana e são antisociais desde a essência.
Do outro lado, temos os comunistas, que forçaram a concretização da sociedade ideal contra todos os pressupostos da liberdade. O socialismo e a social-democracia são herdeiros do comunismo e tendem a sobrepor a igualdade à liberdade.
A Tradição tinha evitado estes excessos com mestria. Os conventos são imagens, aqui no mundo, daquilo que os cristãos chamam o “Reino”. Mas nunca ninguém foi obrigado a entrar num convento. A caridade, pilar insubstituível das religiões monoteístas, também não pode ser forçada.
" - Mário Cabral in Diário Insular

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