sábado, 13 de fevereiro de 2010

Maranatha (4)

I. INTRODUÇÃO

4. STATUS

"Os modernos denegriram o status a um ponto que até os conservadores têm medo de o defender. Cínicos; debaixo da capa da igualdade, a sociedade actual é das mais injustas alguma vez vista.
Identificaram a justiça com a igualdade, mas este princípio está longe de ser auto-evidente. Não parece razoável a ninguém que o pai e o filho tenham direitos iguais, assim como deveres; ou que o professor tenha estatuto igual ao do aluno; ou que o empregado esteja ao nível do patrão.
Alguém pode apontar aqui um equívoco: as pessoas são todas iguais face à Lei, que é geral, o que não significa que os papéis sociais sejam homogéneos. Porém, continua a ser discutível que a Lei seja formal e venha de cima, em vez de nascer da realidade tal e qual ela é.
A natureza e a sociedade estão repletas de diferenças: homens são diferentes de mulheres, crianças são diferentes de velhos; há uns que vivem no campo e outros que vivem na cidade; estes são preguiçosos, aqueles são trabalhadores…
A lei moderna arrasa com esta diversidade e impõe um pântano de relações despersonalizadas. Os seres humanos são transformados em números, sem rosto, sem nome.
Ora, ter estatuto é “ter um lugar”, é pertencer e, por isso, estar protegido pelos seus. Nas ilhas, ainda somos alguém, mesmo quando não somos grande coisa. A vantagem do status é que o louco de Angra é mais respeitado do que o filho do magnata em Nova Iorque, que ninguém sabe que existe.
…não é bem, assim, e é por isso que os modernos são indecentes. Em Lisboa, ninguém sabe quem mora no andar à frente, mas os políticos fraudulentos não vão para a cadeia.
São as classes inferiores que sofrem quando o status é aniquilado.
Em Maranatha, as escadas têm degraus.
" - Mário Cabral in Diário Insular

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