IV. ECONOMIA
10. JOSÉ
"José foi criado no orfanato. Os frades ensinaram-lhe as primeiras letras e os rudimentos do ofício de carpinteiro, treinado na oficina de caixões, trabalho com o qual arredondam as despesas do convento.
No liceu ampliou a arte e conheceu Augusta. Os pais dela não o viram como o melhor partido para a filha única, mas acabaram por se render ao seu carácter. Casou para casa deles, aos vinte e um anos.
Aos treze já era aprendiz de carpinteiro. Aos dezoito, a ordem fez-lhe um empréstimo para montar uma oficina na parte de baixo da casa dos sogros; o mestre foi fiança e padrinho de casamento.
Foi ganhando fama de grande artista e homem sério. Cumpriu prazos, cada peça que lhe saía das mãos era amada como se fosse a primeira e a última. Trabalho nunca faltou. Aos quarenta, abriu uma loja de venda de móveis, onde empregou as filhas.
Augusta deu-lhe quatro rapazes e três raparigas. O mais velho quis estudar e hoje é arquitecto, mas os outros três ajudaram no crescimento do negócio. Os gémeos acabaram por herdar a oficina e, em compensação, o pai ajudou o outro a montar-se por conta própria.
A filha mais velha teve uma paixão funesta na juventude, sendo mãe solteira. Morreu nova e Estêvão foi criado pelo avô, que o ama acima de tudo no mundo. Levava-o criança para a filarmónica, onde o rapaz ganhou o gosto da música. Está a estudar órgão e já ensaia na Sé.
José foi grão-mestre da ordem dos carpinteiros, maestro da banda e chamado a outros cargos de responsabilidade social. Agora, viúvo, é o conselheiro que está à frente dos destinos da cadeia de Maranatha.
Este exemplo de vida feliz é absolutamente verosímil e serve para provar que o sistema económico aqui defendido não é uma utopia." - Mário Cabral in Diário Insular
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