5. A GULA
5.2. DIETISTAS
"Invadem hospitais e escolas. São a última praga pós-moderna. Pretendem envergonhar a cultura tradicional portuguesa numa área de excelência. É preciso resistir-lhes com afoiteza e piedade, pois não têm noção da idolatria.
A maior parte não sabe cozinhar. É mais do que provável não o terem por basilar na sua licenciatura. A cozinha delas é tipo laboratório Míele. Facto é que para elas a cozinha é uma técnica. Misturam atum e arroz com base na contagem científica de calorias. Indignam-se porque os utentes sentem ânsias de vómito. Consideram-nos ignorantes, e mesmo bárbaros.
Salada sem azeite, talheres de piquenique (vêm em pacotes), pratos de plástico, pequenos e forrados a papel celofane; molhos levam ao inferno.
Reproduzem a decadência da gastronomia do Norte, paupérrima e, com efeito, doentia e sem requinte. Não compreendem porque é o Sul que tem mesa rica, se o Sul é pobre e atrasado.
Na verdade, porque hão-de Portugal, Itália e França ter boas mesas e melhores vinhos, e Alemanhas e Inglaterras só salsichas, pies e amburgas? Nem o critério do desenvolvimento, nem o critério económico são válidos.
Aceita-se o geográfico. Mas o factor escondido é civilizacional e religioso.
Os países católicos sabem comer porque desenvolveram a agricultura. Os protestantes viraram-se para a indústria e para o negócio; comem qualquer coisa. À mesa uma pessoa confraterniza, contrário de pastar como cavalos. Uma pessoa distinta não come calorias, muito menos sozinha. Comer é uma celebração. Por isso, as cozinhas dos conventos não são Míele.
Para que serve um corpo saudável sem crenças e alegria? Apodrecerá, seja como for. Nos conventos fazem-se jejuns, e não dietas. A diferença é de raça." - Mário Cabral in Diário Insular
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