5. A GULA
5.3. CERVEJA
"No geral, as crianças lutam contra o sono. Encantadas com a vida e com o mundo, cedem poucas horas à cama. Denomina-se “bebedeira de sono” a tentativa frustrada de não fechar os olhos da consciência.
Quando uma pessoa está muito entusiasmada com uma tarefa esquece-se de dormir. Acorda muito cedo e atira-se ao trabalho com gosto. A concentração anula o cansaço até onde é fisicamente possível.
Os apaixonados costumam perder o sono e também o apetite. A lógica é a mesma, sendo que poucos assuntos são mais interessantes do que uma pessoa, que é um novo mundo para descobrir.
O exemplo máximo é o dos místicos, cuja oração é o oposto do sono e da inconsciência. Em muitas religiões chama-se “iluminados” àqueles que atingiram o topo da sabedoria. “Iluminado” é o mesmo que “acordado”. “Velar” é quase sinónimo de “rezar”.
E velam-se os defuntos. Estar acordado é o contrário de estar a dormir, que é o estado mais semelhante à morte. No caso do ser humano, quanto mais vivo, mais consciente, ou vice-versa.
Ao contrário, um dos sinais da depressão é o bocejo e a indolência. Aliás, abrir a boca é sinal de sono e de aborrecimento, ao mesmo tempo. A monotonia e o desencanto convidam ao travesseiro. Muitas doenças requerem curas de sono.
Portanto, parece legítimo concluir-se que a vida, a consciência e a alegria estão dum lado, enquanto que a inconsciência, a tristeza e a morte estão do outro. Perder deliberadamente a consciência é um sinal negativo.
Quando se come de mais fica-se com sono. Por isso, quer as religiões, quer a filosofia aconselharam os neófitos a manter um regime de frugalidade.
O caso do álcool é evidente por si.
Os açorianos são os maiores consumidores de cerveja em Portugal." - Mário Cabral in Diário Insular
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