domingo, 1 de novembro de 2009

PECADOS CAPITAIS (39)

7. ORGULHO

7.1. O ORGULHO EM SI

"O orgulho é o desconhecimento total do amor. Amar é humilhar-se, com alegria. Mas o orgulhoso confunde tudo e pensa que é ser humilhado. Ele vê trevas onde só há luz. Exclama: «Eu sou mais Eu». «Non serviam» é a divisa de Lúcifer, que significa: «Não sirvo!». Com efeito, o Demónio não serve para nada.
O orgulho é, ainda, o pior dos defeitos porque se satisfaz consigo próprio. O preguiçoso lamenta a sua falta de vontade, o irado põe as mãos à cabeça depois da fúria; e assim por diante com os outros defeitos. Mas o soberbo levanta o queixo mesmo quando vê claramente visto que não tem razão. É teimoso. Prefere morrer a torcer.
O orgulho é soberba, soberba é vaidade, vaidade é tolice, lebre que pensa que nunca será ultrapassada pela tartaruga. A vaidade é ignorância porque não puxa por si, não avança, enrola-se sobre si mesma. O orgulho é autismo. O orgulho é escuro como o breu.
Está na moda falar de “amor-próprio” e de “auto-estima” e quejandos. Perversidades. Quem chegou à conclusão de que não vale nada quase sempre foi mal amado e precisa é que o abracem. Aconselhar alguém neste estado de alma a ver-se ao espelho como a madrasta da Branca de Neve é ciência de feira da ladra. Temos que ensinar as pessoas é a vir cá para fora, onde há a festa de roda. Dentro de nós é que começa o medo.
O orgulho é o início da loucura. A soberba é a ausência do princípio de realidade. Se todo o mundo seguisse o exemplo dos orgulhosos, os animais não acasalavam, as fêmeas não criavam os seus rebentos, as abelhas não polinizavam as flores e por aí fora. Em vez do tecido bem urdido que é a Natureza, teríamos átomos soltos a rebentar, de estéreis.
O orgulho é o pai da Morte.
" - Mário Cabral in Diário Insular

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