sábado, 5 de março de 2011

Maranatha (57)

VII. CULTURA

1. CULTURA E CIVILIZAÇÃO

"Distingamos cultura de civilização do seguinte modo: esta, é uma matéria tão-só humana; aquela, relaciona a Humanidade com a Natureza e a Transcendência.
Pode haver uma civilização inculta, embora esteja condenada ao fracasso. É o caso ocidental moderno.
Não pode haver uma cultura não civilizada. Seria uma contradição nos termos.
A civilização inculta vive obcecada com o desenvolvimento tecnológico e com o futuro. Logo, está permanentemente a morrer, às suas próprias mãos. Quando desaparece, de vez, não deixa nada atrás de si; pois quem é que deseja comprar um telemóvel que já saiu há dois anos?
Tende a ser nervosa, precipitada, a fazer mal feito, sem reflectir nas consequências - se bem que tenha muito boa impressão de si própria e se apregoe aos quatro ventos. É visionária e idealista, no sentido de utópica. Conduz à angústia e ao desespero; lançada no futuro, não oferece sentido aos dias do presente.
Ao contrário, uma cultura deixa para sempre um manancial de obras que só um bárbaro não tem por inestimáveis. Trocam o futuro pela eternidade.
A pessoa culta ama a herança do Passado, observa com espanto a lei natural, descobrindo atrás de tudo o sabor do Mistério.
Um conservador é culto e, por conseguinte, o homem mais civilizado de todos. Comparado com uma árvore, quanto mais fundo enraíza, mais para o alto floresce.
Coitados dos modernos, que aquilo a que chamam cultura não tem outro destino que não seja desaparecer nos abismos do nada, visto o ódio com que se atiraram à Tradição, que "desconstroem", como gostam de lhe chamar. Estéreis, verão o vazio; já estivemos mais longe deste dia. Cínicos, já criam o efémero, como se fora de propósito.
Maranatha vai ser uma cultura." - Mário Cabral in Diário Insular

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