VII. CULTURA
5. VANGUARDA
"Uma é a cultura, outra a arte. Pode ser-se culto e não apreciar arte. Muitos artistas são incultos.
Digamos que a cultura é a raiz e a arte a flor. Ideal é ambas estarem enamoradas.
A arte é, por natureza, vanguarda. O artista é obrigado a inovar. Aliás, a sensação de belo pressupõe a frescura dum contacto original com o mundo.
Esta condição gera muitos equívocos sociais e políticos, mortíferos para o artista.
Por exemplo, é comum o próprio criador confundir novidade e provocação, em especial nos tempos modernos, cuja história está carregada de escândalos.
Muitas das maiores revoluções artísticas passaram desapercebidas aos contemporâneos, haja em vista Fernando Pessoa.
Outras vezes, a religião, a moral e a política procuram dominar a arte, resultando produtos de terceira e quarta qualidade.
Actualmente, a arte sacra é de gosto medíocre, o que se prova com as nossas senhoras de Fátima comuns, que nem se podem comparar com o notável exemplar da igreja dos Biscoitos.
Por causa do dinheiro, os artistas fizeram-se ao gosto dos burgueses, que desenvolveram um masoquismo chique que os primeiros alimentam ("Pago-te bem se disseres mal de mim").
Em Maranatha vamos ter muita paciência com os artistas. Vamos olhar para eles de lado; na gaiola deixam de cantar, mas não ficam bem nos altares.
Não são de confiança.
Esperemos, pois neles explode, de repente, o génio, força natural que nem os próprios explicam, e que revela, em obra, o Infinito mais que humano, caro ao coração.
Por isso, valem o seu peso em ouro.
Por outro lado, não é fácil ser artista, ir sozinho à frente, às cegas, à escuta do borbulhar da Fonte.
É um destino trágico, não pertencem a nenhum dos lados que põem em contacto." - Mário Insular in Diário Insular
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