sábado, 5 de março de 2011

Maranatha (58)

VII. CULTURA

2. NATUREZA E CULTURA

"O pensamento ecológico esforça-se por desfazer o degrau óbvio que distingue a Humanidade do resto do mundo natural. Qual o tolo que não vê que somos animais? Mas também é evidente que nenhum chimpanzé se benze.
É uma doença reactiva ao progresso industrial moderno, que tudo indica está a perturbar o equilíbrio do planeta. Os verdes são pós-modernos, na medida em que já não acreditam no ideário burguês capitalista. Como tal, deveriam aproximar-se dos conservadores mas, como são ignorantes, confundem os tempos históricos.
Marguerite Yourcenar chega ao desplante de acusar a tradição de ser a causadora do afastamento da Natureza, referindo o "Génesis" como o lugar onde se assiste a este pecado, em concreto quando Deus declara Adão e Eva senhores do mundo criado.
Ela leu por alto o livro fundador do Ocidente, já que Deus pede a ajuda do Homem para cuidar do Paraíso, e não para o destruir, o que seria contraditório. Ela é uma menina da cidade, pois se tivesse uma vivência rural compreenderia que a cultura agrária estabelece íntima relação com a terra e o céu. Se ela não odiasse tanto a Idade Média, teria ouvido falar dum homem chamado Francisco de Assis, que conheceu um sucesso avassalador, até aos dias de hoje.
De maneira mais clara e sucinta: o ser humano faz parte integrante da Natureza, que não é o seu "meio ambiente", expressão que põe à mostra o cinismo ecologista. O homem culto não se opõe ao mundo, antes puxa a terra para o céu, tornando-a sublime.
Ao contrário, quando perdemos o horizonte infinito, emporcalhamo-nos na lama das sensações e não criamos nada que tire o fôlego.
O homem culto ama a Natureza; o ecologista não cumpre o papel espiritual que a Natureza lhe concede." - Mário Cabral in Diário Insular

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