5. A GULA
5.7. JEJUM E BODO
"Quase todas as grandes religiões instituíram o jejum. Juntas, as pessoas de fé continuam a ser a maior parte da Humanidade, pelo que se pode concluir que o jejum é uma prática normal do ser humano.
Há que distinguir “jejum” de “abstinência”. O jejum é a abstinência total de comida e bebida (com excepção de água), enquanto a abstinência respeita apenas alguns alimentos, por serem ou pesados ou caros.
São várias as razões para jejuar: médicas, desportivas, políticas, morais, etc. Mas é comum associar-se a palavra à religião, apontando, deste modo, para o motivo mais nobre e elevado, que consiste em lembrar que o que está dentro do coração é maior do que o que está dentro do estômago.
Por outras palavras, o jejum religioso visa evocar o destino próprio do ser humano, que continua a sentir que tem uma natureza que ultrapassa a carnal. Mesmo quando é marcado pela crença no Além, o jejum permanece vinculado à melhor organização social neste mundo; por exemplo, Gandhi jejuou em solidariedade com aqueles que passavam fome, e os católicos devem converter a poupança do seu jejum em esmolas.
Por tudo isto, “dieta” e “jejum” não podem ser mais opostos, embora pareçam idênticos. A primeira só se interessa com a saúde do corpo próprio ou, ainda pior, com a estética, sempre subjectiva. Paradoxalmente, a dieta, que tem fundo materialista, acaba por abominar o prazer da comida e a culinária como arte.
Ao contrário, as receitas conventuais são famosas, assim como os vinhos e as cervejas. E o Céu é descrito, no Evangelho, como um banquete, ideia ritualizada no bodo do Espírito-Santo, que é a festa fundamental da cultura açoriana.
Comer é uma festa; não comer é especificar que tipo de festa." - Mário Cabral in Diário Insular
5.7. JEJUM E BODO
"Quase todas as grandes religiões instituíram o jejum. Juntas, as pessoas de fé continuam a ser a maior parte da Humanidade, pelo que se pode concluir que o jejum é uma prática normal do ser humano.
Há que distinguir “jejum” de “abstinência”. O jejum é a abstinência total de comida e bebida (com excepção de água), enquanto a abstinência respeita apenas alguns alimentos, por serem ou pesados ou caros.
São várias as razões para jejuar: médicas, desportivas, políticas, morais, etc. Mas é comum associar-se a palavra à religião, apontando, deste modo, para o motivo mais nobre e elevado, que consiste em lembrar que o que está dentro do coração é maior do que o que está dentro do estômago.
Por outras palavras, o jejum religioso visa evocar o destino próprio do ser humano, que continua a sentir que tem uma natureza que ultrapassa a carnal. Mesmo quando é marcado pela crença no Além, o jejum permanece vinculado à melhor organização social neste mundo; por exemplo, Gandhi jejuou em solidariedade com aqueles que passavam fome, e os católicos devem converter a poupança do seu jejum em esmolas.
Por tudo isto, “dieta” e “jejum” não podem ser mais opostos, embora pareçam idênticos. A primeira só se interessa com a saúde do corpo próprio ou, ainda pior, com a estética, sempre subjectiva. Paradoxalmente, a dieta, que tem fundo materialista, acaba por abominar o prazer da comida e a culinária como arte.
Ao contrário, as receitas conventuais são famosas, assim como os vinhos e as cervejas. E o Céu é descrito, no Evangelho, como um banquete, ideia ritualizada no bodo do Espírito-Santo, que é a festa fundamental da cultura açoriana.
Comer é uma festa; não comer é especificar que tipo de festa." - Mário Cabral in Diário Insular
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