sábado, 26 de setembro de 2009

PECADOS CAPITAIS (34)

6. A IRA

6.3. MALEDICÊNCIA

"Falar mal dos outros é tendência muito difícil de controlar. Isto é bom, por um lado, pois revela que é fácil, para a maioria, aperceber-se de como alguém foge àquilo que deveria pensar, dizer ou fazer. A má-língua é, pois, um sinal de consciência moral digno de nota. Mais: convoca a relação. Há esperança para a Humanidade.
É pena que se baseie num equívoco: uma é a norma moral, outra é a pessoa humana; aquela é um princípio teórico, esta não é um princípio, mas um ser livre e, por conseguinte, em aberto.
Explicando: uma pessoa que faz hoje um disparate, amanhã pode melhorar a sua acção; a inversa também é possível: uma pessoa, até ao fim da vida, pode cair em tentação, quer dizer, pode agir de forma absurda.
Esta confusão gera outra, o que é comum nos erros: a lei moral não sai beliscada quando um sujeito a não cumpre. Mesmo que a maioria pratique o mal, o princípio teórico não é posto em risco. A regra moral deriva do raciocínio lógico que determina aquilo que é melhor.
Portanto, o que há a fazer, quando alguém se porta mal, é “chamá-lo à razão” – isto mesmo, demonstrar-lhe que o bem faz mais sentido. Não vale fazer duas coisas: nem falar mal da pessoa; nem denegrir o princípio moral.
Falar mal de si próprio é uma tendência muito difícil de encontrar. Isto prova, por dentro de nós, como é intrincado procurar ser perfeito. Se nos perdoamos a nós, porque não haveremos de perdoar os outros?
A maledicência pode ser gravíssima, quando é aleivosa. A calúnia não se limita a dizer mal; mente. Mata.
Dois preceitos antigos: «As pessoas medíocres falam de pessoas; as pessoas normais falam de factos; e as pessoas superiores falam de ideias»; outro: «Odiar o pecado, amar o pecador».
" - Mário Cabral in Diário Insular

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