segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

PECADOS CAPITAIS (47)

CONCLUSÃO

2. O SÁBIO E O SANTO

"A cultura ocidental tem uma dupla matriz: por um lado, somos gregos e romanos; por outro, judeus e cristãos. Estes dois passados tão diversos foram casados pela Tradição com desenvoltura. Por isso, não há cultura superior à nossa.
Da antiguidade clássica herdámos o naturalismo, com implicações morais relevantes. A racionalidade distingue o ser humano, ao mesmo tempo que é considerada a sua qualidade maior, pelo que a filosofia define o sábio como aquele que procura a excelência da vida espiritual. Este caminho só pode levar à virtude.
O Cristianismo sempre reconheceu o valor insuperável da filosofia grega. Os gregos conseguiram atingir os cumes da racionalidade natural, e até apontaram para a necessidade das explicações transcendentes. Mas a sabedoria antiga sabe a pouco quando posta ao lado da santidade cristã.
Para começar, os cristãos têm um Modelo transcendente e perfeito, que não se coaduna com os limites do mundo natural. Em segundo lugar, elegem a Paixão à inteligência. Por último, insistem no livre arbítrio, ideia que um filósofo grego a custo alcança.
Que bom que é ter herdado o pensamento lógico-dedutivo clássico! A razão, quando bem orientada, descobre o perfeito e mostra o infinito à vontade e ao amor. E é neste ponto que a desmesura do santo destrona a serenidade do sábio.
Santo Agostinho, patrício romano formado nas universidades gregas e considerado o princípio da filosofia medieval, fará o sublime resumo: a alma não descansa enquanto não encontra o seu Criador; está na natureza dela. Daí a exclamação: «Ama e faz o que quiseres».
A serenidade é aconselhada a quem se mantém con-centrado.
A desmesura só é permitida quando o Eu não está no centro.
" - Mário Cabral in Diário Insular

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