Só volto a este tema para falar de um caso real que acompanhei de perto e que revela bem o quanto ser empreendedor representa trabalhar para alimentar alguns parasitas, e como muitas câmaras municipais são uma bandalheira que urge pôr na ordem.
O caso conta-se em poucas palavras. O empreendedor em causa teve a câmara municipal do seu concelho como cliente pela primeira vez em dez anos. Apesar de durante esse tempo ter visto muito trabalho ser adjudicado, sem que se saiba muito bem como ou porquê, a outras empresas do mesmo ramo, nunca fez qualquer reclamação quer em público quer em privado, por motivos óbvios, e ficou convencido que talvez, na altura, as coisas estivessem mudadas, mais transparentes, e valesse a pena investir algum tempo e esforço para a manter como seu cliente.
Assim, concluído o trabalho entregou-o à câmara municipal com a respectiva factura em 2 de Outubro de 2008, havendo o compromisso do pagamento ser feito em 60 dias, já que este era o prazo imposto pela própria câmara. Nada mais falso.
Passados os sessenta dias não recebeu e descobriu que isso deveu-se ao facto de um engenheiro da câmara ter deixado a factura a grelar em cima da secretária durante aqueles dois meses.
Apesar deste contratempo, foi informado que o pagamento seria feito até ao fim de 2008, ou seja ao fim de quase 90 dias. Nada mais falso, mais uma vez.
No dia 31 de Dezembro o zeloso tesoureiro, invadido por uma inexplicável epidemia de preguiça e, admitamos, de alguma estupidez, em vez de fazer uma transferência bancária, decidiu emitir um cheque e telefonar para o empreendedor avisando-o que havia um cheque para levantar (admitindo que houve cheque).
Como este empreendedor, assim como os seus empregados, que, ao contrário do zeloso tesoureiro e respectivos companheiros de câmara municipal, havia passado o ano inteiro sem gozar qualquer ponte, além de muitos sábados e até alguns feriados e domingos, tinha decidido que naquele dia não se trabalharia e iriam estar com a família, o telefonema, se alguma vez existiu, não encontrou ninguém na empresa. Resultado, não recebeu mais uma vez.
Como passou de ano civil e a câmara municipal de orçamento, informaram-no que agora iria ser necessário um despacho de um vereador para que pudessem proceder ao pagamento, mas que isso seria uma formalidade rapidamente ultrapassável. Nada mais falso, novamente.
O vereador, como recebe o vencimento a 20 de cada mês, tinha na factura do empreendedor um assunto de baixa prioridade. Por isso só ao fim de quase mais dois meses se dispôs a assinar o despacho em causa.
A aventura estava quase no fim, mas ainda não terminara, faltava agora a assinatura do presidente da câmara municipal, coisa que numa sexta-feira era pouco provável de se conseguir. Não só era pouco provável como se revelou impossível.
Só houve assinatura hoje, segunda-feira, dia dois de Março, ou seja exactamente 5 meses depois de emitida a factura e 3 meses depois da data que a câmara municipal havia imposto ao empreendedor, e a si própria, para pagar.
Moral da história: se não os podes vencer, junta-te a eles.
Este empreendedor o melhor que faz é empreender uma busca de um emprego, de preferência naquela câmara municipal, onde poderá ser incompetente, desmazelado e preguiçoso, sem que algo de consequente lhe aconteça, tal como não aconteceu, nem acontecerá, ao engenheiro, ao tesoureiro e ao vereador.
Além disso só precisa de ir aparecendo durante 11 meses e ir disfarçando que faz alguma coisa, para que não se perceba muito que faz mais coisas por fora que na câmara. E enquanto houver empreendedores como ele que, feitos tolos, paguem impostos, terá sempre garantido 14 meses de vencimento. Poderá não ser um grande vencimento e terá até de engolir alguns sapos, mas para não fazer coisa alguma, e se fizer poder fazer mal, qualquer vencimento é bom.
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