sábado, 7 de março de 2009

PECADOS CAPITAIS (6)


2. AVAREZA
2.2. AS DORES DO RICO

"Ser rico não é um mal em si. No campo político-social, o rico pode ser uma ajuda comunitária na dinamização económica; na criação de emprego, por exemplo. Também é frequente o rico ser mais refinado que o pobre. O dinheiro compra muitos bens, entre eles a finura dos salões.
O rico pode ter uma conduta moral imaculada. Pode ver-se obrigado a ser rico por responsabilidade familiar, sacrificando um secreto desejo pessoal de independência face aos trabalhos de manutenção da fortuna. O rico pode ser um verdadeiro pobre no seu íntimo.
Mesmo assim, é um acrobata que atravessa um fio sobre um abismo sem fundo. Talvez chegue ao outro lado com elegância e coragem. Mas a paz interior custa a residir na alma do rico mais idóneo.
Para começar, as preocupações não lhe dão descanso; não tem tempo para mais nada. Nos melhores casos, em que é uma espécie de artista, investe, apaixonado, todas as suas energias no jogo do mundo, que é o mais instável que há, prova-o a situação da economia actual. O rico sabe-o bem e torna-se nervoso.
Para além disso, é natural à condição humana não parar a não ser no infinito e o rico tende a converter este horizonte em dinheiro. A riqueza vicia. A fome deste vício chama a tentação de ultrapassar barreiras morais, como a exploração do pobre.
As sociedades humanas estão organizadas de modo ao dinheiro dar poder. O poder sobre outrem leva à crença na superioridade, e à intolerância. O rico é conduzido a supor que o pobre é um chimpanzé.
Há ainda a desconfiança. «Só gostam do meu dinheiro», pensa o rico dos próprios filhos. Ou: «Vou ser roubado», em relação aos sócios.
O rico tende a ser cínico face ao Amor. Troca os valores absolutos pelos relativos." - Mário Cabral in Diário Insular


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