terça-feira, 10 de março de 2009

Incêndio em navio na Praia da Vitória

Por estranho que possa parecer a notícia mais interessante que encontrei hoje na imprensa local foi a do incêndio no navio porta-contentores no porto da Praia da Vitória. Deformação profissional que não posso evitar.
O acontecimento é muito interessante por três razões distintas:
1ª - O fenómeno em si
2ª - O seu combate
3ª - A análise de causas e consequências do fenómeno
Em relação ao fenómeno, devo dizer que apesar de todo o azar foi uma sorte o incêndio ter ocorrido com o navio atracado. Em alto-mar a probabilidade de ser fatal é sempre muito grande.
As causas do incêndio podem ser inúmeras. Uma coisa é certa: em dado momento estiveram em presença os três elementos do triângulo do fogo (combustível, comburente e energia de activação) e a inflamação aconteceu.
Depois de se criarem as condições para a formação do tetraedro do fogo, e para isso é preciso que se atinjam temperaturas que mantenham a reacção em cadeia, em poucos minutos a situação torna-se incontrolável. Num navio existe tudo para que o risco de incêndio seja sempre elevado e para que, depois de acontecer se torne fatal: grandes cargas térmicas, tintas, vapores e gases e espaços confinados. Estes últimos proporcionam a formação de atmosferas perigosas, mesmo em situações que não envolvem fogo.
O combate deste tipo de incêndios é por regra complexo, quer devido às altas temperaturas que se atingem no interior do compartimento de incêndio, quer devido à formação de gases e vapores que são muitas vezes, além tóxicos, altamente inflamáveis.
É comum encontrarmos em navios sistemas de extinção automática com recurso a espumas. Não sei se seria o caso deste. Tratando-se de um espaço confinado, as espumas de alta expansão são o meio mais eficaz para a extinção do incêndio. Estas espumas são caracterizadas por uma grande capacidade de absorver energia. O abaixamento das temperaturas que provocam, aliado à asfixia que se pode provocar mantendo fechado o compartimento de incêndio, acabam por permitir a sua extinção. O processo pode ser mais ou menos lento em função de vários factores, como sejam, por exemplo, o volume do compartimento de incêndio e a carga térmica em presença.
No caso presente o incêndio teve início ontem e hoje de manhã ainda não estava extinto.
Quanto à análise de causas e consequências, certamente quem a fizer começará pelas causas e sem conhecer o caso em concreto tudo o que possa dizer não passará de especulação.
Já quanto às consequências há uma que é inevitável: aquele navio terá de sofrer uma reparação enorme, se não ficar mesmo irreparável.
É que os navios hoje em dia são de aço e este material tem um péssimo comportamento ao fogo. Quando sujeito a temperaturas acima do 350 ºC perde a maioria das suas características químicas e mecânicas e, quando isso acontece, o destino do aço é a sucata.
Pelo que ouvi na rádio, foi feita a monitorização da temperatura das anteparas do navio durante o combate ao incêndio e ontem registaram valores de 500 ºC. De manhã já eram só de 50 ºC.
Já agora, ºC são graus Celcius e não centígrados. Centígrada é a escala dos graus Celcius. É só um pormenor, mas é uma das vulgares asneiras que se ouvem a par do bilião.

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