sábado, 21 de março de 2009

PECADOS CAPITAIS (8)


2. AVAREZA
2.4. USURA

"Deve-se evitar pedir dinheiro emprestado, diligenciando por viver de acordo com aquilo que se ganha. Todo o empréstimo condiciona a liberdade do devedor. Porém, a vida nem sempre é simples e uma pessoa pode ser levada pelas circunstâncias a pedir ajuda económica. Se for a um amigo, este não cobrará juros, sentindo-se até insultado com alusões neste sentido.
Nas relações próximas, percebe-se bem porque é que os juros e a usura ensombram a moralidade, mesmo quando se perspectivam os factos do lado de quem empresta. É óbvio que emprestar dinheiro a um amigo, sem cobrar juros, é um acto meritório; contudo, a tentação de subjugar será constante; por exemplo, se quem empresta achar que o dinheiro emprestado está a ser mal gasto.
A maior parte de nós endivida-se para adquirir bens inúteis. Hipotecamos, assim, a nossa liberdade, tendo que viver para trabalhar para pagar os juros aos bancos. Neste caso, há um contrato, o que, de certo modo, alivia as tentações morais, na medida em que a nossa relação com os bancos não é pessoal – digamos que saímos do nível do coração/moral para o nível da razão/política.
Mas até onde é legítimo ganhar dinheiro emprestando dinheiro? Esta não é uma relação igual, mesmo que o contrato seja assinado entre adultos: um dos contratantes produz trabalho; o outro não. Até que percentagem é lícito subir os juros? E será aceitável que um empréstimo para uma doença seja tratado de modo igual a um empréstimo para habitação, e a um terceiro, para um negócio?
O liberalismo é superlativamente defeituoso. Aproveitando-se da fraqueza humana, que espicaça, dá origem a sociedades onde a riqueza perde a relação com o trabalho e com a realidade. Cai de podre." - Mário Cabral in Diário Insular

Sem comentários:

Enviar um comentário