O título deste "post" reproduz a inscrição existente no leme da NRP Sagres, navio que visito sempre com grande emoção por a ele estarem ligadas duas gerações de homens da minha família. A última vez que tive a honra de pisar o seu convés foi em 2003 em Angra.
Esta recordação e a citação do título, que muito diz a toda a família da nossa Armada, vem a propósito da descoberta ontem do blog "Luís Graça & Camaradas da Guiné" onde fui encontrar uma referência ao episódio de guerra ocorrido em Agosto de 1973 no qual o meu pai, Patrão da LDM 113, Cabo Manobra nº 2404, Jorge António Pereira, morreu na Guiné juntamente com um dos seus camaradas.
Apesar das circunstâncias das quais os militares daquela geração e suas famílias foram vítimas, conforta-me saber que morreu entre homens generosos e corajosos que o recordam tanto como nós, sua mulher e filhos.
Não se pode dar mais pela Pátria que a nossa vida e pelo menos os seus camaradas da Armada reconhecem-no.
Os tempos da guerra foram indescritíveis, para quem lá combateu e para quem em Portugal vivia na angústia permanente de nunca saber quando a morte lhe bateria à porta.
A somar a tudo isso a vida encarregava-se de nunca nos deixar esquecer o preço que pagávamos por sermos quem éramos: o meu pai partiu para a Guiné no dia do aniversário da minha mãe, em Fevereiro de 1973, de Agosto a Outubro continuámos a receber a sua correspondência enquanto esperávamos pelo caixão que supostamente trazia o seu corpo (digo supostamente porque nunca foi aberto), o funeral realizou-se em Outubro no dia do seu aniversário e finalmente recebemos o seu espólio.
Hoje os lutos duram alguns dias. Naquela época duravam meses, às vezes anos. Hoje há apoio à vítima. Na época, eu com 10 anos e os meus irmãos com 19 e 8 anos respectivamente, quase nem apoio monetário tivemos quanto mais psicológico. Cada um sarou as feridas o melhor que pôde e soube.
Tenho agora mais idade que tinha o meu pai quando morreu na guerra. Consigo agora ter uma perspectiva racional do assunto e não ter ressentimentos nem grandes angústias. Quero estar bem com o meu país e com sua História e faço por isso.
O país tem também de fazer a sua parte. Colocar estes Homens, dispostos a abdicar de ver crescer os seus filhos, do conforto dos seus lares e ao sacrifício das suas vidas, ao mesmo nível que um qualquer obscuro funcionário, que numa qualquer obscura repartição de Finanças nos cobra impostos, tantas vezes de forma indolente e mal-educada, é no mínimo ofensivo.
As Forças Armadas são, para além de instrumentos de soberania, a imagem da dignidade de um país.
País que não honra os seus militares não é digno da sua História.
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