domingo, 30 de novembro de 2008

Autonomia como projecto nacional

"Dentro dum conjunto de amigos temos contribuído para cimentar a ideia de que a autonomia deve estar na Constituição. E é frequente ouvir-se dizer que a autonomia deve estar consagrada na Constituição porque a autonomia é uma questão política. Mas seja feita justiça: nunca se deve dizer apenas que "o sistema deve estar consagrado na Constituição porque a autonomia é uma questão política", e nunca se diz isso porque isso não é exactamente certo. Evidente que a autonomia é uma questão política, mas também o é nascer ou fazer parte do recenseamento eleitoral, ou votar ou não votar. Pode dizer-se que deve estar na Constituição porque é uma questão política, mas isso sabe a pouco. Questão política, porquê?" Arnaldo Ourique in Diário Insular

Para quem se interessa pelas questões da Regionalização e da Autonomia, recomendo a leitura do texto de Alnaldo Ourique publicado na página 25 da Revista do Diário Insular de hoje.

sábado, 29 de novembro de 2008

Que estratégia para a Terceira nos próximos 4 anos?

“O aumento da população que se verificou entre 1991 e 2001 não se distribuiu equitativamente em todas as ilhas dos Açores.(…) Esta tendência de concentração de população à custa de migrações internas está a contribuir para a desertificação da generalidade das ilhas dos Açores e configura um dos mais preocupantes problemas da coesão regional.” Aníbal Pires in A União

Eu diria mais: configura uma preocupante tendência para transpor, a nível regional, muito do que sempre se criticou ao centralismo de Lisboa.

Aníbal Pires no artigo publicado n’A União do qual transcrevi o excerto acima, levanta, em minha opinião, o que considero ser o maior problema da Região actualmente: a concentração da maioria da população numa única ilha (S. Miguel com 54,5%) e consequente desertificação das restantes, em especial das mais pequenas, pois da restante população que não se concentra em S. Miguel, cerca de 50,6% está na Terceira (com cerca de 23,1% do total). Ou seja, temos mais de 77,5% da população em 2 ilhas.

O fenómeno de diminuição da população residente verifica-se desde 1960. No período entre 1960 e 2001 a Região perdeu 85.693 habitantes, cerca de 26%.

No mesmo período S. Miguel perdeu 37.078 habitantes (cerca de 22%), a Terceira 15.777 habitantes (cerca de 22%) e o Faial 5.210 habitantes (cerca de 26%). Mas os piores valores percentuais verificam-se nas ilhas mais pequenas, com destaque para S. Maria que perdeu 7.655 habitantes (cerca de 58%).

Além dos problemas sociológicos ligados à desertificação e ao envelhecimento da população, há os problemas económicos associados, pois havendo menos gente, produz-se menos, consome-se menos, pagam-se menos impostos.

O impacto da diminuição da população não é igual em todas as ilhas e neste momento só uma ilha tem, em minha opinião, “massa crítica” para sustentar um mercado interno viável: S. Miguel.

Tem beneficiado sempre do seu tamanho, do facto de sediar a maioria dos serviços e empresas públicas, das políticas de transportes (aéreos e marítimos) e beneficiou em larga medida do investimento público entre 1991 e 2001, período em que registou ainda um aumento de população (cerca de 4,5%). Apenas o Corvo cresceu mais (cerca de 8,1%), mas em termos absolutos este valor percentual não tem qualquer impacto nesta ilha.

A ideia actualmente tão na moda na macro-economia de que é preciso exportar em detrimento do consumo interno, faz sentido no nosso território continental, pois não sofre da descontinuidade territorial da Região e apesar de tudo está mais perto dos mercados consumidores europeus para onde exporta.

Em ilhas, o mercado interno é determinante: cada ilha tem necessidade de ter uma “massa crítica” mínima para sobreviver, caso contrário a alternativa será tornarmo-nos todos assalariados do Estado o que não é nem desejável, nem viável.

Traduzindo, cada ilha tem de ter população suficiente para que possa não só produzir, mas para que possa também internamente consumir.

E aqui, mais uma vez, o artigo de Aníbal Pires é pertinente, pois a inversão deste cenário não é possível apenas a partir da população residente mas sim com recurso à imigração.

Centremo-nos agora na Terceira, e com a tomada de posse quer do novo Governo, quer dos deputados na ALR, penso ter chegado uma boa altura para questionarmos os políticos locais (da Terceira) sobre estes problemas.

A tal “massa crítica” para o mercado interno começa a dar sinais de falhar. A tão difundida frase “Angra, capital açoreana da Cultura” deixou há muito de fazer qualquer sentido.

Angra e a Terceira têm de olhar para Ponta Delgada e para S. Miguel e decidir, pondo de parte alguns tipos de rivalidades irracionais sem sentido (não todas, apenas estas), se quer acompanhar o desenvolvimento que estas últimas verificaram nos últimos 20 anos ou se pretendem definhar e continuar a acreditar que a Base é a solução para o seu desenvolvimento.

Queixamo-nos muitas vezes que as sedes de tudo e mais alguma coisa vão para lá. E se alguns dos serviços e empresas se quiserem sediar cá, teremos gente em número e qualidade para isso?

Precisamos de mais gente e de mais empresas. De mais gente qualificada, de empresas que incorporem o que agora se designa por I&D. Precisamos também de dar algum sentido ao facto de termos um pólo universitário (que cresce e remodela-se a uma velocidade inferior à dum caracol) e à formação contínua de quadros no activo.

É preciso acordar a sociedade civil. É preciso também não deixar a classe política amolecer no conforto de estar à mesa do poder e dos nossos centralismos.

Praia da Vitória vai produzir biodiesel



A notícia de que a Praia da Vitória vai produzir biodiesel a partir de óleos usados é uma boa notícia para a Terceira e, infelizmente, deixa Angra do Heroísmo a marcar passo com os seus actuais problemas.

Tanto mais por se tratar de uma medida que nada tem de vanguardista, não tem de recorrer a tecnologia cara e complexa e está a generalizar-se em dezenas de municípios do país (dos 308 municípios, encontrei pelo menos 79, cerca de 26%, que integram já projectos semelhantes).

Ou seja, a Praia da Vitória não está a fazer mais do que cumprir a sua obrigação para com os seus munícipes.

Continuo, por isso, sem estar convencido da necessidade da existência de uma empresa municipal para, entre outras coisas, produzir 100 litros/dia de biodiesel (capacidade da unidade que vai adquirir).

Para além disso, num espaço geográfico como o nosso toda a gestão de resíduos devia ser integrada, em minha opinião, como já acontece com o aterro sanitário inter-municipal.

Roosevelt na Horta

Os Açores não deixaram indiferente o político que se autoqualificava de "homem do mar" e que, numa conferência de imprensa em 1945, afirmaria, a propósito da localização da sede da ONU, desejar que no edifício "do tipo do Empire State Building, de Al Smith", apenas ficassem "os arquivos e o respectivo pessoal" e "muitas das conferências" se realizassem "numa das ilhas dos Açores". E justifica: "Já lá estive uma vez. (...). Têm um clima maravilhoso."Mas não foi só o clima e a paisagem açoriana que cativaram Roosevelt. Ele compreendeu como ninguém o valor estratégico do arquipélago e, em discurso proferido em Ponta Delgada durante a sua visita há 90 anos, sublinhou isso mesmo ao afirmar que "Portugal entrou na aliança europeia, mas os Açores fazem mais do que isso, pelas condições especiais da sua posição estratégica". in Diário de Notícias

Hoje, enquanto conduzia para o trabalho, ouvi na Antena 1 uma referência ao desejo deste político de excepção, que esteve na Horta em 1918, sobre a localização da sede da ONU na Região.

Achei-a curiosa e deixou-me a pensar que país e região teríamos hoje se aquele desejo se tivesse concretizado e tivéssemos hoje a sede da ONU na Horta.

Afinal a História repete-se, ao contrário do que julgamos.

Por isso continuo a questionar-me: que região teríamos hoje se o Governo tivesse sido instalado nas Flores em vez de em S. Miguel, se a Universidade estivesse no Pico em vez de em S. Miguel, na Graciosa em vez da na Terceira e em S. Maria em vez da no Faial, e o parlamento estivesse em S. Jorge em vez de na Horta.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Finanças açoreanas com boa classificação

"O ritmo de crescimento económico registado nos Açores assegura à Região capacidade para garantir o cumprimento das suas responsabilidades financeiras. A afirmação consta de um relatório de notação financeira agora divulgado por uma das principais agências internacionais da especialidade, a Moody’s." in Diário Insular
Algum discurso optimista também faz falta.
Esperemos é que não seja apenas uma situação conjuntural e que tenham tido em consideração que a Região tem 9 ilhas.

A Festa das Cigarras

"De repente – “virá que eu vi” – o governo subsidiado do exterior deixará de ter dinheiro para pagar os funcionários regionais da cidade que, in extremis, se transformará no Topo da Ilha Terceira, cheio de história e de ruína, sem água e sem porto, sem vocação e sem sentido." Tomaz Dentinho in A União
Faz-me lembrar um amigo meu que me costuma dizer que a Terceira agora converge sim, mas para S. Jorge (maravilhosa ilha, que merece mais).

Saudaçor deve milhares a fornecedores

"A Saudaçor deve milhares de euros a fornecedores e está a camuflar as dívidas do Sistema Regional de Saúde." Notícias RTP Açores
Ainda ninguém me convenceu da utilidade deste tipo de sociedades que, a par das empresas municipais, servem apenas, em minha opinião, para contornar os constrangimentos impostos ao endividamento e para compor as contas do Governo e das Câmaras à custa das empresas e dos contribuintes.
Tenho grandes dúvidas se os tão propagandeados superavit da Região existiriam se a Saudaçor não tivesse absorvido os crónicos prejuízos do Sistema Regional de Saúde.
Sabemos que o Sistema Regional de Saúde tem de ser financiado e que é sempre deficitário, tal como o nacional. Até aqui tudo bem. Não queiram é enfeitar as contas. Assumam-nas.

Com ataque terrorista à maior democracia do Mundo, a Índia, fica provado que a barbárie tomou definitivamente conta de uma parte significativa do mundo islâmico.
Quando será que esta parte importante da civilização humana, a quem a Europa deve muito pelo contributo que deu para o fim da idade das trevas, e que tantas vezes deu exemplos de tolerância, mesmo quando esteve no papel de invasor, sai ela própria do obscurantismo?
A estupidez e os erros dos americanos não podem continuar a ser a justificação de actos que não passam de violência gratuita, desprovida de qualquer conteúdo ideológico e muito menos religioso.

Avaliação dos professores - nova proposta

Com a proposta de avaliação dos Professores avançada agora pelos sindicatos começo a ficar tentado a dar razão ao blog "O Coiso" que num post de 9 de Novembro p.p. parecia adivinhar o que foi agora tornado público.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Os nossos transportes marítimos

Os folhetins da novela "Transportes Marítimos nos Açores" continuam a aparecer na imprensa. São tantos e tão repetitivos que já ninguém lhes liga.
Não fosse um assunto sério e do interesse geral da população, poderia ser usado numa qualquer comédia, pois alguns chegam a ser hilariantes.
Continuo à espera do dia em que o Governo Regional (do PS ou do PSD, pois as asneiras têm sido feitas por ambos), torne possível viver nas Velas e trabalhar na Horta, ou viver nas Lajes do Pico e trabalhar na Calheta (seja com navios ou com aviões), dando forma ao potencial que o triângulo tem, não só para aquelas ilhas mas para a Região, e que a classe política teima em não ver.
É urgente fixar gente naquele espaço e só com mobilidade isso será possível. Até lá, acompanhemos os folhetins dos navios que chegam e não navegam, que navegam e não atracam ou que atracam e já não navegam porque têm rombos ou chumbam nas inspecções.
Querem um eleitorado mais pacífico ainda? Não conseguem. Mais abstencionista, talvez.

Sr. Alcides



Acabo de ler no blog :ILHAS a notícia da morte do Sr. Alcides. Como ali é referido, desaparece um dos mais carismáticos ícones da cidade de Ponta Delgada, que com a família sempre nos soube receber quer no restaurante, quer na residencial como anfitriões duma hospitalidade inultrapassável.

Os meus sentidos pêsames.

O assalto continua

O Diário Insular publica hoje um Editorial e uma notícia da iniciativa do CDS/PP na Assembleia da República sobre as passagens aéreas entre os Açores e o Continente (o problema das passagens internas não é menor!).
Porque será que só aquele partido tem insistido em colocar na agenda política um assunto que precisa ser resolvido com urgência?
Será que para a restante classe política, o facto de lhe bastar ligar à secretária para fazer reservas de passagens é suficiente para se esquecer que outros cidadãos pagam quase € 300,00 para irem a Lisboa? Quase metade daquele valor são taxas!
Se hoje é possível viajar nas companhias nacionais para muitas das capitais europeias por valores entre os €70,00 e os € 80,00, alguém anda a ganhar muito dinheiro connosco.
No referido editorial é feita, e bem, referência às SCUT's (e eu incluiria no mesmo pacote as de S. Miguel). Ou se entende a coesão territorial passível da aplicação de medidas necessárias e aplicáveis a todo o país, sem excepção, ou então pagamos todos e assim as SCUT's, os subsídios à Carris e aos Metros, etc., devem deixar de existir.

Dia do Exército

Faz hoje um mês que se comemorou o Dia do Exército em Faro. Como sempre os Pupilos estiveram presentes com o nosso Porta Bandeira e o nosso lema "Querer é Poder".
Compareceram também as outras duas escolas irmãs, Colégio Militar e Instituto de Odivelas (os dois primeiros elementos do pelotão visíveis da esquerda para a direita na primeira foto).
Orgulhosos filhos da República, aproximamo-nos do nosso 1º Centenário: 25 de Maio de 2011.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

MMS

A União de hoje publica uma entrevista com Eduardo Correia, líder do MMS Movimento Mérito e Sociedade. Será que vem aí um novo PRD?

"A Pátria Horae que a Pátria vos Contempla" (2)

Na sequência do meu último "post", e para encerrar este mergulho em recordações que, não obstante amargas, vão mantendo vivos elos de amizade e lealdade, deixo aqui o caso do António Mota (o meu camarada 21 de Máquinas dos Pupilos).
O luto pelo meu pai durou meses, o do Mota pelo seu durou 34 anos.

domingo, 23 de novembro de 2008

"A Pátria Horae que a Pátria vos Contempla"

O título deste "post" reproduz a inscrição existente no leme da NRP Sagres, navio que visito sempre com grande emoção por a ele estarem ligadas duas gerações de homens da minha família. A última vez que tive a honra de pisar o seu convés foi em 2003 em Angra.
Esta recordação e a citação do título, que muito diz a toda a família da nossa Armada, vem a propósito da descoberta ontem do blog "Luís Graça & Camaradas da Guiné" onde fui encontrar uma referência ao episódio de guerra ocorrido em Agosto de 1973 no qual o meu pai, Patrão da LDM 113, Cabo Manobra nº 2404, Jorge António Pereira, morreu na Guiné juntamente com um dos seus camaradas.
Apesar das circunstâncias das quais os militares daquela geração e suas famílias foram vítimas, conforta-me saber que morreu entre homens generosos e corajosos que o recordam tanto como nós, sua mulher e filhos.
Não se pode dar mais pela Pátria que a nossa vida e pelo menos os seus camaradas da Armada reconhecem-no.
Os tempos da guerra foram indescritíveis, para quem lá combateu e para quem em Portugal vivia na angústia permanente de nunca saber quando a morte lhe bateria à porta.
A somar a tudo isso a vida encarregava-se de nunca nos deixar esquecer o preço que pagávamos por sermos quem éramos: o meu pai partiu para a Guiné no dia do aniversário da minha mãe, em Fevereiro de 1973, de Agosto a Outubro continuámos a receber a sua correspondência enquanto esperávamos pelo caixão que supostamente trazia o seu corpo (digo supostamente porque nunca foi aberto), o funeral realizou-se em Outubro no dia do seu aniversário e finalmente recebemos o seu espólio.
Hoje os lutos duram alguns dias. Naquela época duravam meses, às vezes anos. Hoje há apoio à vítima. Na época, eu com 10 anos e os meus irmãos com 19 e 8 anos respectivamente, quase nem apoio monetário tivemos quanto mais psicológico. Cada um sarou as feridas o melhor que pôde e soube.
Tenho agora mais idade que tinha o meu pai quando morreu na guerra. Consigo agora ter uma perspectiva racional do assunto e não ter ressentimentos nem grandes angústias. Quero estar bem com o meu país e com sua História e faço por isso.
O país tem também de fazer a sua parte. Colocar estes Homens, dispostos a abdicar de ver crescer os seus filhos, do conforto dos seus lares e ao sacrifício das suas vidas, ao mesmo nível que um qualquer obscuro funcionário, que numa qualquer obscura repartição de Finanças nos cobra impostos, tantas vezes de forma indolente e mal-educada, é no mínimo ofensivo.
As Forças Armadas são, para além de instrumentos de soberania, a imagem da dignidade de um país.
País que não honra os seus militares não é digno da sua História.

sábado, 22 de novembro de 2008

A Fortaleza de São Sebastião

A propósito da ruína de parte da muralha da Fortaleza de São Sebastião, e para todos os que acham que os centralismos (nacionais e regionais) são apenas um exagero de quem vive longe das capitais (formais e informais), recomendo a leitura do editorial de hoje do Diário Insular com o qual concordo.
Aos meus conterrâneos de Peniche, onde decorre uma apaixonada discussão sobre o destino a dar à fortaleza, recomendo que tentem tirar algumas conclusões sobre o que de bom e de mau tem acontecido com imóveis do mesmo género.

Açores: Estatuto e Autonomia (2)


A propósito do meu "post" anterior sobre este tema encontrei hoje no A União dois artigos interessantes cuja leitura recomendo.
O primeiro do Dr. Álvaro Monjardino, pertencente à geração fundadora da Autonomia no pós-25 de Abril e o segundo do Dr. Tomás Dentinho, da mesma geração actualmente no poder.
Termino com o mesmo apelo do meu "post" anterior: novos teóricos da Autonomia da geração do segundo autor precisam-se.

O Ensino, os Professores e o Estado (2)

Atendendo à sugestão de um leitor, deixo aqui um “repost” sintético do “post” anterior sobre a guerra do ensino.
Vejamos então os aspectos que considero serem determinantes para dar início a uma verdadeira reforma do nosso sistema de ensino.
Primeiro: acabar com o actual sistema nacional de colocação de professores.
Segundo: dotar o sistema de mecanismos que lhe permitam libertar-se de quem não tem perfil para ser Professor.
Terceiro: acabar com o actual sistema de gestão escolar baseado num conselho executivo, mais ou menos colegial e composto exclusivamente por Professores.
Quarto: acabar de imediato com os cursos universitários via ensino.
Quinto: passar a promover a excelência e não a mediocridade como me parece acontecer actualmente.
Sexto: estabilidade de programas e objectivos.

O BPN e o Centrão


As últimas notícias e desenvolvimentos do caso BPN começam a revelar, sem surpesas em minha opinião, uma complexa teia de relações que percorrem o "Centrão" nacional de ponta a ponta.

Será que a nacionalização BPN não tem um alcance muito para além do aparente interesse do Governo em manter a confiança no sistema financeiro?

Quanto ao resultado final do processo que teve agora início com a prisão preventiva de Oliveira e Costa, parece-me que toda a gente não espera surpesas. Ninguém crê decerto que a Justiça em Portugal é igual para todos, por isso não esperem detenções e julgamentos.

E Oliveira e Costa também não passará muito tempo na cadeia pois para isso teria de ser condenado. Alguém quer apostar?

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Cidadão de Angra


Vale a pena ler a curta entrevista ao sr. Jorge Moreira publicada no Diário Insular de hoje.

Tira-nos as palavras da boca com a serenidade que só a idade nos pode dar. Aqui está um bom tema de reflexão para todos os jovens deslumbrados com o poder e que se esquecem de aprender trabalhando.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

O Ensino, os Professores e o Estado


A guerra que se instalou entre os Professores e o Governo tem, em minha opinião, relegado para segundo plano o que deveria ser a verdadeira reforma do ensino e sobre a qual, nem Professores nem Governo, parecem ter uma estratégia a propor.
Antes de continuar, e não querendo ser acusado, entre outras coisas, de elitista, quero esclarecer que a minha perspectiva deste problema é a de alguém que frequentou uma escola diferente dos comuns liceus. E quando digo diferente, quero dizer diferente em tudo, a começar logo por ser uma escola militar. Longe de ser perfeita, tinha as características necessárias para me fazer hoje ter orgulho de ser ex-aluno e de ter tantas saudades de lá estar.
Frequentei essa escola não por pertencer a uma qualquer elite, mas por ser órfão de guerra. Ou seja, foram circunstâncias dramáticas, tão comuns à minha geração, que me colocaram num estabelecimento onde vivi durante dez anos e onde encontrei o que, posso hoje considerar, uma segunda família com muitos irmãos para o resto da vida.
Daquele período determinante ficaram muitas recordações povoadas por oficiais, funcionários, professores e mestres que foram o centro da minha formação e a quem hoje devo grande parte do que sou enquanto Homem e os valores que prezo. A todos estou reconhecido.
Estando a escrever sobre ensino, destaco de entre aquelas pessoas os Professores.
Algumas das pessoas que me conhecem e venham a ler este apontamento sabem de quem falo ao referir Professores como o Dr. Salvador Martins e o Dr. Boaventura Sousa Santos, que nos ensinaram Português, Filosofia, Psicologia, o Arquitecto Bastos que nos fascinava com a sua perícia a desenhar à mão em Geometria Descritiva o que para nós parecia às vezes quase impossível mesmo com régua e esquadro, o Coronel Cruzeiro que fazia da Física algo simples, o Dr. Steiger e o seu esforço para que percebêssemos alguma coisa de inglês, os Mestres de Oficinas que com uma infinita paciência nos ensinavam a usar os formões e as goivas em carpintaria, a reparar máquinas na serralharia, a moldar um escopro na forja e a produzir moldes e peças na fundição.
Podia deixar aqui uma extensa lista. Peço desculpa por isso a todos os que não referi.
Voltando ao assunto deste “post”, quero ainda deixar claro que não consigo tomar partido entre os dois oponentes da actual guerra.
Vejamos então os aspectos que considero serem determinantes para dar início a uma verdadeira reforma do nosso sistema de ensino.
Primeiro: a colocação de professores.
Quem vê o sistema de fora simplesmente não consegue perceber o que leva o Estado, no fim de cada ano lectivo, a desfazer para fazer de novo todo o processo de colocação de professores.
Além dos custos financeiros do processo, torna quase impossível ter quadros de professores estáveis nas escolas.
Nunca consegui perceber por que motivo a colocação de professores se processa através de um concurso nacional gigantesco, burocrático, impessoal e logo muitas vezes injusto.
É no mínimo desumano o que se impõe a alguns professores que passam a maior parte da sua carreira a percorrer o país, literalmente de casa às costas.
Não seria mais simples, justo e eficaz dar autonomia às escolas na selecção e contratação dos professores que necessitam, permitindo-lhes constituir um quadro docente estável?
Mas num país centralista e centralizado não me espanta que assim seja.
Par quem argumenta que este tipo de sistema iria potenciar as contratações via “cunha” e não via “curriculum”, sugiro que os pais passem a poder escolher a escola onde querem que os filhos estudem. Não acredito que as escolas cheias de incompetentes contratados pela primeira das vias venham a conquistar o necessário prestígio a torná-las na primeira escolha de qualquer pai atento à formação dos seus filhos.
Segundo: dotar o sistema de mecanismos que lhe permitam libertar-se de quem não tem perfil para ser Professor.
Sei que para muitos isto soa quase a blasfémia, mas sejamos claros: há muitos professores efectivos que não deviam estar no sistema, pois não são competentes para ensinar. Mas, por serem efectivos, vão arrastar-se nas escolas até à idade da reforma, acentuando a injustiça de deixar de fora quem eventualmente exerceria a docência com competência.
Já ensinei, dou formação, sou pai de um aluno do 9º ano de escolaridade e acompanho de perto a sua vida escolar, sei por isso do que estou a falar.
É aqui que os processos de avaliação de Professores são fundamentais.
Mais do que avaliar para efeitos de progressão na respectiva carreira, que é obviamente importante, é garantir que a todo o momento temos no sistema os melhores elementos. Até por uma questão de valorização social de uma profissão que considero ser de grande desgaste e muito absorvente quando levada a sério.
Portanto, estou certo que nenhum bom professor terá medo de ser avaliado e percebo também que qualquer mau professor não o queira.
Quanto a modelos de avaliação, não sou especialista para propor um nem sequer para criticar o que está a ser implementado.
Não obstante, não me custa a crer em duas coisas:
Primeira - o modelo que está a ser implementado, por ser de aplicação universal e vindo de cima para baixo, só pode ser complexo e burocrático e este aspecto poderá ser, em minha opinião, o seu grande pecado original; a tendência de pôr os Professores em infindáveis reuniões e a produzir papel é quase um atavismo português;
Segunda – a resistência dos Professores ao modelo é neste momento tal que, muito naturalmente, poderão estar a acentuar na sua aplicação prática tudo o que tem de mau; quando queremos provar que um qualquer modelo não serve basta um pouco de excesso de zelo e aplicá-lo em sentido estrito abdicando de uma interpretação lata do mesmo.
Não sendo especialista, como já referi, conheço algumas escolas e consigo observar que, por exemplo, em algumas escolas profissionais existem modelos de avaliação que lhes permitem ter sempre os formadores que melhor servem os seus objectivos de ensino. Todos conhecemos também escolas privadas com quadros docentes estáveis e de qualidade, sujeitos a modelos de avaliação que não criam guerras como a que se está viver actualmente.
Será que um olhar dos Professores e do Governo sobre o mundo exterior ao sistema de ensino público e aos seus paradigmas não poderá fornecer algumas pistas sobre o modelo de avaliação a implementar?

E porque não dar a cada escola autonomia nesta matéria?
Terceiro: acabar com o actual sistema de gestão escolar baseado num conselho executivo, mais ou menos colegial e composto exclusivamente por Professores.
Nada melhor para que não seja possível exigir responsabilidades e para que cada acto de gestão das escolas, bom ou mau, nunca tenha consequências.
Temos que nos deixar de preconceitos e ponderar a reposição da figura do Director.
A escola está necessitada de Autoridade e esta nem é má nem é sinónimo de Autoritarismo. E se o Director tiver origem em carreira fora do sistema escolar, tanto melhor.
Os argumentos da gestão democrática não me convencem e democracia não é incompatível com a existência de um Director. Numa altura em que a responsabilidade sobre o sistema escolar está a ser transferida cada vez mais para as Câmaras Municipais e em que tanto se fala da ligação das escolas à comunidade, porque não eleger também os Directores das nossas escolas nas eleições Autárquicas? Não há, por enquanto, maior legitimidade democrática que a do sufrágio popular.
Quarto: acabar de imediato com os cursos universitários via ensino.
As razões para esta minha opinião são variadas, a começar com a injustiça que é tornar jovens estudantes em virtuais desempregados no momento em que iniciam os seus cursos, pois o sistema de ensino público, por razões da nossa demografia, não vai ter qualquer possibilidade de os absorver a médio prazo e a formação que adquirem não lhes dá perspectivas de poderem fazer carreira noutra profissão.
Outra das razões é conhecer muitos casos de alunos que por falta de capacidade ou de bases suficientemente sólidas para levarem até ao fim cursos de Engenharia, de Matemática Aplicada, etc., acabam por encontrar neste tipo de cursos uma saída de segunda escolha para os seus cursos universitários.
Quinto: passar a promover a excelência e não a mediocridade como me parece acontecer actualmente.
A escola deve ser entendida como um local onde se trabalha e se aprende.
A ideia peregrina de que o ensino tem de ser o que agora se designa por “inclusivo” parece-me, para além de uma injustiça para todos os alunos, um completo absurdo.
Acho uma injustiça, porque sendo o ensino um direito, os alunos com necessidades especiais devem ter acompanhamento adequado, os bons alunos devem ser estimulados e premiados e quer uns quer outros têm o direito de frequentar a escola sem que bandos de rufias façam da escola um reformatório, local onde provavelmente deveriam estar.
Misturar todas estas realidades no mesmo espaço, com os mesmos meios e com os mesmos objectivos não faz qualquer sentido e nivela todo o sistema por baixo.
Sexto: estabilidade de programas e objectivos.
O 25 de Abril trouxe-nos, e bem, uma democratização e generalização do ensino. Passados que são 34 anos era de esperar que tivessem terminado as reformas e as experiências.
Ao invés disso devemos ter tido já quase tantas reformas quantos governos.
É urgente um pacto de regime, em minha opinião, que dê alguma estabilidade e previsibilidade ao sistema.
Temos que tornar possível os irmãos mais novos usarem os manuais dos irmãos mais velhos, sem com isto fazer a apologia dos manuais únicos do Estado Novo. No início de cada ciclo os estudantes têm o direito de saber que exames vão fazer, quando e com que regras. Os professores têm que poder programar a sua docência com horizontes temporais de, pelo menos, um ciclo inteiro com os mesmos estudantes.
Nada disto têm que ver com direita ou esquerda, parece-me puro bom senso.
Creio que quer professores quer governo, não têm hoje a capacidade nem a vontade para avançar com as alterações necessárias a tornar a próxima reforma do sistema de ensino a última e crie uma matriz base que estruturalmente dure, pelo menos, uma geração (sujeita, como é óbvio, às alterações conjunturais que o tempo impõe).
Os primeiros por estarem, em minha opinião, ligados a modelos de sindicalismo que considero conservadores e anacrónicos, não obstante ligados a estruturas da nossa esquerda política, tão avessos que são a qualquer mudança.
O Governo porque governa em função do calendário eleitoral. O actual não é diferente. Fez, em minha opinião, umas ameaças de reformas nos primeiros dois anos de mandato e depois parou para, nos dois seguintes, gerir sondagens até às próximas eleições.
Para mim, o primeiro sinal de mudança será o aparecimento de um candidato a Primeiro-ministro que se apresente às eleições, não com o objectivo de ganhar as seguintes, mas assumindo que não se preocupa nada de as perder. Até lá duvido que algum me surpreenda pela positiva.
Para acabar quero dizer que acredito que o sistema deve centrar-se nos alunos. Isto soa quase a frase feita, mas não nos esqueçamos que devem ser eles a razão de ser do sistema e da excelência que devemos desejar e exigir, pois eles são o país no futuro.
Para quem não acredita sugiro que olhe para o passado e veja o país que o analfabetismo promovido por Salazar produziu.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Afinal há crise ou não? (3)


Para acabar a pequena ronda pelos políticos da casa, quero referir a nossa Presidente de Câmara, a Doutora Andreia Cardoso.

Tem sido a imagem da Câmara Municipal: é como se não existisse.

Não resisto a expressar esta minha inquietação: morro de curiosidade para ver como vai colocar navios de cruzeiro em Angra.

Afinal há crise ou não? (2)

Ora, na mesma página do mesmo Diário insular, Berta Cabral, até agora presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada e candidata a Presidente do PSD-Açores, defende plano de combate à crise.

Senhores Doutores, entendam-se, daqui a uns meses se calhar vão a andar a apanhar cacos…

E Doutora Berta, espero que, se chegar ao poder a curto/médio prazo, não se esqueça deste artigo. O termo usado não podia ser mais adequado: despenalização fiscal.

Afinal há crise ou não?

Hoje ao desfolhar o Diário Insular deparei com a seguinte pérola de sabedoria proferida pelo nosso Vice-presidente: a crise internacional tem vantagens para a região.

Bem sei que a esta crise também se aplica o velho princípio dos 80/20: 80% é psicológica e 20% é real. Mas infelizmente a economia também tem de lidar com a parte psicológica.

Caro Dr. olhe que o meu filho que ainda não acabou o 9º ano já tinha dado pelas vantagens que refere. Basta-lhe ouvir as notícias e fazer um pequeno raciocínio. Não pense, pois, que tal ideia tem algum tipo de rasgo de génio.

Esquece-se, no entanto, que o petróleo baixa para toda a gente e as taxas de juro também, logo teria sido mais exacto dizer que a crise internacional tem vantagens para o país e, quem sabe, para o Mundo inteiro.

Desculpe-me alguma ironia, a que não pude resistir, mas isto são dados que qualquer simples mortal entende.

Mas qualquer mortal entende também que os actuais preços do petróleo não vão ser eternos e não obstante as taxas de juro mais baixas, os bancos já começaram a dificultar o crédito (os tais 80%, pois com os lucros que a banca tem tido nos últimos anos, se tem falta de liquidez, algo vai mal na gestão dessas empresas), mesmo o destinado a fazer face a problemas de tesouraria devido a atrasos de pagamentos de clientes onde, ao contrário do que diz também, se inclui o Estado e Câmaras Municipais.

Por isso, não sou tão optimista com o senhor, pois sei o que custa ter de ganhar cada refeição que tomo.

Quanto às promessas a ver vamos, mas confesso que as minhas expectativas são baixas quanto a isso. Olhe que as micro e pequenas empresas locais precisam de alguma atenção agora, não daqui a um ano quando estivermos perto das Eleições Autárquicas.

Quero terminar esclarecendo bem a que me refiro com atenção às empresas, para que não haja dúvidas: não acredito em subsídios por isso não os peço; como atenção bastaria taxas de Segurança Social menos violentas, crédito a preços razoáveis, IVA com o Recibo, acabar com as aberrações chamadas Tributações Autónomas, Pagamento por Conta e Pagamento Especial por Conta, pagamentos a horas, juros cobrados a quem não paga a horas (Estado incluído) e viagens a preços que terminem com esta sensação de estar a ser assaltado sempre que entro num avião.

Como vê, pelo via fiscal, as empresas teriam uma atenção que agradeceriam sem um cêntimo de subsídios.

domingo, 9 de novembro de 2008

Açores: Estatuto e Autonomia


A propósito do veto do Presidente da República à última versão do Estatuto Político-administrativo dos Açores, quero começar por dizer que no plano dos princípios concordo com quem defende o Estatuto. Mais adiante aprofundarei porque digo apenas no plano dos princípios.
Não seria de esperar outra atitude da parte de Cavaco Silva conhecidas que são as suas tendências centralistas. As dele e as da grande maioria da classe política de Lisboa (e aqui incluo as estruturas nacionais de todos os partidos representados na Assembleia da República).
Não estranhemos também mais este episódio, pois é também natural que a Autonomia se enquadre num processo de conquista gradual, logo naturalmente conflituoso, em relação a um poder tradicionalmente centralista e cioso dos seus poderes.
Não obstante estas considerações, estou convencido que, quer para mim quer para a grande maioria das pessoas que de alguma forma se interessam por estes assuntos, a Regionalização e a Autonomia da Região são realidades que dificilmente regredirão para um cenário pré-25 de Abril, com o sem os artº. 114º e artº. 140º.
Aliás, a discussão em torno daqueles artigos, para além de alguma classe política e imprensa locais, tem passado ao lado da grande maioria das pessoas.
Este alheamento tem, em minha opinião, várias causas, das quais quero destacar duas: a primeira o facto de a grande maioria das pessoas ter como adquirido o facto dos Açores serem uma Região Autónoma, realidade que dificilmente será alterada por dois obscuros artigos do Estatuto Político-administrativo e a segunda o facto de sentirem que este modelo de Autonomia está esgotado necessitando, por isso, de evoluir.
Sobre a primeira das causas creio não haver mais considerações a fazer. Sobre a segunda, temos assunto para muitas e longas teses.
Um dos defeitos do actual modelo é, em minha opinião, ter-se transposto para a Região muitos dos modelos de poder centrais, logo centralistas por natureza. Resumindo, criaram-se internamente centralismos que necessitam de ser corrigidos.
Concordo com o reitor da Universidade do Açores, quando diz na entrevista publicada na Revista do Diário Insular deste fim-de-semana que necessitamos de teóricos da Autonomia, que produzam teoria política sobre este assunto.
Discordo quando sugere que esses teóricos surjam ligados à Universidade. E isto por uma simples razão: a Universidade dos Açores, não obstante a sua tripolaridade, é um fruto dos centralismos internos, logo incapaz, em minha opinião, de produzir modelos que quebrem os paradigmas deles dependentes.
Não creio que alguma vez, na teorização que venha a ser desenvolvida com origem na Universidade dos Açores, a realidade “ilha” venha a ser integrada num modelo político de Autonomia equilibrado. E porquê? Porque o poder na Região simplesmente não sente essa realidade e as dificuldades a ela inerentes.
Vou tentar sintetizar: tentem imaginar uma Região em que o Governo tinha sido instalado nas Flores em vez de S. Miguel, em que a Universidade estava no Pico em vez de S. Miguel, na Graciosa em vez da Terceira e em S. Maria em vez da Horta e que o parlamento estava em S. Jorge.
Teríamos hoje decerto uma Região muito diferente. Mas também, estou convencido, mais equilibrada e com menos tiques de centralismo lisboeta.
É por todos estes motivos que no início deste texto referi que, no plano dos princípios, concordo com quem defende o Estatuto, mas também acho que é urgente encontrar-se um novo modelo para bem do futuro da própria Autonomia.
É determinante que todos se identifiquem com ela e isso só vai acontecer quando o Presidente do Governo Regional puder ser natural de qualquer uma das nove ilhas.
Como não sou nem Filósofo, nem Jurista, nem tão pouco um cidadão com aspirações à política activa, deixo aqui o mesmo tipo apelo do reitor da Universidade do Açores: teóricos de uma nova Autonomia precisam-se.

Portugal e a Regionalização

Tendo passado ontem 10 anos sobre o referendo da regionalização e a propósito do que se tem dito e escrito sobre o veto do Presidente da República à última versão do Estatuto Político-administrativo dos Açores, era natural que a discussão sobre a regionalização do nosso território continental voltasse à agenda política.

Tal não aconteceu e, confesso, espantar-me-ia se tal acontecesse tal é o pavor da classe política nacional em relação a este assunto. Todas as estruturas nacionais de todos os partidos com representação parlamentar, e não só, são, em minha opinião, centralistas e têm uma grande relutância em perceber e aceitar qualquer processo de regionalização.

Considero que o referendo de 8 de Novembro de 1998 foi um erro, pois a regionalização está inscrita na nossa Constituição e foi já implementada nos Açores e na Madeira. Não há pois qualquer razão para que o mesmo processo não ocorra no restante território nacional.

Foi um erro, porque, estou convencido, foi promovido com o intuito de travar o processo por muito tempo (já passaram 10 anos e estou certo que passarão mais 20 sem que o processo avance de novo), pois foi feito sem qualquer discussão ou reflexão séria. O mapa proposto era completamente absurdo, esquecendo que as regiões já existem naturalmente. Centrou parte da discussão em torno das capitais, apelando a algum bairrismo doentio, quando estas não servem para rigorosamente nada (os Açores não têm capital nem precisam). Foram acenados alguns fantasmas de desmoronamento da coesão nacional, mais próprios de um salazarismo fora de moda e sem qualquer sentido.

É claro que a regionalização tem um preço e tem até inconvenientes (falarei deles quando escrever do Estatuto do Açores), mas enquanto ferramenta de desenvolvimento é determinante.

Sendo natural de uma cidade (Peniche) sede de concelho e localizada a apenas escassos 80 km de Lisboa, ambos com a dimensão geográfica e humana da cidade onde vivo (Angra) e do concelho de que é sede, mas a cerca de 1 800 km de Lisboa, era espectável que Peniche beneficiasse da proximidade de Lisboa e tivesse um nível social e cultural muito superior a Angra. Puro engano.
A diferença existe de facto, mas a favor de Angra e a razão reside, em minha opinião, no facto de a distância ao poder ser, apesar da distância a Lisboa, mais curta em Angra do que em Peniche.

Em Angra o poder (regional) tem rosto, é nosso vizinho e é responsabilizável em relação aos seus compromissos. Em Peniche não, perde-se nos corredores labirínticos do poder (central) em Lisboa. Peniche precisa de pertencer a uma região, que embora já exista, ainda não é (nem tem) poder.

Quem tem medo da regionalização afinal? Toda a classe política de Lisboa, sentada confortavelmente à mesa do orçamento. Regionalizar significaria tirar protagonismo e poder a toda essa classe política.

Qual o problema de termos os algarvios, os minhotos, os alentejanos, os transmontanos e todos os habitantes das restantes regiões continentais a tomarem conta dos destinos de cada uma delas, mesmo como regiões autónomas (se isso fosse a sua vontade)? Nenhum. Nem o fantasma salazarista da coesão nacional em risco faz qualquer sentido, pois mesmo sem regionalização estas regiões já existem, os Açores e a Madeira são autónomas, e nunca esteve em causa a Nação que lhes é comum. Nem mesmo nos Açores e na Madeira com os movimentos independentistas dos anos 70 (e se alguma vez houver dúvidas referendem sem medos nem complexos e perguntem às respectivas populações o que querem ser; é a regra em todas as democracias a sério).

Vai sendo tempo de mudar o país macrocéfalo e assimétrico que é Portugal: com uma cabeça gigantesca (e às vezes tonta) em Lisboa, com 75% da sua população a viver no litoral entre Setúbal e Viana do Castelo e com o resto do território a desertificar e a envelhecer.

Sei que existem Constitucionalistas, Sociólogos, Politólogos, etc., e até alguns concidadãos meus dispostos apresentar inúmeros argumentos contra estas minhas posições, entre eles o mais popular: vamos criar mais uma classe política intermédia entre a nacional e municipal. É verdade e esse é um entre os muitos outros custos que qualquer processo político acarreta. E a minha resposta já a dei quando comparei Peniche com Angra.

Outro dos argumentos com alguma popularidade entre centralistas é a sugestão que a associação de interesses entre municípios poderá substituir as Regiões. E porque não chamar-lhes Regiões, pois é afinal o que tais associações seriam?

Enquanto regionalista, que me considero, respeito-os mas o país (a Nação, mãe Pátria, a Mátria da Natália Correia, que cresci aprendendo a amar e respeitar) que temos hoje é a imagem dos seus argumentos e não gosto dela (da imagem).

Considero por isso urgente, não mais referendos inúteis sobre o tema, com foi, infelizmente o de 1998, mas uma discussão sem medo das palavras, sem preconceitos nem complexos que coloque nas mãos dos cidadãos os seus destinos e o desenvolvimento a que têm direito.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Sr. Ministro nacionalize-me

Nos últimos dias muito se tem falado do BPN e do processo de nacionalização de que foi alvo.

Mas pensando bem, o que pode parecer um simples processo legislativo e financeiro levanta muitas questões que, em minha opinião, dão alguma razão a Miguel Cadilhe: o BPN foi nacionalizado porque o Governo quis, foi uma decisão política. Além do simbolismo político de ser a primeira nacionalização depois do Verão Quente de 75 e do PREC.

Depois há o papel do Banco de Portugal em todo o processo. Será que andava toda a gente a dormir naquela instituição? É que os problemas no BPN remontam a 2001(!). Até Cabo Verde deu com as irregularidades mais cedo que Constâncio.

Parece-me pois um mau princípio. Se o Banco não tinha condições para estar no mercado devia simplesmente falir. Ao contrário do que se quer fazer crer, não é certo que os depósitos dos clientes estivessem em causa.

Quem sabe não surgirá um dia destes um movimento do tipo "Queremos ser nacionalizados já!". Os primeiros sinais, em tom irónico, já aí estão. Bem vistas as coisas, no meu caso até teria algumas vantagens: entraria dinheiro fresco na empresa, teria um gestor que passaria a ter as funções de falar com as Finanças, com a Segurança Social, com as Câmaras, com os bancos, de arranjar dinheiro no fim do mês e das cobranças. E eu poderia trabalhar.

Cagarros

Está na altura de ter no carro uma caixa de cartão e ter alguma atenção ao cagarros que fazem o seu primeiro voo

Porquê? A população nidificante açoreana representa 74% da população mundial da subespécie Calonectris diomedea borealis e 52% da espécie Calonectris diomedea. Para além dos Açores, esta ave nidifica também nos arquipélagos da Madeira, Berlengas e Canárias.

Temos portanto a absoluta obrigação de cuidar destas aves. Para além disso cada casal apenas tem uma cria. Logo, quando atropelamos uma causamos um estrago irremediável.

Depois de capturados e colocados numa caixa devemos soltá-los apenas no dia seguinte, de dia, para que iniciem a sua viagem no mar, que durará o resto da suas vidas, e não voltem a terra onde as probabilidades de sobrevivência são nulas.

Aproveitem o momento e se tiverem filhos levem-nos convosco. Garanto-vos um momento emocionante e inesquecível.

A vida é o grande milagre do Universo, por isso tão preciosa e merecendo o nosso respeito em todas as suas formas.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Mais uma vez a América que tantas vezes é arrogante, ignorante e conservadora, mas não tão poucas vezes sabe, como nenhuma outra Nação, ser generosa, sábia e vanguardista, deu-nos um momento que vai constar dos livros de história dos nossos netos ao lado de acontecimentos como a queda do Muro de Berlim, o Hubble e a exploração de Marte e a descodificação do genoma humano.

A eleição de Barack Hussein Obama prova-nos que afinal os Homens são todos iguais, mesmo que alguns americanos não creiam e o achem demasiado branco ou demasiado escuro, conforme a perspectiva.

Os Estados Unidos irão sempre surpreender o mundo. Não se poderia esperar outra coisa de uma Nação que pouco mais de 10 anos depois do "crash" de 1929, soube arranjar forças para ajudar a Europa a livrar-se das figuras mais atrozes que a História já conheceu. Só lamento o nosso "Botas" não ter ido embora nessa leva. Seríamos hoje também uma Nação diferente.

Não tenhamos, por isso, dúvidas que recuperará depressa do "crash" de 2008, enquanto nós, muito provavelmente, andaremos a digeri-lo durante muito tempo, a clamar pelo D. Sebastião.

God Bless you America.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Vejam só o que eu encontrei

Como as coisas mudam: em 2002 era a imagem grotesca de um fim de ciclo, acossado e rodeado de ministros patéticos onde se destacava o irmão gémeo do Mr. Bean (Oliveira Martins).

Hoje é vê-lo de peitaça inchada a tomar conta dos refugiados, a viver à conta do orçamento da ONU e a gozar do anonimato que o lugar de Primeiro-ministro lhe roubava.

A foto mais antiga, à esquerda, foi o 1º Prémio Visão de Fotojornalismo e neste dia até assassino lhe chamaram.

Uma da maiores decepções das muitas com que a política doméstica nos tem presenteado.

Como português acho bem que ocupe o cargo de Alto Comissário e faço votos que fique por lá muito tempo.

Prazos de pagamento e impostos: socorro estou a ser governado

Hoje ao desfolhar o Diário Insular, deparei com uma notícia sobre a pior epidemia que afecta em especial todas as pequenas empresas: os prazos de pagamento.

E lá aparece o Vice a dizer que a Região agora paga a horas, o que é verdade de um modo geral.

Isto já não é tão verdade em relação aos Institutos Públicos, que não sendo Estado, são do Estado, logo para mim são também Região.

Também é referido que os piores pagadores são as Câmaras Municipais, o que também é verdade, e aliás não me espanta. Nem a criação das tão na moda Empresas Municipais (uma aberração que a Lei devia proibir) consegue dar a volta a este mau hábito. Mas o que seria de esperar? As EM não sendo as Câmaras são das Câmaras e logo aplico também para elas o mesmo raciocínio que fiz atrás em relação aos IP's.

A acrescer a esta epidemia temos um Estado completamente insaciável de impostos, que vão caindo no que parece ser um poço sem fundo.

Não me vou referir ao IVA, pois tem sido muito debatido, e o seu pagamento ao Estado com o Recibo e não com a Factura é de elementar justiça e bom senso.

Já li muito sobre o assunto e ainda nenhum economista me conseguiu convencer do contrário.

Acho que deviam ser promovidas campanhas que explicassem ao comum dos cidadãos o que são coisas como o Pagamento por Conta, o Pagamento Especial por Conta, os Pagamentos à Segurança Social e as Tributações Autónomas, para referir só quatro.

Não vou aqui explicar o que é cada um daqueles impostos. Basta fazer uma rápida busca na Net para ficar a perceber que são suficientes para levar o comum dos cidadãos a perguntar o que leva um português, saudável e na posse das suas faculdades mentais, a trabalhar enquadrado numa pequena empresa. É puro suicídio!

Mas enfim, como Povo também nunca fomos bons de torcer e só isso pode explicar porque 95% das empresas são PME's.

Para terminar deixo aqui um desafio aos nossos governantes (locais, regionais e nacionais): experimentem pegar em €5.000,00, montem uma empresa com 4 pessoas e experimentem sobreviver 10 anos (nas actuais condições é claro!). Dava uma tese de Economia e de Antropologia candidata ao Nobel.


P.S. - Caro Primeiro-ministro, obrigado pela redução no Orçamento de 2009 do IRC em 50% para resultados até €12.500,00; como isso só vai ter efeito em 2010 sobre as empresas que conseguirem lucros em 2009 e lá chegarem vivas, da minha parte não precisava ser tão generoso: bastava alterar o regime do IVA.


segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Isto começa mal...

Começo este blog com uma certeza: faltam quinze minutos para a meia noite e amanhã, terça-feira dia 4, não vou ter água para o meu duche da manhã.

A caminho do Natal e numa terra onde chove de maneira a fazer inveja a qualquer cabo verdiano (eles sim têm graves problemas de água), tenho a sensação de estar num filme de Fellini (quem viu "Os Inúteis" percebe do que falo; para quem não viu, ainda não estou a falar da Câmara de Angra e dos respectivos Serviços Municipalizados, mas lá chegarei).

Amanhã quando acordar vou pensar mais uma vez: enquanto me lembrar desta, ninguém desta Câmara vai ver o meu voto no próximo ano.

Aliás já não iam ver, nem nunca o viram, pelo que nesse aspecto durmo descansado. A travessia do deserto a que submeteram a cidade e o município nos últimos três mandatos (os anteriores, confesso, não foram muito melhores também; era por isso de esperar alguma mudança), é o que merecem para provarem um pouco do seu próprio remédio.

Apesar de tudo consigo perdoar-lhes a fascínio infantil pelo poder e o seu exercício patético e às vezes bacoco.

Só não consigo perdoar ser tratado como tolo (pago muitos impostos com dinheiro que me custa a ganhar): ao contrário do que já ouvi dizer, a água pode e deve ser armazenada pois é um recurso estratégico além de escasso e, também ao contrário do que já ouvi dizer, quem não têm qualquer culpa do que está a acontecer são os munícipes.

Até quarta (quando espero já haja água para o meu duche).