A actual crise económica além de apanhar o Governo sem margem de manobra para grandes intervenções, veio por a nu o velho hábito de governar para eleições. Hábito que, digamos em abono da verdade, não é característica apenas do actual Governo mas de todos os que governaram o país nos últimos 30 anos.
Numa altura em que os principais países da UE anunciam cortes nos impostos (casos da Alemanha, Reino Unido e Espanha), percebendo que é a forma de estimular o consumo interno e que é com este que podem contar numa altura em que a maioria dos mercados importadores estão em contracção, o nosso Governo continua orgulosamente só na sua posição de não mexer na carga fiscal, especialmente sobre as empresas.
Mas esta obstinação tem um motivo. E é simples: o Governo não tem margem para cortar nas receitas fiscais.
Tendo governado apenas parcialmente nos primeiros dois anos de mandato e tendo andado a preparar as eleições nos últimos dois, construiu um cenário que agora lhe rebenta nas mãos. O Orçamento para 2009 está pronto para ir para o cesto dos papéis e todas as previsões, quer do Economist quer de Bruxelas demonstram a completa fantasia que é aquele documento.
É indiscutível que o cenário económico é mau a nível global, mas também é indiscutível que o Governo não preparou minimamente o país para cenários de crise. A prova é o relatório que já referi num post anterior. Com crise ou sem ela, o rating da República estaria sempre em risco de cair e a razão é: o Governo não implementou as reformas necessárias. Acrescento eu, não fez as reformas na Administração Pública, na Saúde e na Educação que prometeu, ameaçou que fazia e que por fim ficaram na gaveta.
E é aqui que voltamos à questão do desagravamento da carga fiscal. Como pode o Governo diminuir as receitas sem fazer disparar o déficit do Estado se pouco ou nada fez em relação às despesas? No plano teórico não pode.
Irá ser a realidade que o irá obrigar a fazê-lo, pois aqueles que têm sido "esfolados" nos últimos 5 anos vão rapidamente ficar sem capacidade para continuar a alimentar um Estado tão sedento de impostos.
Quando a realidade tirar qualquer eficácia à cobrança de impostos, talvez comece a ser tarde para que se perceba que sem empresas não há impostos nem emprego.
Actualmente quem tem emprego deve tratá-lo bem, pois o único que é estável é o emprego no Estado. Todo o restante é precário, independentemente do tipo de vínculo que os trabalhadores tenham com as empresas.
Sem comentários:
Enviar um comentário