"O desemprego é um dos piores males sociais. Deve ser tomado como critério determinante para classificar as políticas dum país, à frente da riqueza das nações. Este preceito é metafísico e social e, só depois, devem ser ouvidos os economistas.
O trabalho é uma condição da natureza humana; está ligado à relação, categoria principal do ser. Trabalhar é integrar-se: cooperar, comunicar e amar. Querer trabalhar e não poder é ser expropriado da troca e, portanto, de si próprio.
Nem todas as pessoas têm iniciativa para criar emprego e não há nenhum mal nisto. Porém, devem ser louvados os que sabem gerar trabalho para si e para outros. É insensato o governante que não facilita a iniciativa privada. O desemprego do meu vizinho põe em risco a minha casa.
O Estado empregador é um cancro social. O patrão tem rosto. O Estado não. Usa os bens públicos para perverter a livre concorrência, que é jogo de relações. Onde o Estado cresce mingua o humanismo da feira e avulta a silenciosa alienação mecanicista.
Querer trabalhar e não poder é ser conduzido a uma mancheia de vícios: o sentir-se desonrado; a angústia, o desânimo e o desespero; a violência da ira. O ponto de partida não é imputável; mas, embora possamos ser empurrados para o mal, este é, por definição, uma escolha livre e responsável.
Dito isto, muito desempregado recusa trabalho por vergonha. Este sentimento reflecte o falso subentendido social que identifica o trabalho com o dinheiro e a riqueza com a excelência.
Qualquer trabalho é preferível a trabalho nenhum. Também é melhor receber pouco pelo trabalho das nossas mãos do que ganhar imenso por falso trabalho. O trabalho supremo é o não remunerado – evidencia a liberdade." - Mário Cabral in Diário Insular
Quem o conhece sabe que, para além do excelente professor que é, Mário Cabral é um escritor com um espírito crítico invulgar que se recomenda.
No passado dia 3 de Janeiro fez a apresentação no Diário Insular de um conjunto de crónicas que tem vindo a ser publicadas aos sábados (a primeira foi publicada no dia 10 e a segunda no dia 17) sobre os sete pecados mortais.
Como são textos que, pela sua qualidade, merecem em minha opinião não passar despercebidos, decidi reproduzir aqui a terceira das crónicas, publicada hoje.
O trabalho sempre dignifica o homem e a sociedade.
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