sábado, 31 de janeiro de 2009

Números

"O número de processos de insolvência e de falência em Portugal elevaram-se a 3.344 em 2008, um acréscimo de 67 por cento face ao ano anterior, segundo um estudo da Dun & Braderstreet (D&B), hoje divulgado.(...)
O estudo refere ainda que é nas empresas com menos de cinco empregados onde ocorrem mais de metade do número total de processos de falência e de insolvência (51 porcento), contra cinco por cento nas empresas com mais de 50 empregados.(...)" - in Jornal de Negócios Online

Leitura recomendada a candidatos a Empreendedores. Vejam quem já começou a pagar a crise em 2008.

Caso Freeport: perspectiva

"Por esses motivos formou-se uma "profissão" de "porteiros de interesses". São milhares de pessoas que por esse país fora "abrem portas", oleiam engrenagens, conseguem reuniões e tentam que as burocracias façam o que deveriam fazer de qualquer modo: não perder tempo, decidir com rapidez, respeitar o tempo e o dinheiro dos cidadãos e das empresas.
Os "porteiros de interesses" desempenham, infelizmente, um papel útil e que serve algumas vezes para que os decisores políticos possam agitar as burocracias, dar uns gritos e conseguir que durante algum tempo as coisas se agilizem um pouco. Deles não vem grande mal ao Mundo: abrem portas que deviam estar abertas, aceleram decisões que deviam ser rápidas. Se um dia o Estado português passasse a ser uma pessoa de bem, a profissão extinguir-se-ia num ápice.
" - José Miguel Júdice no Público e postado n'
O Jumento. Leitura recomendada

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Tesouros da Casa Forte do Museu de Angra do Heroísmo

Na sequência das interessantes exposições que o Museu de Angra tem promovido, surge mais uma que vai permitir aos angrenses, e a quem nos visita, apreciar algumas peças que normalmente estão longe dos olhares.

Está de parabéns o Museu, que mantendo um site actualizado prova que é tudo menos um armazém de coisas velhas, e a tutela que merece uma palavra de apreço pelo trabalho de valorização que tem feito da Rede Regional de Museus e dos respectivos acervos. Um exemplo a seguir.

A Terceira precisa de gente

Sendo um assunto que já abordei em post anterior, e por se tratar de matéria de interesse geral da comunidade, era bom que não só a oposição se preocupasse com os problemas associados quer à perda de população da Terceira quer ao seu envelhecimento.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Nota para reflectir

"O aquecimento global é "irreversível" e nem mil anos serão suficientes para apagar aquilo que a humanidade tem feito ao planeta. "As pessoas pensavam que se deixássemos de emitir dióxido de carbono o clima voltaria ao normal dentro de cem ou 200 anos. Isso não é verdade", disse a norte-americana Susan Solomon, principal autora do estudo ontem publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences." in Diário de Notícias

A maioria de nós já não andará por cá daqui por poucas dezenas de anos. Que Mundo irão conhecer os nossos descendentes?

Vira o disco e toca o mesmo

"O executivo comunitário aconselha Lisboa a prosseguir os esforços para "reorientar" a despesa pública para áreas que melhor garantam o "crescimento potencial e a competitividade externa", ao mesmo tempo que deve ser mantido um "controlo firme" dos gastos do estado. A Comissão Europeia também recomenda que o governo continue os esforços para "melhorar, de uma forma sustentada", a eficiência global do sistema educativo, e desenvolver um sistema de formação profissional adaptada às necessidades do mercado laboral, através da plena realização do quadro nacional de qualificações. Finalmente, Bruxelas exorta Lisboa a aplicar a legislação necessária para modernizar as regras de protecção do emprego, a fim de reduzir os elevados níveis de segmentação do mercado de trabalho." - in Açoreano Oriental

Os Governos da República, e anteriormente os da Monarquia, já devem conhecer a receita e o discurso de cor. Mas é demasiado forte a tentação de governar para as eleições finjindo que se reforma sem reformar. Leia-se Eça e perceberemos desde quando sofremos dos mesmos problemas estruturais.

Definidos objectivos operacionais da avaliação da Administração Regional


"O vice-presidente considerou, ainda, que o SIADAPRA vai contribuir, a curto prazo, para a “melhoria do desempenho e qualidade dos serviços da Administração Pública Regional, alinhando de forma coerente e harmoniosa a acção dos dirigentes e trabalhadores da administração na prossecução de objectivos e na execução das políticas públicas, promovendo em simultâneo a qualificação profissional e o desenvolvimento de competências”." in A União

Porque acho importante sabermos onde e com quem gastam o nosso dinheiro, espero que no fim venhamos a saber que ficaram os melhores e os inaptos foram dispensados.

Autárquicas 2009 (3)

Parece que alguma oposição começa a dar sinal de vida para as Autárquicas. Se não for desta que Angra muda de mãos, mais vale as oposições mudarem de vida.

Angra Marina Hotel

Espero que a CMAH desta vez tenha encontrado melhor parceiro que o anterior, pois não deixou saudades a Angra. Quanto a termos hotel no Verão do próximo ano não acredito. Voltaremos a este assunto nessa altura.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Exposição fotográfica assinala Ano da Astronomia

A agenda para os Açores do Ano da Astronomia prevê uma exposição de fotografia denominada “Da Terra para o Universo” e vai percorrer os 19 concelhos dos Açores. A não perder.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Autárquicas 2009 (2)

O PS acaba de confirmar os nomes dos seus candidatos às Câmaras da Terceira nas Autárquicas deste ano e irá apostar nos actuais autarcas.
Se no caso da Praia da Vitória se percebe, pois a actual equipa conclui agora o seu primeiro mandato e, por isso, não apresenta ainda o desgaste do tempo, já em Angra parece querer correr o risco de recandidatar uma equipa que, em minha opinião, não deixa saudades. O aspecto positivo desta opção poderá ser proporcionar uma campanha mais interessante, pois as campanhas mornas já cansam. É urgente discutir Angra.
Onde param as oposições?

sábado, 24 de janeiro de 2009

PECADOS CAPITAIS

"O desemprego é um dos piores males sociais. Deve ser tomado como critério determinante para classificar as políticas dum país, à frente da riqueza das nações. Este preceito é metafísico e social e, só depois, devem ser ouvidos os economistas.
O trabalho é uma condição da natureza humana; está ligado à relação, categoria principal do ser. Trabalhar é integrar-se: cooperar, comunicar e amar. Querer trabalhar e não poder é ser expropriado da troca e, portanto, de si próprio.
Nem todas as pessoas têm iniciativa para criar emprego e não há nenhum mal nisto. Porém, devem ser louvados os que sabem gerar trabalho para si e para outros. É insensato o governante que não facilita a iniciativa privada. O desemprego do meu vizinho põe em risco a minha casa.
O Estado empregador é um cancro social. O patrão tem rosto. O Estado não. Usa os bens públicos para perverter a livre concorrência, que é jogo de relações. Onde o Estado cresce mingua o humanismo da feira e avulta a silenciosa alienação mecanicista.
Querer trabalhar e não poder é ser conduzido a uma mancheia de vícios: o sentir-se desonrado; a angústia, o desânimo e o desespero; a violência da ira. O ponto de partida não é imputável; mas, embora possamos ser empurrados para o mal, este é, por definição, uma escolha livre e responsável.
Dito isto, muito desempregado recusa trabalho por vergonha. Este sentimento reflecte o falso subentendido social que identifica o trabalho com o dinheiro e a riqueza com a excelência.
Qualquer trabalho é preferível a trabalho nenhum. Também é melhor receber pouco pelo trabalho das nossas mãos do que ganhar imenso por falso trabalho. O trabalho supremo é o não remunerado – evidencia a liberdade." - Mário Cabral in Diário Insular

Quem o conhece sabe que, para além do excelente professor que é, Mário Cabral é um escritor com um espírito crítico invulgar que se recomenda.

No passado dia 3 de Janeiro fez a apresentação no Diário Insular de um conjunto de crónicas que tem vindo a ser publicadas aos sábados (a primeira foi publicada no dia 10 e a segunda no dia 17) sobre os sete pecados mortais.

Como são textos que, pela sua qualidade, merecem em minha opinião não passar despercebidos, decidi reproduzir aqui a terceira das crónicas, publicada hoje.

Ainda a água


Finalmente parece que se começa a falar de gestão integrada da água na Terceira. De acordo com o Diário Insular e A União parece que, embora tarde em minha opinião, há a vontade de se avançar para uma gestão mais racional e eficaz da água na ilha.

Esta é ainda uma boa notícia por três motivos diferentes: finalmente o Governo Regional dá sinais de assumir as suas responsabilidades na resolução do problema, assume erros nas autorizações de arroteamentos que concedeu (cuja correcção levará muitos anos) e, aparentemente, põe alguma ordem num assunto que é demasiado importante para depender de uma Câmara Municipal, Serviços Municipais incluídos, que tem revelado uma completa incapacidade para definir uma política de água minimamente coerente.

Regionalização do Continente


Para quem se interessa pelo tema da Regionalização recomendo a leitura deste post no blog Regionalização. Com o Primeiro-ministro a colocar este tema na agenda política deste ano (mas sem ter, pessoalmente, grandes expectativas quer em relação ao PM, quer em relação ao PS, quer em relação ao PSD) as coisas começam a ficar animadas naquele blog. Boa leitura.

Perspectivas

"Este desprezo do Estado pelas pequenas iniciativas empresariais é um erro, perde-se a oportunidade de criar muitos milhares de empregos com um investimento mínimo e, ao mesmo tempo, o Estado vai jogando dinheiro à rua com formação profissional para inglês ver, subsídios de desemprego, apoios sociais dos mais diversos tipos e investimentos públicos para empregar serventes de pedreiro." in O Jumento. Leitura recomendada a candidatos a Empreendedores.

"O drama é que isso são reformas que os portugueses sabem ser inevitáveis, que aceitam para os outros, mas que recusam para si. As lutas dos funcionários públicos para manterem empregos em que não trabalham, dos professores para não serem avaliados, dos sargentos para continuarem a existir sem soldados e tantos outros exemplos aí estão a fazer-me desanimar." artigo de opinião de José Miguel Júdice no Público e postado n'O Jumento. Leitura recomendada a quem ainda julga que a crise é coisa que só afecta os outros e que está tudo bem.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Os acidentes com instalações de gás e quando a imprensa presta um mau serviço


Outra coisa boa que de vez em quando acontece nos vôos para Lisboa é a disponibilização de imprensa regional a bordo. Foi o caso de hoje em que pude ler a versão em papel do Diário Insular.

Esta minha observação vem também a propósito de uma notícia de mais um acidente fatal com instalações de gás, desta vez em S. Jorge.

Só que ao dar a notícia o jornal prestou um mau serviço, tais são as imprecisões e erros que contém, como é aliás hábito em quase toda a imprensa, quer regional quer nacional, sempre que estão em causa instalações de gás. Vejamos porquê.

Na notícia é afirmado que tudo indica a causa da morte de um casal de 28 anos e de uma criança de dois anos tenha sido uma fuga de gás. Acho muito improvável.

O gás usado como combustível na Região é o butano, um gás da 3ª família de gases combustíveis, normalmente designados por GPL - Gases de Petróleo Liquefeitos. O outro GPL usado no país é o propano, mas não é comercializado na Região, assim como não é o gás natural.

Os gases da 3ª família caracterizam-se por serem mais densos que o ar, razão pela qual se acumulam junto ao pavimento. São ainda asfixiantes (não tóxicos) e têm na sua composição agentes cancerígenos. Na versão comercial são odorizados, precisamente para poderem ser detectados em caso de fuga.

Como as vítimas não morreram de cancro, parece-me altamente improvável que tenham morrido por asfixia, a não ser que já estivessem inconscientes na altura em que inalaram o butano. Para que se perceba a dificuldade de se morrer asfixiado com butano, experimentem o suicídio mergulhando a cabeça num lavatório cheio de água.

Normalmente o agente fatal é o CO (monóxido de carbono). É um produto de combustão que não é produzido sempre que a combustão é higiénica (quando assim é, a chama que vemos nos esquentadores é azul). Aparece quando a combustão é incompleta por se desenvolver em atmosferas confinadas e pouco ventiladas (quando assim é, a chama que vemos nos esquentadores é amarela).

Este gás caracteriza-se por ser inflamável e altamente tóxico. Sendo uma molécula diatómica como o oxigénio, quando inalado é transportado pela hemoglobina do sangue provocando uma intoxicação rápida e fatal.

É verdade que as garrafas de gás devem ser instaladas no exterior. Mas as garrafas de gás, assim como os aparelhos de queima, não representam só por si um grande risco. Somos os maiores e melhores produtores de garrafas de gás do mundo e os aparelhos de queima são produzidos de acordo com normas muito exigentes. Ou seja, o risco não reside normalmente nem na armazenagem nem na queima do gás. Reside sim nas tubagens que ficam entre aqueles dois extremos. E são estas que devem ser alvo de ensaios periódicos (obrigatórios por Lei), pois permitem detectar fugas e detectando fugas prevenimos os maiores riscos associados à utilização do butano: incêndio e explosão (não intoxicação). Só que existe um problema: à excepção de S. Miguel, onde está sediada a entidade reconhecida para proceder a estas inspecções periódicas, que tenha conhecimento, não se fazem em mais ilha alguma. E não podem ser realizadas por qualquer entidade ou curioso. Mesmo o SRPCBA não é entidade habilitada para o efeito. O trabalho de sensibilização que aquele Serviço Regional tem desenvolvido é, mesmo assim, meritório e útil.

Em relação aos esquentadores, e ao contrário do que é afirmado na notícia, não precisam de chaminé de extracção de ar, mas sim tubagem de extracção de gases de combustão. Os locais onde são instalados, normalmente cozinhas, é que têm obrigatoriamente de ter uma abertura franca directamente para o exterior para admissão de ar novo, de forma a prevenir-se a produção do monóxido de carbono. Uma atmosfera com CO é, além de tóxica, potencialmente explosiva.

Mais rigor nas notícias precisa-se.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

O país da reforma permanente


"Se fosse possível os portugueses optariam por deixar tudo como está, de preferência seríamos todos funcionários públicos ou trabalharíamos para empresas que dependem do Estado, o que de resto sucede com uma boa parte da classe média. Talvez isso explique sermos tão avessos a reformas, o peso das corporações públicas e de sectores de actividade dependentes do Estado é tão grande que uma boa parte dos portugueses tenham desse mesmo Estado uma visão paternalista. Mais do que um Estado pesado defendemos um Estado que cuide de nós sem nos perguntar o que damos à sociedade, não admira que daqui resulte quem em tempos de dificuldades muitos eleitores se virem para os partidos que defendem esse Estado, partidos que em tempo de crise se desdobram em propostas que acentuam essa visão do Estado capaz de resolver todos os problemas." in O Jumento (incluindo a imagem). Leitura recomendada.

Arquipélago Mágico


Hoje em mais uma deslocação a Lisboa, para cumprir a época de exames, tive o prazer de ler na UP Magazine (Revista de bordo da TAP) esta opinião de Jan Decker sobre a Terceira: "A melhor ilha para viver é a Terceira, porque tem as medidas exactas. Tem 65 mil habitantes, é muito bonita e a temperatura consegue ser um bocadinho melhor que a do Faial, ao ponto de se poder andar descalço o ano inteiro. Há sempre uma boa razão para sair à noite e há algum turismo, mas não demasiado - não consigo perceber porque não há mais gente a fazer turismo aqui." Simpático e interessante ver como os estrangeiros olham para nós.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

E aconteceu mesmo

Senhor Primeiro Ministro, o senhor, os seus ministros e o seu partido não merecem o nosso voto. Está provada a vossa incompetência e irresponsabilidade.

O resto das classificações da S&P podem ser lida aqui e colocam o Santander Totta com uma classificação superior à da República.

As previsões

No que toca a valores da variação do nosso PIB para 2009, há para todos os gostos e tamanhos. Vejamos:







Já sabia que a Economia não é uma ciência exacta, mas assim parece que andam todos a bricar com o pagode e ninguém se entende.

Portugal entrou em recessão técnica ainda em 2008

Constâncio descobriu a pólvora e percebeu que a recessão não é só para 2009. Começou em 2008. Só quem viveu todo o ano noutro país ou, estando cá, viveu à mesa do Orçamento é que não se apercebeu que o último semestre de 2008 foi um desclabro.

Linha de crédito no montante de 40 milhões de euros

A nivel regional as medidas não me parecem mais ambiciosas que a nível nacional. Resumindo o que foi apresentado pelo Governo Regional, as empresas para lidarem com os péssimos prazos de pagamento (com os do Governo Regional e Câmaras Municipais incluídos), além das contas correntes caucionadas, do factoring, etc., para receberem o seu dinheiro tem agora a possibilidade de se endividarem ainda um pouco mais, só que com juros bonificados.

Dêem o exemplo, paguem a 30 dias e fazem entrar no mercado muito dinheiro.

Diminuição da retenção na fonte de IRS

Este é o tipo de medida Fiscal que o Governo anuncia como uma grande medida. Mais não é do que exigir menos dinheiro adiantado a cada um de nós. Adiantando menos recebe-se menos no acerto de contas anual. Estamos na presença de uma medida que em nada vai contribuir para a solução dos problemas de quem poderá vir a ficar sem trabalho a curto prazo. Puro fogo de vista.

Orgulhosamente (quase) sós (1)

O ministro Teixeira dos Santos vem hoje confirmar que não fez as reformas com que o Governo se comprometeu e que referi neste meu post anterior. Em matéria de Finanças reina o caos completo no Governo. O OE e agora o OE Rectificativo são a prova.

O Conselho de Ilha

A avaliar pelas declarações feitas na imprensa por alguns membros do Conselho de Ilha, caso de Artur Lima, algo vai muito mal naquele órgão a começar, ao que parece, pelo Presidente.

Os Conselhos de Ilha precisam ser repensados, a começar pela sua constituição e atribuições, pois actualmente servem para pouco mais que nada.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

O velho Mestre (3)

O velho Mestre (2)

Orgulhosamente (quase) sós

A actual crise económica além de apanhar o Governo sem margem de manobra para grandes intervenções, veio por a nu o velho hábito de governar para eleições. Hábito que, digamos em abono da verdade, não é característica apenas do actual Governo mas de todos os que governaram o país nos últimos 30 anos.

Numa altura em que os principais países da UE anunciam cortes nos impostos (casos da Alemanha, Reino Unido e Espanha), percebendo que é a forma de estimular o consumo interno e que é com este que podem contar numa altura em que a maioria dos mercados importadores estão em contracção, o nosso Governo continua orgulosamente só na sua posição de não mexer na carga fiscal, especialmente sobre as empresas.

Mas esta obstinação tem um motivo. E é simples: o Governo não tem margem para cortar nas receitas fiscais.

Tendo governado apenas parcialmente nos primeiros dois anos de mandato e tendo andado a preparar as eleições nos últimos dois, construiu um cenário que agora lhe rebenta nas mãos. O Orçamento para 2009 está pronto para ir para o cesto dos papéis e todas as previsões, quer do Economist quer de Bruxelas demonstram a completa fantasia que é aquele documento.

É indiscutível que o cenário económico é mau a nível global, mas também é indiscutível que o Governo não preparou minimamente o país para cenários de crise. A prova é o relatório que já referi num post anterior. Com crise ou sem ela, o rating da República estaria sempre em risco de cair e a razão é: o Governo não implementou as reformas necessárias. Acrescento eu, não fez as reformas na Administração Pública, na Saúde e na Educação que prometeu, ameaçou que fazia e que por fim ficaram na gaveta.

E é aqui que voltamos à questão do desagravamento da carga fiscal. Como pode o Governo diminuir as receitas sem fazer disparar o déficit do Estado se pouco ou nada fez em relação às despesas? No plano teórico não pode.

Irá ser a realidade que o irá obrigar a fazê-lo, pois aqueles que têm sido "esfolados" nos últimos 5 anos vão rapidamente ficar sem capacidade para continuar a alimentar um Estado tão sedento de impostos.

Quando a realidade tirar qualquer eficácia à cobrança de impostos, talvez comece a ser tarde para que se perceba que sem empresas não há impostos nem emprego.

Actualmente quem tem emprego deve tratá-lo bem, pois o único que é estável é o emprego no Estado. Todo o restante é precário, independentemente do tipo de vínculo que os trabalhadores tenham com as empresas.

Um bom conselho

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Transparência na Administração Pública

"O site, que fornece informações sobre as despesas de entidades publicas, recolhidas numa outra base de dados online institucional, em http://www.base.gov.pt/, tem recebido a atenção da comunicação social e particularmente da blogosfera devido a alguns valores caricatos de contratos para pagamentos de jantares, viagens, ou despesas de representação." in Correio da Manhã

Para quem tiver curiosidade aqui fica o link. A vantagem do site em relação à bases de dados online oficial é a possibilidade de fazer buscas. O resultados são interessantes. Experimentem. E já agora, viva a transparência. Gosto sempre de saber onde se gasta o meu dinheiro.

Ainda O Coveiro

Mugabe acaba de colocar em circulação uma nova nota com um valor tão absurdo que nem me atrevo a repetir para não errar. Vem juntar-se às anteriores cujos valores não são menos absurdos. Será que nem a cólera o apanha?

Autonomia em destaque no congresso do PSD

"Carlos Amaral considera que, passadas três décadas, a autonomia açoriana está estagnada. “Permanece ancorada no modelo original, cujo prazo de validade se esgotou, uma vez que deixou de ser capaz de corresponder aos desafios com que hoje nos deparamos. E permanece refém dos interesses e das mentalidades de uma classe política incapaz seja de escapar ao fascínio jacobinista do centralismo, seja de compreender esta “admirável nova Europa” que integramos”, explica." - in Diário Insular

Novos teóricos da Autonomia precisam-se e parece que a pouco e pouco começam a aparecer.

Centenas de antigos combatentes vivem na rua

"Por todo o país, mas sobretudo em Lisboa, podem contar-se entre 300 a 400 antigos combatentes que vivem na rua." - in TSF

Em que espécie de país nos estamos a tornar?

A União Europeia e a vocação civilizadora da Europa do pós Guerra

"Na Palestina, em Israel e no Líbano o caso pode ser mais complicado mas com alguma coragem a União Europeia tem um papel a desempenhar como está a fazer a medo nos Balcãs. Porque não integrar estes pequenos países no Espaço Europeu. Porque razão temos metade de Chipre e Malta e não temos a Palestina, Israel e o Líbano? Afinal de contas é isso que a União Europeia sabe fazer melhor. A Paz." - Tomaz Dentinho in A União

A integração na União Europeia a longo prazo dos países da bacia do Mediterrâneo (Norte de África e do Médio Oriente) é, em minha opinião, uma inevitabilidade quer para a segurança da Europa quer para a paz.

Moção global de estratégia de Berta Cabral

"Ao nível empresarial, considera urgente as pequenas e médias empresas vencerem os desafios da pequena dimensão, localização e dispersão do mercado regional para serem mais competitivas e sólidas, acrescentando que além de uma despenalização fiscal, os apoios governamentais devem ser atribuídos com maior critério e de forma atempada." - in A União

Cara doutora Berta Cabral, para a eventualidade de vir a ser poder a médio prazo, sugiro que sublinhe algumas frases da sua Moção ao Congresso do seu partido, como a que reproduzo acima, e a mantenha na secretária pronta a ser consultada para que não se vá esquecendo, como aliás já lhe tinha sugerido antes.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Para quem nunca aprendeu inglês, aqui tem um bom motivo para o fazer



Ano Internacional de Astronomia 2009 - Açores

Na sequência do meu post sobre o Ano Internacional de Astronomia 2009 e da sugestão que fiz aos professores, aqui fica um link onde poderá ser encontrada mais informação sobre as actividades nos Açores. Obrigado ao Félix Rodrigues pela informação.

Os fretes do Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais

Tal como aconteceu com Constâncio, também o Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais decidiu fazer o seu frete ao chefe, vindo para o Expresso defender o indefensável: o actual regime do IVA.

Desafiá-lo-ia a ser Empreendedor, fora de uma Sociedade de Advogados, para provar um pouco da sua tão eloquente defesa do regime do IVA. Mas a avaliar pelo seu currículo oficial é fácil de imaginar para onde irá quando sair do Governo.

Se não quisesse ser tão polido dir-lhe-ia que, não sendo parvo, gosta de se fazer.

Ano Internacional da Astronomia: blog obrigatório

Para quem se interessa por ciência em geral e Astronomia em particular, recomendo o acompanhamento do blog Desambientado onde o promotor está a colocar post's que considero excelentes. Um obrigado ao Félix Rodrigues pelos momentos de prazer que me tem permitido com a sua leitura.

€ 17.500.000.000 (1)

"A Associação, destaca o facto das dividas fiscais denunciadas no Relatório de Auditoria do Tribunal de Contas sobre débitos e prazos médios de pagamentos das empresas públicas em 2007, referirem concretamente a retenção de impostos sobre lucros, IRS retido a trabalhadores, contribuições à segurança social e IVA. (...) Acusando o Governo e o fisco de ter "muitas vezes, atitudes arrogantes e persecutórias, em relação às empresas privadas, sendo mesmo, algumas vezes, responsável pelo seu encerramento", a ANIVEC - APIV exige, assim, saber se os responsáveis das empresas públicas agora citadas pelo TC serão alvo de procedimentos criminais idênticos aos que são movidos aos administradores e sócios-gerentes das empresas privadas." - in Exame Expresso

Veja-se o currículo da maioria dos gestores de EP's. É o eterno carrocel de passar de uma para outra (será este provavelmente o "castigo") até à reforma.

Centralismos

Quando o presidente da Câmara do Comércio de Angra critica alguns centralismos merece todo o apoio. Contudo, em minha opinião, não existem centralismos bons e maus, apenas em função da distância a que nos encontramos deles. Como já escrevi aqui, considero que as ilhas que constituem o triângulo têm um potencial por explorar que, com transportes marítimos eficazes e aéreos mais baratos, não é incompatível com os interesses da Terceira. Por isso senhor presidente da Câmara do Comércio e Indústria da Horta não desista de o promover.

PSD pós Congresso

É bom ver caras novas, como a do empenhado Paulo Ribeiro, em partidos tão necessitados de renovação como o PSD. Especialmente se nunca deixar de ser Engenheiro e fizer da política aquilo que deve ser: exercício de cidadania e não meio de subsistência. A travessia do deserto a que o PSD tem estado condenado, resultado em grande parte de ter estado no poder tempo demais, tem de ser ultrapassada a bem do regime.

Autárquicas 2009 (1)

O PS, embora de maneira não oficial, já fez chegar à imprensa os nomes dos seus candidatos às Câmaras da Terceira nas Autárquicas deste ano. Tudo indica que irá apostar nos actuais autarcas. É caso para perguntar onde param as oposições.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Ano Internacional da Astronomia

"Esta é a convicção de Pedro Ré, presidente da Associação Portuguesa de Astrónomos Amadores, responsável pela iniciativa "Noite das Estrelas", marcada para 15 de Julho, durante a qual se desligará parte da iluminação pública de algumas cidades portuguesas e espanholas. (...) "E agora eu sou Galileu", uma dessas actividades, terá por objectivo organizar sessões de observação temáticas sobre as que foram efectuadas por Galileu, incidindo nomeadamente sobre as fases da Lua e de Vénus, as crateras da Lua, os satélites de Júpiter e os anéis de Saturno, entre outras." - in Notícias SIC

Senhores professores, eis algumas iniciativas que garanto seriam inesquecíveis para os vossos alunos. E não são precisos grandes meios. Apenas um pouco de saber e vontade.

A fotografia foi obtida com telescópio e uma câmara digital Nikon em noite sem nuvens a partir do meu quintal.

As verdadeiras razões

"As reformas estruturais feitas pelo Governo não foram suficientes para corrigir os desequilíbrios da economia e Portugal terá de passar agora por um período de pelo menos cinco anos de crescimento abaixo de um por cento e de deterioração das suas contas públicas. (...) Os responsáveis da S&P (...) traçam um quadro sombrio para a evolução da economia portuguesa, deixando um claro sinal de insatisfação com os resultados da actuação do Governo nos últimos anos. (...) No entanto, no comunicado da S&P, não é feita qualquer referência à crise internacional. (...) Não estamos preocupados que o défice fique acima de três por cento nos próximos dois anos. Estamos mais preocupados com o que irá acontecer em 2012 ou 2013." - in Público.pt

É o que acontece num país, como o nosso, em que os governos em cada legislatura fazem umas ameaças de reformas, que nunca concluem, nos dois primeiros anos e gastam os restantes dois a preparar eleições.

A Diocese…

Religião e assuntos ligados ao funcionamento da Igreja não são temas que pessoalmente me interessem em particular. Apesar disso não posso deixar de referir este artigo da Regina Cunha. Brilhante na lição de História e na argumentação, como sempre.

Quem não quer não se põe a jeito...


"Questionado por Fátima Campos Ferreira se não estava a ser intolerante perante a questão do casamento das portuguesas com muçulmanos, José Policarpo disse que não. “Se eu sei que uma jovem europeia de formação cristã, a primeira vez que vai para o país deles é sujeita ao regime das mulheres muçulmanas, imagine-se lá”, ripostou José Policarpo à jornalista e anfitriã da tertúlia, manifestando conhecer “casos dramáticos”, que no entanto não especificou." - in Público.PT

É claro que D. José Policarpo tem razão. Ninguém obriga uma muçulmana a usar biquini na praia. E Polícia Religiosa, como existe na maioria dos países muçulmanos, por cá acabou com a Inquisição.

Laicismo vs Estupidez

Ao reler a Revista do Diário Insular do fim-de-semana passado reparei na crónica de Luís Fagundes Duarte. E reparei, não por ele falar no Parlamento Jovem, iniciativa que podia ser muito mais interessante do que é, mas por discordar publicamente do facto de se ter retirado o qualificativo "Padre" do nome da Escola Secundária de Angra.
Esta sua posição fez-me procurar o
artigo de opinião de Sílvio Couto publicado em Janeiro de 2008 n'A União, que li pensado que estava na presença da opinião de um católico mais empenhado, pois a leitura do Decreto-Lei n.º 299/2007, de 22 de Agosto, levou-me a acreditar que ninguém levaria o laicismo a um ponto tão extremo e absurdo.
Parece que me enganei e Sílvio Couto tinha alguma razão, confirmada aliás por um insuspeito Deputado Socialista como é Luís Fagundes Duarte.
Percebo que se tenha acabado com o figurino que conheci na Escola Primária (ver foto), em que à esquerda do crucifixo tínhamos o Botas (Salazar) e à direita o Cabeça de Abóbora (Américo Thomaz), trindade que assistia impávida e serena às sessões de espancamento que caracterizavam o ensino da época.
Passar daquele figurino para uma situação em que se considera o crucifixo e palavras como "Padre" elementos ofensivos seja lá do que for, ao ponto de banir estes elementos das escolas, parece-me pura idiotice.
Penso que é preferível uma escola chamar-se Padre Jerónimo Emiliano de Andrade do que ostentar uma sigla tão indecifrável, diria mesmo estúpida, como Escola EBSI 2/3+S.
Mas não me espanta este laicismo bacoco, pois insere-e na moda do politicamente correcto que tem como resultado discursos ridículos em que tudo é referido nos dois géneros (ver este meu
post) e em que se muda o nome a quase tudo: os cegos passaram a invisuais e os surdos, provavelmente, passaram a inauditivos.
Concordo, por isso, com Luís Fagundes Duarte e talvez devêssemos levar a Lei ao extremo tirando de todas as denominações palavras como Doutor, General, Almirante, São, etc.. O Resultado seria interessante, mas inevitavelmente estúpido.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

€ 17.500.000.000

"Os dados foram divulgados ontem pelo Tribunal de Contas (TC) com base numa auditoria feita por esta instituição a uma amostra de 20 empresas. Na auditoria "aos débitos e ao prazo médio de pagamento das empresas públicas", a instituição liderada por Guilherme d'Oliveira Martins demonstra não só que as empresas nacionais são grandes devedoras, como pagam tarde aos seus fornecedores.(...) Esta prática recorrente das empresas coloca Portugal numa clara desvantagem competitiva face às empresas europeias. No mesmo relatório do TC lê-se que enquanto o prazo médio de pagamento efectivo (cálculo que se faz conjugando o prazo acordado e o atraso no pagamento) na Europa é de 67 dias, em Portugal, é de 132 dias; se estivermos a falar só de empresas públicas, a média desce para os 113 dias. Curiosamente, é também o Estado que surge à cabeça como responsável por este atraso nos pagamentos, por manifestar "atrasos consideráveis na disponibilização das verbas" devidas, o que obriga muitas empresas a recorrer a financiamento externo, nomeadamente bancário." - in Público.pt

Este bem podia ser mais um post sobre Empreendedorismo, mas não é. Eis porque não acredito nas empresas municipais, excluídas deste estudo, mas também públicas. Já nos bastam os maus hábitos de muitas das Câmaras Municipais.

Alberto João Jardim

Confesso que esperava mais de Mário Crespo na entrevista que fez ontem a Alberto João Jardim.

Não conheço de todo a realidade da Madeira, mas sendo um político com mais de 30 anos de poder decerto manipulou tudo o que havia para manipular naquela Região e nunca facilitou a vida às oposições.

Não obstante, e numa altura em que é quase politicamente correcto dizer mal e não gostar de Alberto João Jardim, aprecio-o por aquela que considero a sua maior qualidade: diz em voz alta o que muitos pensam em silêncio.

Por isso acho que os portugueses gostam mais dele do que se diz por aí e a sua carreia política, mesmo a nível nacional, está muito longe do fim.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Jean-Claude Trichet

Enquanto em 2006 e em especial em 2007 a Europa importava inflação à conta do petróleo e dos alimentos e começava a reduzir a actividade económica, ele era o único que via na inflação o monstro do consumo interno. E lá nos ía administrando mais um pouco do único remédio que tem para a doença: aumento dos juros. Só que era o remédio errado, como é errado usar calicida para a queda de cabelo. Ía matando o doente com a cura. Por isso, senhor Trichet, não acredito em si.

Trabalha tu...

"Um estudo do Centro de Investigações Sociológicas cubano revela que conseguir emprego passou a ser apenas a quinta opção dos jovens cubanos, segundo um artigo publicado no diário oficial "Granma" com o título: "O folgazão, um perigo ideológico"." - in Notícias SIC

Já acautelou a sua reforma?

Já acautelou a sua reforma? Armando Vara dá-nos o exemplo e à semelhança de outras personagens do nosso centrão político já acautelou a sua. Os bons exemplos são para seguir.

A Lua

Fotografia obtida com telescópio e uma reflex Olympus OM20 em noite sem nuvens a partir do meu quintal.

domingo, 11 de janeiro de 2009

Peniche revisitado

Tendo regressado às temperaturas amenas e ao verde da minha ilha, ao conforto de Angra e à azáfama do trabalho após uns dias passados entre as minhas outras duas cidades, Lisboa para estudar e fazer exames e Peniche para passar as quadras do Natal e ano Novo, tive finalmente tempo para organizar algumas notas e impressões sobre estas duas últimas.

Quanto a Lisboa pouco há a dizer. É a mesma cabeça macrocéfala do país, por onde, de uma forma ou de outra, quase todos passamos. Continua, apesar disso, a ser a minha cidade de escola e de formação, onde vive ou trabalha metade das pessoas que conheço, de Invernos frios como sempre e com um horário de Inverno que detesto, pois escurece muito cedo. Mas continua a ser a cidade onde me sinto em casa e curiosamente nunca a vi, nem vejo hoje, como uma cidade grande.

Peniche é diferente e sempre que lá volto assalta-me um misto de saudade e vontade de partir, uma relação de amor e ódio com um espaço que se modifica, onde ficaram muitas das minhas recordações de infância mas onde nunca pude ficar.

Sobre as impressões desta última estadia, vou começar pelo mar e prosseguirei terra dentro.

Começando pelo mar, tenho de o fazer pelo Cabo Carvoeiro. Sítio mágico de onde podemos olhar a Berlenga no horizonte, o rochedo da Nau dos Corvos (onde continuam a ver-se os corvos marinhos) e que adoro de Inverno.

E é aqui que começa a minha primeira apreensão. Todo o trajecto ao longo da costa Sul, entre o Portinho da Areia e o Cabo Carvoeiro, começa a ser invadido por casario de gosto discutível. Gostaria que este espaço, onde em tempos até vinho se produzia, se pudesse preservar sem se tornar noutra Consolação (que está irreconhecível e horrível). Terá a CMP poder e vontade para isso?

O trajecto pela costa Norte, entre o Cabo Carvoeiro e a Papôa, não está aparentemente tão pressionado. O santuário do Senhor dos Remédios está praticamente como sempre o conheci e o próprio edifício da Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar de Peniche consegue enquadrar-se ali sem grandes choques.

Apesar disso parece-me que a instalação de algumas indústrias nesta faixa é um erro. O concelho não é só Peniche. A cidade é uma Península e por isso acho que devia haver a preocupação de instalar noutros locais do concelho as indústrias que Peniche não tem nem terá espaço para instalar. Continuo sem perceber esta tendência de colocar dentro da cidade indústrias que deveriam estar fora e por outro lado deixar do lado de fora os hotéis que deveriam estar dentro da cidade.

As costas a Norte e a Sul do Cabo Carvoeiro são muito diferentes, mas ambas belíssimas e únicas. Por favor não as destruam.

Ao entrar pela cidade em direcção às muralhas, há uma nota positiva a registar: a substituição em algumas ruas do horrível alcatrão com gravilha ali colocado no final da década de 60/início da de 70, pela antiga calçada branca de calcário (apesar de muito mal executada em alguns locais). Pena é que isso não aconteça, por exemplo, em todas as ruas do núcleo em torno da Igreja de S. Pedro (onde os meus pais me baptizaram, onde baptizei o meu filho e onde casei).

Indo directo ao porto, passa-se pelo Alto da Vela, pelo Campo da Torre, onde tanto brinquei em miúdo quando morava na Rua 1º de Dezembro, e pela Fortaleza.

O Alto da Vela e o Campo da Torre são hoje espaços arranjados e bonitos. Espero que sejam utilizados também, não por carros mas por pessoas, pois parece que o uso dado hoje, em especial ao Campo da Torre (onde ao que parece já não se realizam as feiras), não tem sido pacífico.

A Fortaleza necessita de obras. As muralhas estão degradadas. Com ou sem pousada, com ou sem Museu, precisa de intervenção. A propósito do Museu, acho que tem muito trabalho a fazer num espaço que não foi minimamente adaptado para esta função. A parte dedicada aos presos do Estado Novo está degradada, sem dignidade e a precisar de ser repensada pois, em minha opinião, não pode desaparecer. Tem documentos muito interessantes mas perdem-se numa exposição aparentemente sem qualquer critério.

O porto de pescas, desculpem-me os meus conterrâneos, é um dó de alma. Onde dantes se viam muitas dezenas de traineiras hoje só se vê água do mar. A pesca é uma área que não domino de todo. Mas a impressão que fica é que em Peniche está a desaparecer. Sinais dos tempos, talvez.

Descendo a Avenida do Mar verifica-se com apreço que tem havido um esforço de dar mais dignidade e qualidade aos diversos restaurantes que ali existem.

Entre a Capitania, onde nasci, e a zona de Peniche de Cima desenvolve-se a linha de muralhas da cidade. Sei que estão previstas obras para o fosso exterior que era conhecido pelas docas. Não conheço o projecto mas espero que contemple intervenção nas muralhas, cuja degradação é também evidente.

Saindo as muralhas, encontra-se o que, em minha opinião tem sido o erro em que mais se tem insistido em Peniche: construir sem critério que se perceba na zona que em tempos era o Juncal.

É uma amálgama onde é possível encontrar de tudo: fábricas de conservas, prédios de apartamentos, comércio, supermercados, Quartel dos Bombeiros, stands de automóveis, um bairro social (a Prageira), central de camionagem, etc.. Se há local que devia estar livre de construção para que fosse possível dar alguma visibilidade e dignidade à cidade e às suas entradas, os Portões de Peniche de Cima, a Ponte Velha e a Ponte da Comporta, é precisamente o Juncal. Mas o erro é antigo. Nos últimos 30 anos apenas tem sido acentuado.

Depois do Juncal encontra-se mais uma das notas positivas a referir. Está muito simpático e agradável o trajecto pedonal criado no lado oposto ao que em tempos foi o pinhal.

Mas em frente ao Parque de Campismo está mais uma das notas negativas a referir: o Campo de Jogos do GDP (não posso chamar estádio àquilo). Além de ser um objecto nada interessante, não tem para onde crescer e como se não bastasse está completamente envolvido em painéis publicitários, que são no mínimo feios e nada dignificam o espaço.

Aqui começa-se a entrar pelo concelho dentro através do IP6. E ainda sem termos entrado naquela via, deparamos com uma rotunda que, a par da de Porto de Lobos, ainda não consegui perceber para que serve. Admito que o defeito possa ser meu, mas estas duas rotundas com a sua aparente inutilidade e as inclinações que apresentam são únicas.

Peniche, talvez pela sua exterioridade (demasiado dentro do mar) é, para mim, a cidade e o concelho dos projectos adiados, tardios ou perdidos. Como projectos perdidos temos o caminho-de-ferro e o gás natural. Como projecto tardio temos o Pólo do Instituto Politécnico de Leiria, com 25 anos de atraso. Como projectos adiados temos os acessos rodoviários, que de tão esperados deram numa enorme asneira, em minha opinião.

Continuo sem perceber como se constrói um IP (Itinerário Principal) com 4 faixas, que no 1º troço no concelho, entre a Serra del-Rei e a Atouguia da Baleia, passa a duas faixas (!) e termina com um troço de 4 faixas (!!), este último digno de qualquer auto-estrada com barreiras acústicas e tudo, precisamente entre as duas singulares rotundas que citei atrás.

A minha especialidade também não é estradas, mas o meu senso comum diz-me que o IP6 no concelho está feito ao contrário. Não conheço também o processo, mas, mesmo correndo o risco de estar enganado, parece-me que aqui os interesses das diversas freguesias e os da própria sede do concelho foram concorrentes e não coincidentes e quem perdeu foi o concelho.

Mais uma nota negativa. Tentei mostrar ao meu filho a ponte romana entre a Atouguia e a Coimbrã. É indescritível o seu estado de (má) conservação.

Globalmente, parece-me que Peniche e o concelho, não obstante terem beneficiado do desenvolvimento que o país conheceu nas últimas décadas, continuam com problemas estruturais antigos e sem massa crítica mínima para a fixação da maioria dos seus naturais.

Continua sem um tecido empresarial de base local com dimensão, a pesca aparentemente já não tem o peso de outros tempos, a agricultura podia e devia ser mais valorizada, o turismo apostou na quantidade e não na qualidade (transformou a Consolação numa espécie de Algarve dos Pobres e está rapidamente a fazer o mesmo ao Baleal; compare-se com os Belgas ou o Béltico, como agora se diz, no concelho vizinho de Óbidos) e o Estado, através da CMP, das escolas e doutros Serviços, continua a ser nitidamente o maior empregador.

Uma nota de esperança, para terminar. Sei que a Associação de Municípios do Oeste, no âmbito da qual tem sido desenvolvido algum trabalho interessante, vai transformar-se na Oeste CIM – Comunidade Intermunicipal do Oeste. Continuo a ser muito céptico em relação à sua efectiva capacidade para promover de forma eficaz o desenvolvimento desta região.

Como atrás referi, quando os interesses internos de um mesmo concelho são muitas vezes concorrentes entre si, o que podemos esperar dos interesses de uma série de concelhos? Mas é um passo e antes um passo que nenhum.

Continuo, no entanto, convencido que é urgente um processo de regionalização estruturado e pensado diferente, que possa ter uma visão global dos problemas, liberta dos compromissos que governar uma freguesia ou um concelho impõem. E se esse processo envolver Autonomia, tanto melhor. Não devemos temer cidadãos livres. O país só terá a ganhar.

As fotos foram tiradas da net.