1. A Preguiça
1.5 Arte Contemporânea
"É difícil distinguir o que na arte contemporânea deriva de princípios teóricos fundamentados e o que brota da preguiça elaborada. Alguns daqueles princípios são ramificações da indolência mental. O mesmo dilema reflecte-se na questão do gosto. A maior parte das pessoas que aprecia móveis lisos e tijoleira justificam-se afirmando ser mais fácil limpar o pó e lavar o chão. Dantes, todo o artefacto mostrava o orgulho das nossas mãos laboradeiras: fosse uma canga, fosse uma mobília de cozinha, fosse uma barra de lençol, fosse uma chaminé. O trabalho manual individualizava toda a peça. Diz-se que o gosto actual é simples. Óbvio é tudo ser feito em série, por máquinas, em materiais medíocres, de modo a ser barato e consumido pelas massas. Quase tudo é linear, clínico, metálico, desumano, esquelético. Os nórdicos podem gostar dos Ikea; nunca foram à Índia nem viram o Brasil. Os Portugueses são excelentes é no barroco. Foi quando fomos poderosos e dominámos o mundo. O resto é conversa ideológica para enganar tolos. O minimalismo vem do equívoco zen entre moral e estética. É o avesso da cultura ocidental. Deve ser proibido, de tão perigoso. O desapego do mundo tem valor ético, mas a arte é afirmação de vida e não pode induzir a morte. O expressionismo abstracto já afirma a desfragmentação do ser, panteísmo tão fim de século. O desconstrutivismo avança, utiliza a arte para escarrar na moral. É terrorismo pior que pornografia. O cinema afronta a inteligência. Jornalistas escrevem romances. Poesia, nem lê-la. Arte sem cânone e vanguarda é fraude. Desapareceram ambos debaixo do manto letárgico com que se pavoneiam os artistas. Felizmente, a História vai limpar toda esta espuma dos dias." - Mário Cabral in Diário Insular
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