sábado, 28 de fevereiro de 2009

PECADOS CAPITAIS (5)


2. AVAREZA
2.1. AVAREZA EM SI

"Quase todos desejam ser ricos. Este instinto é mais forte que o sexo. Relaciona-se com a sobrevivência e com o poder e é, no limite, um amor perverso. Quem se insurgir contra o vício da avareza candidata-se a violentas batalhas sociais.
É fácil de provar que a avareza é demência, pois que algumas doenças mentais apresentam, como sintoma, a vontade imparável de comprar e acumular bens supérfluos. Alguns animais ostentam comportamento idêntico, sendo a casa daqueles infelizes análoga ao covil destas bestas.
A avareza é o mais tolo dos pecados porque o ser racional facilmente compreende que não levará consigo nada deste mundo. É verdade que, em algumas culturas, os mortos iam acompanhados de tesouros; mas, ao menos, acreditavam na vida eterna. A contrario sensu, numa época ateia, como a nossa, o instinto da posse torna-se mais patético, pois morremos! E sempre se soube que herdeiros descaminham as fortunas dos antepassados.
Nada do que é verdadeiramente importante pode ser comprado: a vida, a saúde, a alegria, o amor; estes são valores absolutos, que valem por si, em qualquer tempo ou cultura. Por outro lado, os bens materiais são um valor relativo – que faz um rico naufragado numa ilha deserta com toda a sua fortuna intacta?
Os ricos sabem-no muito bem no seu íntimo, embora raramente o digam, com medo: a felicidade não está no dinheiro. Por isso, pior do que os ricos, são os pobres que desejam ser ricos, na esperança de encontrarem a felicidade.
Nada está a ser feito na modernidade para contrariar a loucura da avareza. Ora, a miopia já representa um desvirtuamento da condição humana, descaradamente afirmando que as pessoas apenas servem para produzir e comprar, o que é falso." - Mário Cabral in Diário Insular

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