sábado, 21 de fevereiro de 2009

Ponta Delgada

Estou há uns dias de novo de volta a Ponta Delgada. De facto a cinzenta e triste cidade de há vinte e poucos anos atrás desapareceu. Continua a ser demasiado estreita e acanhada, mas a velha cidade entalada entre a Mata da Doca e a estrada que nos leva a S. Roque, em que tudo o que ficava a norte da Av. Antero de Quental e da rua de S. Gonçalo já era demasiado longe, deu lugar a uma cidade com um bom Campus Universitário, servida por boas estradas, com excelentes hotéis e boa restauração. Nestes aspectos está a anos luz da Angra e da maioria das nossas cidades de idêntica dimensão.
Vem esta minha reflexão a propósito da revista de bordo nº 30 da SATA, a Azorean Spirit, que na página 34 apresenta um artigo assinado por Teresa Violante e começa assim:
"Centro da vida açoriana. Capital do arquipélago, alia magistralmente tradição e modernidade. É uma cidade que se vai desvendando a cada passo, com calma, envolta nos aromas do mar."
Descontando o estilo da escrita, já que se trata de um artigo promocional de uma revista de bordo, acompanhado de boas fotos, peca por duas coisas no essencial: atribui a Ponta Delgada o estatuto de capital, que não tem, e a certo ponto cai na tentação de querer confundir a cidade com o arquipélago, quando fazê-lo mesmo em relação só a S. Miguel é já um exagero.
Não sei se tal se deveu ao facto da autora, por eventualmente ser natural da cidade que descreve, se ter deixado entusiasmar pela escrita, o que até é compreensível, se resultou apenas de pura ignorância. Em qualquer dos casos mais rigor era desejável já que este tipo de revista corre meio mundo e, no caso, a divulgar uma mentira.

Esta questão da capital é recorrente, com uns a reclamarem o estatuto em consequência da dimensão e importância que Ponta Delgada tem, e eu não nego, e outros a negarem, com argumentos rebuscados da História. Em ambos os casos sente-se sempre um aroma a bairrismo doentio.
Ambos se esquecem que o importante não é aceitar que Ponta Delgada não é a capital apenas por ser Ponta Delgada. Não é, nem deve ser qualquer outra das nossas cidades.
O importante é afirmar que o arquipélago, a Região, não tem capital, simplesmente porque assim o decidiu, pois ter uma capital não serve para absolutamente coisa alguma.
Pode parecer pouco, mas, ao negar ter no seu seio algo cujo conceito é tão simbolicamente centralista, como é uma capital, os Açores fizeram jus à sua História.
É, em minha opinião, um traço de grande modernidade que torna a regionalização e a autonomia política do arquipélago tão singulares e que devia servir de exemplo para o futuro processo de regionalização do nosso território continental.


1 comentário:

  1. Pois é meu caro de facto os Açores são politicamente descentralizados. Mas como sabemos muitas vezes as opções politicas quase que cristalizam perante a dinâmica socio-económica. Ponta Delgada só não é a capital politica da região porque o estatuto assim o diz mas ninguem lhe tira o papel de capital economica. Esta situação tem vindo paulatinamente a acontecer perante a passividade especialmente dos Terceirenses. Recordo a dificuldade que foi para a instalação do parque de combustiveis na Terceira, quantos anos foram necessários de estudos e mais estudos quando toda a gente já sabia que a EDA já tinha verificado que era mais barato fazer o abastecimento do arquipelago a partir daqui. Agora o Dornier vai-se embora? Vá lá que a SATA regional é obrigada a voar para a Terceira porque a Sata internacional raramente aparece por aqui. A continuarem os investimentos em hoteis, restaurantes e lojas cada vez Ponta Delaga se irá distanciar mais até qualquer dia não dê para tapar o sol com a peneira.

    Um abraço

    O Viajante

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