“Assim, numa palavra, tudo indicia que o actual mandato contém os ingredientes típicos do final de consulado, ao prolongar-se num tempo, que está para além do tempo, a que o funcionamento do jogo democrático aconselha como limite, a fim de que a imaginação dos protagonistas, o arejamento das propostas, o não esbanjamento das oportunidades e o aproveitamento das sinergias, sejam uma realidade vivida e, no caso presente, proveitosa para os açorianos.” José Gabriel Ávila in A União.
O X Governo Regional tomou posse, dando início a mais um mandato que, pessoalmente, espero seja o último, pelo menos até 2020.
Tenho esta esperança, não porque tenha alguma simpatia especial pelo PSD ou mesmo pelo PS, mas porque também considero que este está de forma nítida em fim-de-ciclo.
A composição do Governo é a prova de que o PS inicia mais um mandato numa altura em que já leva um mandato a mais, em minha opinião. Quatro mandatos são 16 anos, é meia geração. É tempo demais.
Ao fim de doze anos de PS no poder, começa já a haver alguma perda de memória, especialmente junto daqueles que começam a ficar com a falsa sensação de que o poder é eterno. É bom, por isso, fazer de vez em quando algum exercício de recuperação dessa mesma memória.
Na história do regime democrático nos Açores, existem, em minha opinião, dois momentos marcantes: a instauração do regime autonómico em 1976 e a primeira mudança de poder em 1996.
Sobre a evidente importância do primeiro dispenso-me de fazer mais comentários.
O segundo foi o consumar da democracia e de uma das suas maiores qualidades, a alternância. E esta estava por cumprir há 20 anos.
A mudança trouxe renovação, caras novas, desenvolvimento e a Região cresceu. Não de forma harmoniosa, mas isso é outro assunto.
Em ambos houve um homem que teve o papel principal: Mota Amaral.
Devo dizer também que não tenho qualquer simpatia especial por Mota Amaral, mas reconheço-lhe a sua importância enquanto protagonista destes dois momentos.
Em 1976 por ter presidido ao 1º Governo Regional e em 1996 por, num gesto solitário de enorme sobriedade, ter sabido afastar-se da política regional criando as condições para que o PS, que na altura coleccionava e triturava líderes atrás de líderes (podíamos estar a falar do actual PSD), ganhasse as eleições. Carlos César dever-lhe-á isso para sempre.
Não tenho dúvidas quanto a este assunto: se Mota Amaral tivesse concorrido às eleições de 1996, Carlos César, à época pouco mais que um obscuro funcionário do PS, não seria hoje Presidente do Governo Regional.
Nos 20 anos que foi poder, o PSD manipulou tudo o que havia a manipular. Havia comissários políticos, caciquismo e uma autêntica corte, caduca e grotesca, que parasitava em torno do presidente e do poder. Hoje a corte é mais sofisticada mas mantém o mesmo carácter.
Ao fim desses 20 anos Mota Amaral percebeu que já não dominava o monstro e só lhe restava afastar-se e deixá-lo morrer de morte natural. Só que este monstro nunca morre, apenas fica letárgico e rapidamente se recompõe alimentado pelo poder.
Saiba Carlos César em 2012 ter a mesma visão, pois nessa altura irá ter circunstâncias idênticas: o Governo não apresentará apenas sintomas, padecerá mesmo de fim-de-ciclo em fase terminal.
Se não a tiver, que a tenha o eleitorado. O desenvolvimento dos Açores a isso obriga.
Há uma série de presupostos neste post que estão errados.
ResponderEliminarNos anos de agonia de Mota Amaral, nao havia espaço de renovação. O ciclo era fechado. Eram sempre os mesmos a circular.
O sistema, naturalmente, apodreceu. Começaram a suceder-se os escandalos.
Entretanto dentro do próprio PSD as coisas mudaram. Cavaco Silva tinha na altura, aliás como hoje tem, uma visão restrita da autonomia. E pôs essa visão em prática.
Cercado, num piso apodrecido, Mota Amaral resignou, após 20 anos de poder.
Apesar do PS ser poder há apenas 12 anos, vêem-se sinais de renovação. Há gente que entra e há gente que sai. Uns tranquilamente, outros não. Mas renova-se.
Coisa que o PPD/PSD nunca o soube fazer. E por isso ainda lhe aparecer facturas.
O ciclo de mudança, a meu ver, só pode ter um motor: a crise que provavelmente se aproxima. Mas tem dois bicos.....
Caro Anónimo,
ResponderEliminarEm relação à análise sobre o período de governo de Mota Amaral, completamente de acordo. Mas isso não lhe tira o protagonismo que teve na eleição de Carlos César.
O eleitorado açoreano é conservador, não gosta de mudanças.
Em relação ao PS discordo do "apenas há 12 anos". Pessoalmente, considero que após dois mandatos os governos começam a ficar fora de prazo. Mas, repito, isto é a minha opinião, pois considero que renovação implica mudança e esta é muito difícil dentro do poder instalado.
O ciclo de mudança tendo como motor a crise não se aproxima, está em curso, porque ao contrário do que vai dizendo, esta já aí está desde 2003.
Era interessante podermos voltar a trocar ideias em 2012 e compararmos o estado do poder do PS em comparação com o que era o poder do PSD com a mesma idade. Estou convencido que não haverá grandes diferenças.