2.6. FALSOS POBRES
"É muito custoso ser pobre em época onde a riqueza é estimulada ao nível das instituições. É como ter lepra. Os governos, em especial os ditos de esquerda, desesperam para transformar os pobres em burgueses. Têm vergonha dos pobres. Muitos foram falsos pobres. São piores que os capitalistas, que ao menos não escondem aquilo em que acreditam.
Os pobres intuem o insulto escondido atrás do discurso que declara guerra à pobreza. Não admira que quase ninguém queira ser pobre nos tempos que correm. Um pobre que não deseja ser pobre não é um verdadeiro pobre. Merece compreensão, mas não apoio. Apoiado, será dos piores inimigos da pobreza.
A sociedade que elogia a riqueza dá um tiro nos pés. Baseia-se num princípio errado, pois a vida em grupo deve buscar a coesão e a ânsia de riqueza não costuma estar associada à solidariedade, ao sacrifício e a qualidades comunitárias como estas.
Antigamente, havia outro tipo de falsa pobreza, de preferência no mundo rural. Era no tempo em que a filosofia contra os bens deste mundo mantinha povos coesos, com abundante “capital social”, como agora se diz. Muitos avarentos aparentavam quase miséria, com fortunas debaixo do colchão. Tinham vergonha de ser ricos.
Todos conhecemos a expressão “pobre e soberbo”, que designa uma terceira espécie de falsa pobreza. A frase classifica aqueles que recusam a ajuda que precisam. É das piores avarezas, pois quem não quer ser ajudado não quer ajudar. Recusar a dependência é recusar laços sociais.
O “pobre de espírito” também não é um pobre verdadeiro. O pobre verdadeiro quer ser pobre. Tal vontade revela conhecer a essência da Vida. A este nível é-se excelente, jamais miserável. Um homem destes é um bem social." - Mário Cabral in Diário Insular
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