domingo, 5 de abril de 2009

PECADOS CAPITAIS (9)


2. AVAREZA
2.5. DIREITOS DE AUTOR

"O avarento mais descabelado é o intelectual contemporâneo. É sabido que a maior das riquezas é a espiritual, porque tudo o que é humano começa na vontade livre inteligente. Não é de estranhar, pois, que o paroxismo da sovinice seja atingido com a presunção dos direitos de autor.
Durante muitos séculos os artistas não assinaram as suas obras. Pressupunha-se que o estilo verdadeiro não precisava de assinatura, assim como a originalidade, que não é o mesmo que criatividade. A permissão da usura autorizou, também, a rubrica na obra-de-arte, ao mesmo tempo que se foi passando a voz de que o trabalho artístico era mais transpiração do que inspiração; certo é que começou a cheirar mal.
Até aos anos 80 do século XX ainda era comum encontrar académicos, cientistas e artistas que não tinham particular atracção pelos bens materiais. Na feira de vaidades que pode ser a vida do espírito, esta era uma nota de aristocracia antiga. O burguês encolhia-se diante da superioridade do sábio. Porém, o cenário foi invertido e na actualidade vende-se livros e quadros como se vendem sabonetes e cuecas.
Como seria de esperar, as leis do mercado afogaram a originalidade, que significa ir à Origem. Ninguém quer ir à Origem, porque a Origem não vende. Todos querem ser criativos, que é adjectivo transformado em substantivo para definir os que inventam a moda. Os “best-sellers” expulsaram a Poesia. O burguês papou o artista.
Os novos criativos são muito ciosos dos seus “direitos de autor”. Ora, todo o verdadeiro artista sabe que grande parte do seu trabalho veio de fora: do muito que leu e estudou e do muito que não sabe entender donde. E sabe ainda mais: que a fonte permanece para que jorre a água pura." - Mário Cabral in Diário Insular

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