“O aumento da população que se verificou entre 1991 e 2001 não se distribuiu equitativamente em todas as ilhas dos Açores.(…) Esta tendência de concentração de população à custa de migrações internas está a contribuir para a desertificação da generalidade das ilhas dos Açores e configura um dos mais preocupantes problemas da coesão regional.” Aníbal Pires in A União Eu diria mais: configura uma preocupante tendência para transpor, a nível regional, muito do que sempre se criticou ao centralismo de Lisboa.
Aníbal Pires no artigo publicado n’A União do qual transcrevi o excerto acima, levanta, em minha opinião, o que considero ser o maior problema da Região actualmente: a concentração da maioria da população numa única ilha (S. Miguel com 54,5%) e consequente desertificação das restantes, em especial das mais pequenas, pois da restante população que não se concentra em S. Miguel, cerca de 50,6% está na Terceira (com cerca de 23,1% do total). Ou seja, temos mais de 77,5% da população em 2 ilhas.
O fenómeno de diminuição da população residente verifica-se desde 1960. No período entre 1960 e 2001 a Região perdeu 85.693 habitantes, cerca de 26%. No mesmo período S. Miguel perdeu 37.078 habitantes (cerca de 22%), a Terceira 15.777 habitantes (cerca de 22%) e o Faial 5.210 habitantes (cerca de 26%). Mas os piores valores percentuais verificam-se nas ilhas mais pequenas, com destaque para S. Maria que perdeu 7.655 habitantes (cerca de 58%).
Além dos problemas sociológicos ligados à desertificação e ao envelhecimento da população, há os problemas económicos associados, pois havendo menos gente, produz-se menos, consome-se menos, pagam-se menos impostos.
O impacto da diminuição da população não é igual em todas as ilhas e neste momento só uma ilha tem, em minha opinião, “massa crítica” para sustentar um mercado interno viável: S. Miguel.
Tem beneficiado sempre do seu tamanho, do facto de sediar a maioria dos serviços e empresas públicas, das políticas de transportes (aéreos e marítimos) e beneficiou em larga medida do investimento público entre 1991 e 2001, período em que registou ainda um aumento de população (cerca de 4,5%). Apenas o Corvo cresceu mais (cerca de 8,1%), mas em termos absolutos este valor percentual não tem qualquer impacto nesta ilha. A ideia actualmente tão na moda na macro-economia de que é preciso exportar em detrimento do consumo interno, faz sentido no nosso território continental, pois não sofre da descontinuidade territorial da Região e apesar de tudo está mais perto dos mercados consumidores europeus para onde exporta.
Em ilhas, o mercado interno é determinante: cada ilha tem necessidade de ter uma “massa crítica” mínima para sobreviver, caso contrário a alternativa será tornarmo-nos todos assalariados do Estado o que não é nem desejável, nem viável.
Traduzindo, cada ilha tem de ter população suficiente para que possa não só produzir, mas para que possa também internamente consumir.
E aqui, mais uma vez, o artigo de Aníbal Pires é pertinente, pois a inversão deste cenário não é possível apenas a partir da população residente mas sim com recurso à imigração.
Centremo-nos agora na Terceira, e com a tomada de posse quer do novo Governo, quer dos deputados na ALR, penso ter chegado uma boa altura para questionarmos os políticos locais (da Terceira) sobre estes problemas.
A tal “massa crítica” para o mercado interno começa a dar sinais de falhar. A tão difundida frase “Angra, capital açoreana da Cultura” deixou há muito de fazer qualquer sentido.
Angra e a Terceira têm de olhar para Ponta Delgada e para S. Miguel e decidir, pondo de parte alguns tipos de rivalidades irracionais sem sentido (não todas, apenas estas), se quer acompanhar o desenvolvimento que estas últimas verificaram nos últimos 20 anos ou se pretendem definhar e continuar a acreditar que a Base é a solução para o seu desenvolvimento.
Queixamo-nos muitas vezes que as sedes de tudo e mais alguma coisa vão para lá. E se alguns dos serviços e empresas se quiserem sediar cá, teremos gente em número e qualidade para isso?
Precisamos de mais gente e de mais empresas. De mais gente qualificada, de empresas que incorporem o que agora se designa por I&D. Precisamos também de dar algum sentido ao facto de termos um pólo universitário (que cresce e remodela-se a uma velocidade inferior à dum caracol) e à formação contínua de quadros no activo.
É preciso acordar a sociedade civil. É preciso também não deixar a classe política amolecer no conforto de estar à mesa do poder e dos nossos centralismos.