terça-feira, 31 de agosto de 2010
Chamem o FMI (5)
Inaceitável
O "terraplanagem" é da responsabilidade do DI, que aderiu ao "portugalês", infelizmente.
Tratar mal a nossa língua é tão mau como derrubar dragoeiros. Inaceitável.
segunda-feira, 30 de agosto de 2010
Maranatha (32)
domingo, 29 de agosto de 2010
Maranatha (31)
5. ORDENS, CORPORAÇÕES, COOPERATIVAS E SINDICATOS
"O capitalismo afogou os sindicatos, que praticamente já nada valem. O perigo é imenso: avança o monopólio e, por conseguinte, morre a propriedade privada.
Henri Texier Sonjal Septet
Além do próprio no baixo, é acompanhado por Sebastien Texier (saxofone alto), Julien Lourau (saxofone tenor), Francois Corneloup (saxofone soprano), Bojan Zulfikarpasic (piano), Noel Akchote (guitarra) e Jacques Mahieux (bateria).
sábado, 28 de agosto de 2010
Maranatha (30)
4. PRODUTORES E CONSUMIDORES
"Houve altura em que a Graciosa tinha mais vinho do que água; como nas ilhas todas, não havia dinheiro, embora não faltasse feijão, batata, ovos, peixe e o resto.
sexta-feira, 27 de agosto de 2010
The Berliner Philharmoniker’s Season Opening
Maranatha (29)
IV. ECONOMIA
3. NEGÓCIOS DE FAMÍLIA
"Natural é o trabalho reflectir o valor moral de quem o faz. Também se chamava “artes” aos “ofícios”, quando estes atingiam a perfeição da excelência. De um carpinteiro que fizesse móveis onde projectasse o gosto compenetrado com a ocupação dos seus dias, dizia-se: «É um artista».
Não queria ficar rico a todo o custo. Sustentava a família e desejava, isto sim, ter um filho que herdasse o seu jeito e a sua seriedade. A carteira de clientes, todos conhecidos pelo nome, família e freguesia de origem, passava de geração em geração.
Quando as coisas são assim, o trabalho não é uma alienação. A oficina do sapateiro é ponto de encontro, no barbeiro discute-se as notícias e na costureira apertam-se os laços comunitários. O que não se faz hoje faz-se amanhã, que o patrão é o próprio empregado, ou então o pai, avô, tio ou padrinho. Perdoa-se um atraso a um neto, dá-se uma folga ao filho da irmã, não se despede um afilhado que acabou de casar.
Raramente alguém é aldrabado: o dono não vai gastar em toleimas de função pública, porque o dinheiro é seu e custa a ganhar; o filho não vai roubar o pai, antes esforçar-se-á para atingir a sua mestria, pois vê o respeito que todos lhe têm; e só uma pessoa que não presta engana um freguês antigo.
Estas são as qualidades das pequenas empresas familiares que voltarão a ser defendidas em Maranatha. O Estado estará muito atento às multinacionais e às sociedades anónimas, obcecadas com o lucro e com tendência a escravizar a pessoa humana.
Não haverá empresas públicas com objectivos políticos descarados. Aliás, o maior inimigo do trabalho em Maranatha serão os políticos “Maria-vai-com-as-outras”, estrangeirados que não sabem o luxo que herdaram." - Mário Cabral in Diário Insular
quinta-feira, 26 de agosto de 2010
Sócrates, aprende que a senhora não dura para sempre (3)
Maranatha (28)
IV. ECONOMIA
2. ELOGIO DO TRABALHO
"Trabalhar faz parte do Homem, activo por natureza. Outros animais são construtores notáveis: ninhos, diques, torres... Até as plantas, ao seu nível, produzem actividade. As nossas mãos reflectem a alta elaboração do nosso espírito.
A preguiça é defeito grave. Vai reduzindo vontade, criatividade e inteligência, fechando-nos abaixo do nível de pessoas, embrutecendo-nos.
O trabalho é a via privilegiada para a comunicação e o entrosamento social. É um direito natural inalienável.
As relações de trabalho são complexas e geram conflitos graves. Nem todos trabalham por sua conta e naquilo que gostam, o que motiva choques entre a liberdade e as obrigações.
No essencial, será odioso escravizar ou explorar alguém. Percebe-se quando alguém está a trabalhar de mais, ou a ganhar muito ou pouco, num determinado contexto. Os horários jamais poderão sobrepor-se às obrigações familiares e ninguém será obrigado a trabalhar longe do seu lar. Será proibido trabalhar ao Domingo. Não se poderá despedir sem justa causa. O Estado empregará o mínimo. Há direito a subsídio de desemprego. Não há direito a subsídio de férias.
Teremos muito cuidado com a introdução das máquinas: visam aliviar o esforço, não aumentar o lucro.
Em Maranatha todos trabalharão, desde crianças a velhos. Combata-se o cinismo moderno que exclui uns e outros da “vida activa”, fomentando a indolência e a convicção de que tudo nos é devido e nada nos é exigido. Claro que tudo tem uma medida, conforme o ritmo biológico e as exigências da educação; mas muitas tarefas podem ser executadas por crianças com ganho pedagógico, e muitas por velhos sábios, embora já cansados.
Quem não quiser trabalhar perderá todos os direitos sociais." - Mário Cabral in Diário Insular
Jacob Dinesen
No saxofone, com um punhado de músicos, a maioria do norte da Europa, com a qualidade a que já nos habituaram.
quarta-feira, 25 de agosto de 2010
Maranatha (27)
IV. ECONOMIA
1. ELOGIO DA POBREZA
"Talvez seja o maior repto da nossa cidade: ninguém vai querer ser rico em Maranatha, muito menos os responsáveis farão o discurso da nação forte economicamente.
Tal não significa apologia da miséria.
Tal não significa que a riqueza vá ser proibida.
Uma coisa é ser rico, outra é querer sê-lo. O mal está sempre no segundo caso, embora não no primeiro, de forma necessária. Dois exemplos: uma pessoa pode herdar uma fortuna que nem desejou e utilizá-la para praticar a caridade; o trabalho honrado pode enriquecer alguém.
Desejar ser rico é estar muito confundido acerca da essência da felicidade e preparar-se para vender a alma ao Diabo, passando por cima de pessoas e de princípios morais para atingir o dinheiro e a influência que o poder económico promove.
Para além de ser, na sua essência, um desejo imoral, torna-se logo numa ambição anti-social, porque quem almeja ser rico pensa primeiro no seu interesse pessoal e nunca está disposto ao sacrifício que o bem comum muitas vezes exige.
Portanto, mais importante do que os particulares de Maranatha não quererem ser ricos será o rei, o senado e o governo não provocarem nem por discursos nem por acções a ideia de que o bem-estar material é determinante para a saúde da Pátria, o que é falso, ao contrário daquilo que se ouve – era para a América e a Europa serem o céu na terra!
Jamais economia ou gestão terão aqui lugar cimeiro. Os políticos formar-se-ão em Humanidades, havendo segundos lugares técnicos para os excelentes em contas. Ideias primeiro; números depois.
Byron tem aqueles versos famosos sobre os impérios: «primeiro a liberdade e a glória; quando estas falham, vem a riqueza, o vício e a corrupção – e, por último, a barbárie»." - Mário Cabral in Diário Insular
terça-feira, 24 de agosto de 2010
Maranatha (26)
III. PODER
10. UM DIA EM MARANATHA
"Já é possível visitar Maranatha; passemos, pois, lá, um dia.
Escolheremos os finais de Setembro, quando o trabalho da terra dá o seu fruto e, cansados mas satisfeitos, os homens todos são reis.
Chegaremos às sete; os alunos, que iniciaram o ano lectivo, encontram-se na missa, que antecede as aulas. À luz doirada que entra pelas janelas altas, distinguiremos as raparigas numa ala e os rapazes noutra, todos de farda imaculada. Atrás, senadores e povo salteado.
Os jovens não saem do templo, que há portas específicas pelas quais seus mestres os conduzem aos corredores escolares, rapazes para um lado, raparigas para o outro. Algazarra própria da idade vem destas portas para a igreja.
Saímos pelo meio do povo, que vai consultando os senadores sobre diversos assuntos, demorando-se nos degraus e pelo meio da praça. Muitas vezes os casos ficam tratados antes que se chegue ao palácio.
Enquanto descemos, somos tomados pelos perfumes misturados que vêm do mercado: uvas brancas e uvas de cheiro, figos pretos esbeiçados, ervilhas e favas, abóboras e mogangos, peixe ainda saltitante. Ouvem-se pregões, conversas em voz alta e gritos de entusiasmo. Uma multidão anda às compras e pára de conversa debaixo das arcadas e na praça, onde não há carros.
Perdemo-nos nas horas. Simpáticas, as pessoas cavaqueiam. Quando pensamos tomar o campo, já os alunos estão no intervalo. Os senadores observam-nos com atenção, estudam seus modos e temperamentos, procuram futuros governantes.
Optamos por almoçar na esplanada duma venda. Há odores de compotas. A dona insiste em levar-nos à cozinha. Lá, dita um itinerário. Entretanto, convida-nos para assistir, à noite, à filarmónica do liceu.
Às dez já o silêncio lunar." - Mário Cabral in Diário Insular
Sócrates, aprende que a senhora não dura para sempre (2)
segunda-feira, 23 de agosto de 2010
Chamem o FMI (4)
Maranatha (25)
III. PODER
9. A CIDADE ORIENTADA
"A planta duma cidade fala da sua vida profunda. Maranatha vai ter a forma duma cruz, onde o centro, o coração, será a praça principal; quadrada, cada um dos lados ocupado por um só edifício. Estes terão colunata, à imagem do Terreiro do Paço.
No meio, um belo coreto.
Num dos lados acharemos o palácio real, onde funcionarão todos os serviços do poder: senado, governo e tribunal.
Em frente, eis a igreja, com dois braços, à maneira dos antigos colégios de Jesuítas, onde estarão as escolas, precisamente, desde a primeira classe até à universidade. Acede-se ao templo por uma nobre escadaria, como deve ser; só as alas da escola terão peristilo.
O terceiro lado é constituído pela praça do mercado, só por si uma festa de alegria plena; e no quarto veremos o teatro, ou casa das artes. Debaixo das arcadas da escola e do teatro acomodam-se diversas oficinas, onde os alunos passarão parte do seu tempo lectivo, a praticar com os sapateiros, com os correeiros, com os diversos lojistas, com os pintores e os escultores, etc.
Atrás da igreja o cemitério, ladeado pelos pátios da escola. Bem ao longe, em linha recta, já entrado na floresta natural, um grande convento de clausura, onde funcionará o seminário.
Atrás do palácio, a cadeia, dentro do castelo, que albergará as Forças Armadas e o serviço militar obrigatório, apenas para varões; atrás do teatro, o hospital.
Note-se que não há bancos nesta praça – serão proibidos em Maranatha.
Todas as casas terão um quintal dum alqueire, começando aí os campos cultivados, em redor: as hortas, as estufas, os pomares, as cearas, o gado a pastar no silêncio.
Nem um único terreno abandonado às silvas!
Por todo o lado a geometria do trabalho da mão humana." - Mário Cabral in Diário Insular
Chamem o FMI (3)
Sócrates, aprende que a senhora não dura para sempre (1)
De acordo com o jornal "Berliner Zeitung", a DIHK aponta para que o número de desempregados alemães vai ascender a 3,2 milhões este ano, o que corresponde a uma quebra de 250 mil face a 2009." - in Económico
Iván Santaeularia
O esplendor do piano, acompanhado por Yeray Hernandez (guitarra), Santos Acevedo (contrabaixo) e Ramiro Rosa (bateria).
domingo, 22 de agosto de 2010
Maranatha (24)
III. PODER
8. O PORTA-ESTANDARTE
"A maior tragédia da Europa actual reside na completa ausência de homens com visão. A América tentou apostar num herdeiro do «I Have a Dream», que ainda não convenceu.
Ter visão é mirar um horizonte largo, palpitar com uma convicção profunda, estar entusiasmado, consumir-se em fogo vivo e atear este fogo no coração e na alma de todos os homens; apontar para a frente, para o Além da Perfeição.
Em Maranatha, o Senado escolherá os governantes com base neste traço de carácter. Não interessa se é nobre ou plebeu, doutor ou pescador, rico ou pobre, branco ou preto – o Espírito sopra onde quer e como quer.
Mas deixa rasto: estes homens de génio têm olhos de vidro e uma dança dos gestos… é toda uma questão física, intuitiva.
Cheira-se um porta-estandarte.
Eles incarnam a alma dos antepassados e enchem-se de zelo pela pátria e pelo povo. Podem não ser bons em contas e mostrarem defeitos de personalidade evidentes (serem irascíveis, por exemplo); não interessa, não estão sozinhos, têm uma plêiade de anciãos sensatos com os pés no chão e com imenso poder real.
Eles têm as asas e o sangue a ferver.
Diz-se que procuramos todos a felicidade. Interessa saber a qual delas nos referimos. Aristóteles apontou quatro: o prazer, o dinheiro, a fama e a contemplação. Só a última realiza por completo o infinito potencial humano. É por isso que “se cheira” quem tem visão: vemos nos olhos dele o Paraíso Perdido.
Compreende-se porque é que o prazer, o dinheiro e a fama não garantem uma felicidade perfeita, tal como também se entende porque é que a maioria anda atrás dum ou doutro destes bens. Em Maranatha não será proibido almejá-los, dentro dos limites do direito natural.
Mas não terão poder político." - Mário Cabral in Diário Insular
Iván Rojas Quartet
O subtil som da guitarra. Além do próprio o quarteto inclui também Guillermo Calliero, Marko Lohikari e André Sumelius.
sábado, 21 de agosto de 2010
Chamem o FMI (2)
Maranatha (23)
III. PODER
7. SERVIÇOS DO ESTADO
"Há que especificar o princípio de subsidiariedade, pois até os estados corrompidos, como a Europa e a América actuais, defendem, no papel, de modo cínico, aquilo que pervertem no dia-a-dia.
Haja em vista a agricultura, que morreu nas ilhas, abafada pelos subsídios monopolistas e centralizadores que, para além do mais, geram a ignorância do trabalho e fomentam a preguiça.
Haja em vista a educação nas mãos ideológicas dos políticos decadentes; porque não pagam o equivalente que gastam com cada aluno para os que quiserem se inscrevam nas escolas particulares, que demonstram revelar melhor serviço?
Por outro lado, muitos bens essenciais não atraem a iniciativa privada, por razões diversas, por exemplo a criação e gestão de hospitais. Sempre que for o caso, são da responsabilidade estatal, que deve zelar para que cada cidadão pague à proporção da sua riqueza particular, evitando a demagogice da equidade e do serviço gratuito para todos.
Esteja o Estado muitíssimo atento às relações entre os particulares, porque os seres humanos não são anjos: controle muito de perto as condições de trabalho, por exemplo, para que não haja exploração de nenhuma das partes pela outra. O subsídio de desemprego é mais do que justo na maior parte das situações.
E o mesmo com o rendimento mínimo, princípio de grande humanismo que é pervertido quando o Estado não fiscaliza de perto a corrupção gerada em seu redor; não se faça em Maranatha como agora, em Portugal, que se olha para os infelizes como se fossem eles os culpados da pouca-vergonha nacional. Os grandes princípios são como jarras de porcelana e fiscalizar significa cuidar deles.
Por fim, a lógica do Estado não pode ser concorrente da privada." - Mário Cabral in Diário Insular
Ismael Dueñas
Ao piano, acompanhado por Pere Soto (guitarra), Marti Serra (saxofone), Manel Vega (contrabaixo) e David Xirgu (bateria).
sexta-feira, 20 de agosto de 2010
Maranatha (22)
III. PODER
6. PRINCÍPIO DE SUBSIDIARIEDADE
"O Senado de Maranatha vai orientar o governo com base no princípio de subsidiariedade. Este, na sua essência, tem duas linhas de força que partem em direcções opostas com vista a conseguir o equilíbrio social.
A primeira assegura que o Estado não pode sufocar a autoridade, responsabilidade e criatividade individuais, com o risco de aniquilar a dignidade humana; a segunda, que o Estado tem a obrigação de ser solidário com todos aqueles que, por diversos motivos, não conseguem escapar aos infortúnios que podem lançar uma pessoa para fora do seu estatuto social e natural.
O que a pessoa puder fazer, que ninguém faça por ela; o que for dever da família, seja deixado à sua responsabilidade; aquilo de que a freguesia precisar não tem de ser deliberado na cidade, assim como a cidade pouco há-de precisar do Estado.
Muito importante em todos os patamares da escada social: sejam evitados os subsídios, empréstimos e ajudas de cima para baixo; quase sempre são presentes envenenados que hipotecam a liberdade.
O que a pessoa quiser fazer, seja deixado à sua livre iniciativa, desde que não ofenda princípios comunitários; os negócios de família sejam aplaudidos, desde que não mafiosos; que batalhe a freguesia por ser independente da cidade e a cidade por não precisar do Estado.
Quem não quiser trabalhar, não coma; família que não ampare os seus não seja apoiada; freguesia que gaste em desvarios que os pague; cidade-cigarra que se desunhe.
Ao infortunado seja estendida a mão direita; e também a esquerda, se for o caso. Hoje meu, amanhã teu. O rico que participe à proporção da sorte que teve, ele deve muito a muita gente; e o pobre que ajude o rico a nunca se esquecer das voltas que o mundo dá." - Mário Cabral in Diário Insular
Iñaki Salvador Trío
Além do próprio, o trio é constituído por David Xirgu (batería) e Jordi Gaspar (contrabaixo).
quinta-feira, 19 de agosto de 2010
Sócrates, aprende que a senhora não dura para sempre
Maranatha (21)
III. PODER
5. ESTADO
"Dá a impressão que os órgãos do poder português actual estão contra a cultura portuguesa de fundo. As leis também conseguem afrontar a ideia comum de Bem. Deste modo, pode acontecer que o Estado se oponha aos direitos dos particulares e, até, ao bem comum.
O Estado deve representar quem? A maioria? A maioria pode muito bem estar enganada ou ser manipulada. Até que ponto se pode votar contra o que é racionalmente defensável? Que maioria representa o Estado português actual? Que significado têm estes números comparados com os séculos da Tradição?
Por tudo isto, em Maranatha, o senado funcionará como a raiz da Pátria, contra a qual nada poderão os governos. Não se permite que uma nação ande ao sabor de modas e devaneios sem fundamento.
O Estado saudável é, pois, aquele que deriva naturalmente da comunidade. Maranatha será uma espécie de cidade-estado, visto que os problemas políticos surgem com a despersonalização da terra-natal.
O Estado não é “um mal necessário”, como pensam os liberais, que acrescentam: «Quanto menos Estado, melhor». Quando tal acontece é a lei da selva. É inegável que os interesses privados são diferentes dos interesses comunitários. Uma sociedade tem precisão de bens que os privados não cumprem com isenção. A decadência social começa quanto tudo se privatiza. Deixa de haver cimento social e tudo se desagrega.
Quais são os deveres do Estado? Defender a família natural, a propriedade privada, a privacidade e o direito natural contra todas as investidas do comunismo. Esta batalha só pára às portas do interesse comum, como seja a destruição de todo o monopólio (uma necessidade comunitária nas mãos dum privado). Cabe-lhe, ainda, zelar pela segurança social." - Mário Cabral in Diário Insular
quarta-feira, 18 de agosto de 2010
Maranatha (20)
III. PODER
4. S P Q R
"Não precisamos dum sistema novo para Maranatha; inspiremo-nos no mais genuinamente açoriano: o Império do Senhor Divino Espírito Santo – política, no seu melhor.
As vantagens são muitas: aqui, sim, o poder é popular e livre; tem séculos de provas de eficácia; não apresenta cansaço em época onde tudo se deteriora depressa; e, no mais importante, obedece aos princípios da justiça e do direito natural.
E é nosso!
Os anciãos terão um papel capital na política de Maranatha. Como esquecê-los? Têm a experiência, estão aliviados do desejo e das responsabilidades familiares; e a idade melhora a sabedoria humana.
A partir dos sessentas, todas as mulheres e homens constituirão o senado. Este escolherá cinco governantes entre a população masculina activa de reconhecido mérito, para um mandato de três anos, que poderá ser repetido.
O senado será a visão permanente de longo alcance e o governo os braços actuantes.
Cada freguesia terá representação no governo da cidade, e o mesmo com o senado; e o governo e senado das cidades nos da ilha, etc., sempre de baixo para cima, por representação directa.
Supondo que Maranatha seja do tamanho da Terceira, o senado de ilha elegerá entre os anciãos o “Imperador” – ou “Imperatriz” – cargo vitalício sem hereditariedade de sangue. O que interessa reproduzir é a Cultura.
Os guiões das nossas procissões ainda trazem escrito SPQR, sigla remota do império romano, trazida pela Igreja Católica: Senatus Populusque Romanus, que significa: o Senado e o Povo Romano.
Não estaremos obrigados a repetir nenhum modelo; mas obrigar-nos-emos a ouvir a Tradição, a ver os sinais que permanecem, traços do nosso rosto, desejado livre.
Não tenhamos medo de experimentar." - Mário Cabral in Diário Insular
Chamem o FMI (1)
Esclarecimento num tom doutrinário cristalino, acrescento eu.
terça-feira, 17 de agosto de 2010
Chamem o FMI
NRP Sagres
Maranatha (19)
III. PODER
3. CONCEITOS QUE NÃO SERVEM
"Em Maranatha não teremos políticos profissionais; nem partidos políticos, sendo evitadas todas as ideologias que não tenham fundamento na vida real das comunidades; nem este tipo perverso de eleições, folclore abominável em que nos viciaram.
O trabalho duma pessoa é a forma pela qual ela se realiza enquanto indivíduo, ao mesmo tempo que sustenta a sua casa. O interesse comunitário não é uma profissão. São níveis distintos da realidade: a profissão está ao nível económico, enquanto os assuntos públicos estão ao nível político.
Fazer da coisa pública a sua profissão é uma contradição nos termos, que promove todo o género de confusões, a começar por esta — política confundida com economia — e todo o tipo de interesseiros.
Quem não tiver independência económica não poderá exercer actividade política. Esforçar-nos-emos para que os responsáveis por Maranatha consigam permanecer na sua vida privada normal. Nas freguesias, e mesmo nos municípios, as pessoas dão conta do recado. Mas admitindo a urgência de cargos a tempo inteiro, sejam estes pagos por cada comunidade, ao custo do ordenado de origem de cada um. O máximo será dois mandatos de três anos.
Quanto às ideologias, foram inventadas pelos modernos e já ninguém sabe o que fazer com elas. Partidos de direita e partidos de esquerda têm virtudes e vícios trocados, são defeituosos, pois não se enraízam na Verdade; são utopias adolescentes, que teimam em não resignar.
Uma coisa é “candidatar-se” outra é “ser eleito”. Há vaidade em quem se candidata e resignação em quem é eleito. A custo quem se candidata é o melhor, a custo a comunidade escolhe o pior. Está tudo dito sobre os dois tipos de eleições e a qualidade dum e doutro chefe." - Mário Cabral in Diário Insular
segunda-feira, 16 de agosto de 2010
Maranatha (18)
III. PODER
2. NOMES E REGIMES
"A democracia é o regime da burguesia, onde o povo não manda nada. As listas dos partidos não são feitas pelo povo e as eleições são fogo-de-vista. Pouco a pouco, a burguesia vai obrigando o povo a converter-se aos interesses dela. As cidades crescem e o campo esvazia-se.
Por aqui se vê que uma coisa é o nome, outra o regime. Não basta apregoar que “democracia” é “poder do povo”. É preciso concretizar a ideia do nome. Ora, na Grécia também não era bem o povo que mandava na dita democracia. E ainda é legítimo perguntar-se se uma nação deva ser mandada por todos e qualquer um.
Há uma falácia que ensombra a política moderna; é o falso dilema “ou democracia ou ditadura”. Existem muitos mais regimes – e nem sequer a tirania (à partida, o pior de todos, por se opor à liberdade) é sempre má, haja em vista Péricles, o chefe da Grécia áurea, amado e cantado… um bom tirano.
Para uma pessoa inteligente e culta, a teocracia é uma tentação, dado que Deus é o zénite ao qual obedecem os homens superiores. É a confusão – já proibida em Maranatha – entre a cidade dos homens e a cidade de Deus. Deus é Amor e quer ser amado; e todos nós sabemos que o amor não pode ser à força.
Talvez que a monarquia seja o regime mais universal; talvez que isto tenha a ver com o facto de ter uma força simbólica inegável, muito próxima dos arquétipos da família natural. Tem um defeito incontornável: o filho do rei pode ser a pessoa que menos mereça herdar o poder.
Por tudo isto, em Maranatha não vamos seguir nenhum destes regimes de pacote, por mais bajuladores que sejam os nomes. Vamos ter a coragem de seguir o modelo que nos parecer mais verdadeiro e justo, sem preocupações de originalidade ou imitação." - Mário Cabral in Diário Insular
domingo, 15 de agosto de 2010
Maranatha (17)
III. PODER
1. A ATRIBUIÇÃO DO PODER
"Não deixa de ser estranho que os seres humanos, tão ciosos da sua independência, admitam ceder poder. Não é, pois, a conquista de poder que interessa, em política, mas antes a atribuição de poder.
Não há o desejo inato de poder. Algumas pessoas ambicionam mandar, mas não todas, nem necessariamente as melhores. Também se pode dar o caso do chefe sublime ser aquele que não procurou o governo. Certo é muitos recusarem cargos de responsabilidade comunitária devido aos aborrecimentos que estes implicam.
Os melhores sistemas políticos são aqueles onde o poder não é conquistado, antes atribuído. Tem-se a certeza que prevalece o Bem Comum e não o interesse egoísta. Quanto aos que recusam servir a comunidade que os elegeu revelam falta de espírito de sacrifício, o que é deveras grave.
O poder é um derivado do amor, como fica claro ao estudar o microssistema familiar. “Ministro” é “quem serve”: servimos com alegria a quem amamos e sentimos que nos ama; sentimos que quem nos manda nos ama quando não rouba a nossa liberdade e antes nos protege e promove; se compadece.
As mulheres preferem ser mandadas pelos homens e os homens a custo se submetem às mulheres, facto comum em muitas outras espécies animais e que pode estar relacionado com os instintos de segurança e protecção. Obedecemos aos pais mas não aos irmãos, iguais a nós, eventuais adversários. A um estrangeiro jamais se dá o trono.
Portanto, preferimos outorgar poder a um homem, figura do Pai, mas admitimos obedecer a uma mulher, se esta não representar o feminino, mas a Mãe e a terra-natal – há grandes rainhas, mas não presidentas. O chefe não pode ser igual a nós, mas deve ter um vínculo ao nível profundo da terra e da cultura." - Mário Cabral in Diário Insular
Horacio Fumero
No contrabaixo, aqui numa mistura muito interessante com guitarra tocada por Pedro Javier González.
sábado, 14 de agosto de 2010
Maranatha (16)
II. FUNDAMENTOS
10. DIREITOS E DEVERES
"Direitos e deveres estão intimamente relacionados, como as faces de uma moeda que gira, o que se pode observar com clareza nas relações fundamentais.
Do facto de as mulheres terem o direito inalienável de ser mães segue-se o dever de criarem os seus filhos. Tal obrigação é muito exigente, pelo que têm o direito de estar acompanhadas na tarefa pelos maridos; devem-se, portanto, ambos, fidelidade mútua. As crianças, por sua vez, têm direito a um pai e a uma mãe; em contrapartida, devem-lhes obediência até à idade adulta. Mais tarde, estes deveres e direitos como que se invertem, devido ao processo biológico de vida.
Esta lógica deve ser imitada por todas as estruturas sociais, a partir do modelo familiar. Do facto de todas as pessoas terem o direito natural a uma família, segue-se o direito à propriedade privada e ao trabalho. Tais direitos obrigam as pessoas (e até os animais) à faina diária.
A vantagem maior em copiar a família reside no facto de, nela, o impulso de partida ser o amor: quem ama toma a sorte do outro como sua e não se importa de servi-lo, com vista ao seu bem. Ora, é imbatível que o amor é um cimento mais forte do que outro género de “argamassa contratual”, se é que procuramos a paz nas relações.
As pessoas são tanto melhores quanto mais amam e controlam o ego; portanto, os cidadãos perfeitos são aqueles que põem à frente os deveres, e não os direitos, e as comunidades ideais aquelas onde vigora o «um por todos e todos por um».
Há decadência política quando passa a valer o «salve-se quem puder».
De certa maneira, conservadores e modernos distinguem-se porque os primeiros valorizam os deveres e os segundos os direitos.
Maranatha será uma sociedade do Dever." - Mário Cabral in Diário Insular
Horacio "El Negro" Hernandez
Na bateria, com um ritmo muito latino e acompanhado por Marc Quinones (percussão), Michael Brecker (saxofone), John Patitucci (bateria) e Hilario Duran (piano).
sexta-feira, 13 de agosto de 2010
Primeiro-ministro satisfeito
Maranatha (15)
II. FUNDAMENTOS
9. OS QUATRO PILARES
"Casa bem construída carece de pilares firmes que aguentem as transformações que as circunstâncias impõem: pode ser necessário transformar um quarto-de-cama numa sala, ou vice-versa, conforme as urgências. A casa continua a mesma se a estrutura fundamental permanece inalterável.
Maranatha terá quatro pilares indestrutíveis: Liberdade, Privacidade, Fidelidade e Segurança.
O maior inimigo da liberdade é o ego, erva daninha que copia a forma da folha da planta que parasita, a ponto de ser confundida com ela. Todo o esforço será pouco para combatê-lo e aos seus derivados: egoísmo e egocentrismo, que têm a pior reprodução.
O ego depende do prazer e do desejo, que são particulares e subjectivos, enquanto a liberdade é a decisão responsável, que requer a razão universal objectiva. Dizer liberdade é, pois, dizer razão, responsabilidade e amor, ou seja, numa palavra, pessoa.
Habituámo-nos a que o Direito seja público, isto é, a que as leis tomem o partido do Estado, como se os privados fossem a origem do mal. Em Maranatha o Direito será privado, seguindo bem de perto o direito natural, que aponta para a privacidade da casa de família. Logo, privacidade é mais do que resguardo, sendo que na nossa cidade voltar-se-á a erigir uma grossa muralha que defenda da dessacralização da vida íntima.
Num lar assim amparado o amor volta a desenvolver-se, confiante e seguro. A custo um cão morde a mão do dono, quanto mais uma pessoa, quando bem ensinada. Está na natureza do amor ser exclusivo e, portanto, fiel. A traição é defeito insuportável porque gera a desconfiança e não é possível viver em paz sem segurança.
Confiança na vida, que tem sempre futuro.
E, pois, alegria e esperança." - Mário Cabral in Diário Insular
Hironobu Saito
Na guitarra, liderando um quarteto com Dennis Hamm (teclados), Philip Kuehn (contrabaixo) e Carmen Intorre (bateria).
quinta-feira, 12 de agosto de 2010
Maranatha (14)
II. FUNDAMENTOS
8. A TERRA-NATAL
"Maranatha não fará parte da União Europeia. Poucos têm capacidade de amar área tão vaga. Aproveitando o facto de estarmos numa ilha, espaço simbólico por excelência, tomemos a Terceira pela medida ideal para Maranatha.
O amor à terra-natal é sentimento-alicerce na sociedade que estamos a idealizar. Quem não é patriota está preparado para vender a própria mãe. Revela grave desvinculação face ao Passado, à Cultura e à Língua, o que perturba a saúde da política real.
Viver em comunidade exige laços de pertença, espécie de corpo colectivo no qual, à imagem dos órgãos físicos, cada um encontra a sua função e sentido específico integrado.
Ser mandado requer este vínculo.
A terra não é necessária para o efeito: judeus e ciganos são os contra-exemplos perfeitos, assim como os crentes duma religião, mesmo pertencentes a nações distintas (ex: os católicos). Mas é inegável que a terra-natal funciona como ventre que irmana aqueles que não pertencem à mesma família.
Ninguém ama a Europa desta maneira. Dantes, havia a Cristandade e as nações estavam unidas por laços de família. Mas o Protestantismo acabou com esta perfeição, que urge repor. Por enquanto, estão juntos pelo interesse, que nunca gera confiança. Não há uma religião europeia, nem uma cultura europeia, nem um povo europeu.
Nem sequer há Açores, ideia criada a partir das autonomias, modelos abstractos, isto é, que não foram realmente escolhidos pelo povo. Houve Açores quando havia a capital do Reino, mãe amada, que foi assassinada.
Na Terceira, preferimos ser mandados por Lisboa do que por Ponta Delgada. Pior, só a Europa, que nos rouba o mar e os costumes agrícolas, etc.
Os impérios são cancros.
A Pátria tem a forma dum coração." - Mário Cabral in Diário Insular
Hernán Merlo
No contrabaixo, marcando uma boa batida acompanhado por Guillermo Bazzola, Ernesto Jodos e Oscar Giunta.
quarta-feira, 11 de agosto de 2010
Maranatha (13)
II. FUNDAMENTOS
7. TER A QUEM DEIXAR
"Nalgum tempo, no campo, lamentava-se assim quem não tinha herdeiros: «Tanto trabalho para quê, se não tem a quem deixar!». É uma exclamação elíptica e profunda: ninguém vive para si e ter só faz sentido se for para dar.
Só uma análise superficial vê na herança apenas terras e dinheiro; curioso serem os materialistas os maiores adversários da herança, como é o caso de Marx e Proudhon. Os bens materiais começam por ser um símbolo do amor: queremos encher de bens aqueles que amamos.
Também se usava a expressão: «Deixou os filhos “amparados”».
Compreende-se melhor com os maus exemplos: o primeiro já foi dado; o segundo é o seu avesso: «O pulha do filho deu cabo de tudo o que o pai levou uma vida a juntar»; o terceiro é este: pode herdar-se uma situação calamitosa; o quarto conhecem-no à abundância os advogados, que tentam desenriçar muitos casos de partilhas conflituosas por causa de menos de meio metro dum serrado que não vale nada. Etc.
O bom herdeiro compromete-se com aquilo que herda porque ama as coisas como presença simbólica daqueles que o amaram. O bom herdeiro não pensa na riqueza, antes é o guardião responsável da “casa”, isto é, da família, do sangue, do bom nome, da honra e de valores reais como estes. Ele sabe que nada é seu, que é um elo na corrente da Relação.
Atacar a herança é atacar Cultura, História e Memória. Haja em vista o que está a acontecer na Europa depois dos movimentos políticos modernos nascidos do Iluminismo.
Os tiranos sorriem com aqueles que não dão as mãos na linha hereditária.
Atacar a herança particular é o começo da morte da Pátria e, portanto, um suicídio político. A modernidade é internacionalista.
Os melhores de nós dão até aos inimigos." - Mário Cabral in Diário Insular
terça-feira, 10 de agosto de 2010
Maranatha (12)
II. FUNDAMENTOS
6. A CASA
"«Quem casa quer casa», costuma dizer-se e está bem dito. Aves fazem ninhos, coelhos tocas, cães marcam terreno – porque não haveria o homem de habitar?
Uma casa não é um lugar qualquer. É o espaço sagrado da independência e da privacidade, a metonímia maior de todas; a casa concretiza a alma dos donos. Uma verdadeira casa é “substancial”.
As palavras “moral” e “ética” estão relacionadas com “morar” e “habitar”. A propriedade promove a responsabilidade. O amor constrói e preserva. Havana cai de podre porque nada é de ninguém.
Em Maranatha as casas serão lares. Não serão feitas por arquitectos, mas pelos próprios donos, para evitar experiências intelectuais que reduzem a integridade humana e destroem a Tradição; nem haverá apartamentos feitos por gente anónima a pensar em gente anónima.
Cada casa terá, pelo menos, um alqueire de terreno em redor.
Em Maranatha as pessoas nascerão em casa e morrerão em casa, saindo o funeral de casa. Tudo deverá ser feito para se gerar sentimentos de amor e sagrado aos nossos castelos contra a agressividade do mundo.
Deverá evitar-se a todo o custo o abandono das casas de família. Elas são o símbolo da união entre as várias gerações. Diz-se, por exemplo, “a casa de Bragança” para significar uma família e a sua história. Como dantes, será herdada pelo último a casar, que ficou a cuidar dos pais ou pelo que permaneceu solteiro.
Perder património voltará a ser uma vergonha.
Está bem de ver que ter casa significa direito à propriedade privada. Há dois inimigos da propriedade privada: o comunismo e o capitalismo. O capitalista já não sabe o que tem, já não ama, já não é responsável. Os monopólios são imorais. Ora, o comunismo é o monopólio do estado." - Mário Cabral in Diário Insular
segunda-feira, 9 de agosto de 2010
O (quase) admirável Mundo Novo
Vem isto a propósito de uma compra que fiz pela net numa loja virtual localizada em San Luis Obispo, CA, nos EUA. O artigo percorreu quase 13 000 km, mais ou menos a distância entre Angra e Singapura. Foi expedido a partir de Carlsbad (CA) e no estrangeiro passou por San Diego (CA), Memphis (TN) e Paris (FR). Em Portugal passou pela Maia, por Lisboa, pelas Lajes e foi-me finalmente entregue em mão, em Angra.
Aspectos positivos deste tipo de compras: não ficamos dependentes do que o mercado local tem. Mesmo que o queiramos esteja do outro lado do Mundo, podemos procurar, perguntar, dialogar, comprar e pagar em tempo real. Abençoadas net e globalização.
Aspectos negativos: os prazos nem sempre são o que desejaríamos, em geral por vivermos em Portugal e em especial nos Açores.
No caso desta compra em particular, tudo corria bem até o artigo aterrar no Porto (escala que fez na Maia). De Carlsbad (CA) à Maia foram gastos 4 dias.
Aqui, parece que caiu num buraco negro. Entre o tempo gasto nas actividades que parasitam este tipo de compras (Alfândega e Despachante, esta figura que julgava extinta mas que ainda persiste), no transporte para Lisboa, no posterior envio para as Lajes e na entrega final, decorreram 9 dias.
Conclusão: entre os EUA e a Maia gastou-se 31% do tempo para fazer 11 065,61 km (86% da distância total), entre a Maia e Angra gastou-se 69% do tempo para fazer 1 864,58 km (14% da distância total), ou seja, há muito a fazer no que respeita a transportes e logística e, para regiões com os Açores, são determinantes. E este tipo de problema coloca-se não só na entrada de produtos na Região, mas também na sua saída.
Outra lição pessoal que colhi desta compra: FedEx nunca mais.
Maranatha (11)
II. FUNDAMENTOS
5. LAÇOS
"Famílias grandes são barreiras contra a tirania, que é uma tentação do Estado. A família sente a sorte dos seus como sua, por causa do vínculo sentimental, que o Estado a custo consegue.
Um membro da família nunca é um número. Apoiam-se e não ficam dependentes do Governo. É a temível força do sangue e da terra natal (em Lisboa cumprimentamos pessoas que, na ilha, nunca foram nossas conhecidas).
Em Maranatha este género de laços e de pregas será altamente estimulado, contra a moda das sociedades lisas como folhas de papel quadriculado, onde as relações são abstractas e, pois, manipuláveis.
Não haverá asilos de velhos porque os avós são uma riqueza no lar. Para além de mais benévolos na educação dos netos, o que acentua a linhagem do amor, representam mais passado e mais história, forte adubo do presente. Mais: mostram o percurso natural a caminho da morte. Quanto mais gerações juntas, maior a libertação do materialismo. Para além disso, a memória é um antídoto contra a ditadura.
E há os tios e os padrinhos; os pais dos nossos primos também são filhos dos nossos avós; afinal a fonte é uma só; e, numa sociedade conservadora, os padrinhos garantem o futuro dos nossos filhos.
E há as famílias simbólicas ou metonímicas: a freguesia, o futebol, a religião… Numa freguesia de tamanho médio, todos os membros estarão ligados por via do parentesco. Ninguém estará fragilizado pela solidão ou pelo anonimato.
A sociologia chama a isto “capital social” e queixa-se de ele ter sido aniquilado nas megacidades modernas. “Capital” é um termo marxista, o que reflecte o materialismo da leitura, espécie de “mea culpa”.
Em Maranatha os laços não serão “capital, mas verdade, força, alegria, amor, vida." - Mário Cabral in Diário Insular
domingo, 8 de agosto de 2010
Maranatha (10)
II. FUNDAMENTOS
4. IRMÃOS
"Muito antes de sabermos que somos e quem somos já somos no mundo físico e mental da nossa família; e continuamos a ser, depois de mortos. Ninguém é só de si.
Começamos a ser dentro do corpo da nossa mãe. Somos, então, um corpo dentro doutro corpo. Alteramos a natureza dela para sempre. A partir deste facto, o nosso pai deixa de ser um homem qualquer.
A família é, com efeito, sagrada, pois todos os elementos se transcendem nela, encontrada a essência de cada um no outro. A vontade livre que junta os noivos casa com o sangue, nos filhos.
Se não houver nenhum impedimento, os irmãos são muitos. Os casais sentem, no seu íntimo, este apelo profundo, tamanho é o júbilo. Combater tal desejo contraria a felicidade.
Os irmãos descobrem-se no mesmo patamar ontológico por duas vezes: distintos, têm a mesma raiz; mas, se aos pais devem obediência, aos irmãos tratam por “tu”.
Daqui surge a fatídica confusão entre “fraternidade” e “igualdade”, de consequências políticas fundamentais.
A fraternidade é um sentimento de comunhão real; cresce no coração e amacia o egoísmo, trocado pelo DEVER. Meu irmão nunca é completamente diferente de mim.
A igualdade é um princípio matemático sem realidade concreta, pois meu irmão nunca é completamente igual a mim. Aumenta o egoísmo. Exige DIREITOS.
Todas as sociedades felizes alimentam o ideal de fraternidade. Os melhores dentre nós conseguem estendê-lo sobre todo o Universo, em famílias metonímicas.
Todas as sociedades que insistem na equidade terminam em tragédia; Caim tem matado muitas vezes Abel.
Maranatha é uma sociedade conservadora, obstinada com o dever fraternal. Depois da Revolução Francesa, todos os sistemas políticos optam pelo invejoso Caim." - Mário Cabral in Diário Insular