segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Maranatha (18)


III. PODER

2. NOMES E REGIMES

"A democracia é o regime da burguesia, onde o povo não manda nada. As listas dos partidos não são feitas pelo povo e as eleições são fogo-de-vista. Pouco a pouco, a burguesia vai obrigando o povo a converter-se aos interesses dela. As cidades crescem e o campo esvazia-se.
Por aqui se vê que uma coisa é o nome, outra o regime. Não basta apregoar que “democracia” é “poder do povo”. É preciso concretizar a ideia do nome. Ora, na Grécia também não era bem o povo que mandava na dita democracia. E ainda é legítimo perguntar-se se uma nação deva ser mandada por todos e qualquer um.
Há uma falácia que ensombra a política moderna; é o falso dilema “ou democracia ou ditadura”. Existem muitos mais regimes – e nem sequer a tirania (à partida, o pior de todos, por se opor à liberdade) é sempre má, haja em vista Péricles, o chefe da Grécia áurea, amado e cantado… um bom tirano.
Para uma pessoa inteligente e culta, a teocracia é uma tentação, dado que Deus é o zénite ao qual obedecem os homens superiores. É a confusão – já proibida em Maranatha – entre a cidade dos homens e a cidade de Deus. Deus é Amor e quer ser amado; e todos nós sabemos que o amor não pode ser à força.
Talvez que a monarquia seja o regime mais universal; talvez que isto tenha a ver com o facto de ter uma força simbólica inegável, muito próxima dos arquétipos da família natural. Tem um defeito incontornável: o filho do rei pode ser a pessoa que menos mereça herdar o poder.
Por tudo isto, em Maranatha não vamos seguir nenhum destes regimes de pacote, por mais bajuladores que sejam os nomes. Vamos ter a coragem de seguir o modelo que nos parecer mais verdadeiro e justo, sem preocupações de originalidade ou imitação.
" - Mário Cabral in Diário Insular

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