sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Maranatha (29)


IV. ECONOMIA

3. NEGÓCIOS DE FAMÍLIA

"Natural é o trabalho reflectir o valor moral de quem o faz. Também se chamava “artes” aos “ofícios”, quando estes atingiam a perfeição da excelência. De um carpinteiro que fizesse móveis onde projectasse o gosto compenetrado com a ocupação dos seus dias, dizia-se: «É um artista».
Não queria ficar rico a todo o custo. Sustentava a família e desejava, isto sim, ter um filho que herdasse o seu jeito e a sua seriedade. A carteira de clientes, todos conhecidos pelo nome, família e freguesia de origem, passava de geração em geração.
Quando as coisas são assim, o trabalho não é uma alienação. A oficina do sapateiro é ponto de encontro, no barbeiro discute-se as notícias e na costureira apertam-se os laços comunitários. O que não se faz hoje faz-se amanhã, que o patrão é o próprio empregado, ou então o pai, avô, tio ou padrinho. Perdoa-se um atraso a um neto, dá-se uma folga ao filho da irmã, não se despede um afilhado que acabou de casar.
Raramente alguém é aldrabado: o dono não vai gastar em toleimas de função pública, porque o dinheiro é seu e custa a ganhar; o filho não vai roubar o pai, antes esforçar-se-á para atingir a sua mestria, pois vê o respeito que todos lhe têm; e só uma pessoa que não presta engana um freguês antigo.
Estas são as qualidades das pequenas empresas familiares que voltarão a ser defendidas em Maranatha. O Estado estará muito atento às multinacionais e às sociedades anónimas, obcecadas com o lucro e com tendência a escravizar a pessoa humana.
Não haverá empresas públicas com objectivos políticos descarados. Aliás, o maior inimigo do trabalho em Maranatha serão os políticos “Maria-vai-com-as-outras”, estrangeirados que não sabem o luxo que herdaram.
" - Mário Cabral in Diário Insular

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