domingo, 22 de agosto de 2010

Maranatha (24)


III. PODER

8. O PORTA-ESTANDARTE

"A maior tragédia da Europa actual reside na completa ausência de homens com visão. A América tentou apostar num herdeiro do «I Have a Dream», que ainda não convenceu.
Ter visão é mirar um horizonte largo, palpitar com uma convicção profunda, estar entusiasmado, consumir-se em fogo vivo e atear este fogo no coração e na alma de todos os homens; apontar para a frente, para o Além da Perfeição.
Em Maranatha, o Senado escolherá os governantes com base neste traço de carácter. Não interessa se é nobre ou plebeu, doutor ou pescador, rico ou pobre, branco ou preto – o Espírito sopra onde quer e como quer.
Mas deixa rasto: estes homens de génio têm olhos de vidro e uma dança dos gestos… é toda uma questão física, intuitiva.
Cheira-se um porta-estandarte.
Eles incarnam a alma dos antepassados e enchem-se de zelo pela pátria e pelo povo. Podem não ser bons em contas e mostrarem defeitos de personalidade evidentes (serem irascíveis, por exemplo); não interessa, não estão sozinhos, têm uma plêiade de anciãos sensatos com os pés no chão e com imenso poder real.
Eles têm as asas e o sangue a ferver.
Diz-se que procuramos todos a felicidade. Interessa saber a qual delas nos referimos. Aristóteles apontou quatro: o prazer, o dinheiro, a fama e a contemplação. Só a última realiza por completo o infinito potencial humano. É por isso que “se cheira” quem tem visão: vemos nos olhos dele o Paraíso Perdido.
Compreende-se porque é que o prazer, o dinheiro e a fama não garantem uma felicidade perfeita, tal como também se entende porque é que a maioria anda atrás dum ou doutro destes bens. Em Maranatha não será proibido almejá-los, dentro dos limites do direito natural.
Mas não terão poder político.
" - Mário Cabral in Diário Insular

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