quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Maranatha (6)

I. INTRODUÇÃO

6. DE QUEM É QUE TU ÉS?
"Facto é que estamos juntos. Não é obrigatório estarmos juntos, quem quiser poderá partir para uma ilha deserta. Daqui conclui-se que não está certo uma pessoa viver em comunidade e pensar e agir movida pelo interesse individual.
Em Maranatha, o Bem Comum sobrepõe-se ao proveito próprio. “Bem Comum” não é o mesmo que “bem geral”; este último (defendido por Rousseau e outros) é a soma dos interesses particulares.
É óbvio que o bem geral pode estar contra o direito natural e, por conseguinte, contra a própria pessoa humana. Exemplifiquemos com «Antígona»: Creonte representa o bem geral e Antígona – muitas vezes erradamente apresentada como defendendo os interesses individuais contra o Estado – está é a defender o “Bem Comum”, o direito natural contra o direito positivo.
Logo, devem ser evitados dois excessos: um, actualíssimo na pós-modernidade, o do elogio do individualismo; outro, perversamente ligado a este, o da diluição da pessoa humana no magma das grandes metrópoles sem rostos. As pequenas comunidades são o lugar certo para a realização do humano.
Antigamente, as tias das freguesias faziam a seguinte pergunta: «Ah, pequeno, de quem é que tu és?». Pressupunham que ninguém vive por/para si, que há uma rede de relações que ampara a pessoa de se tornar anónima e, portanto, vulnerável. Um “Zé-ninguém” não tem status não por não ser rico, mas por não estar vinculado a outrem.
A Psicologia distingue “vinculação” de “imprinting”. Ligamo-nos afectivamente aos outros logo nos primeiros meses de vida, e não por interesse; até os chimpanzés procuram o amor em vez da subsistência.
Segue-se que uma pessoa sente a dor dos seus próximos como se fora sua.
O sacrifício é a maior virtude.
" - Mário Cabral in Diário Insular

Sem comentários:

Enviar um comentário