II. FUNDAMENTOS
4. IRMÃOS
"Muito antes de sabermos que somos e quem somos já somos no mundo físico e mental da nossa família; e continuamos a ser, depois de mortos. Ninguém é só de si.
Começamos a ser dentro do corpo da nossa mãe. Somos, então, um corpo dentro doutro corpo. Alteramos a natureza dela para sempre. A partir deste facto, o nosso pai deixa de ser um homem qualquer.
A família é, com efeito, sagrada, pois todos os elementos se transcendem nela, encontrada a essência de cada um no outro. A vontade livre que junta os noivos casa com o sangue, nos filhos.
Se não houver nenhum impedimento, os irmãos são muitos. Os casais sentem, no seu íntimo, este apelo profundo, tamanho é o júbilo. Combater tal desejo contraria a felicidade.
Os irmãos descobrem-se no mesmo patamar ontológico por duas vezes: distintos, têm a mesma raiz; mas, se aos pais devem obediência, aos irmãos tratam por “tu”.
Daqui surge a fatídica confusão entre “fraternidade” e “igualdade”, de consequências políticas fundamentais.
A fraternidade é um sentimento de comunhão real; cresce no coração e amacia o egoísmo, trocado pelo DEVER. Meu irmão nunca é completamente diferente de mim.
A igualdade é um princípio matemático sem realidade concreta, pois meu irmão nunca é completamente igual a mim. Aumenta o egoísmo. Exige DIREITOS.
Todas as sociedades felizes alimentam o ideal de fraternidade. Os melhores dentre nós conseguem estendê-lo sobre todo o Universo, em famílias metonímicas.
Todas as sociedades que insistem na equidade terminam em tragédia; Caim tem matado muitas vezes Abel.
Maranatha é uma sociedade conservadora, obstinada com o dever fraternal. Depois da Revolução Francesa, todos os sistemas políticos optam pelo invejoso Caim." - Mário Cabral in Diário Insular
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